O céu ficou vermelho-sangue em algumas regiões do sudeste australiano por causa dos efeitos do vento nos incêndios na Austrália, mostram as fotografias recolhidas no local. O fumo do incêndio em Snowy Valley foi desviado para o interior das cidades. Em Penrith, oeste de Sidney, foram registadas temperaturas de 48,9ºC, o que pode ter feito da cidade o local mais quente do planeta. Noutras regiões, os termómetros alcançaram os 40ºC.

Algumas dessas regiões foram evacuadas pelas autoridades, que levaram a população de barco para zonas de acolhimento. No entanto, em pontos mais críticos, os bombeiros apenas deixam entrar nesses barcos as crianças em idade escolar, o que está a dividir as famílias em Mallacota, Victoria.

Já este sábado, dia em que as temperaturas ultrapassaram os 40 graus em alguns pontos do país, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, anunciou a mobilização de 3 mil militares na reserva para o combate aos fogos, uma medida inédita na história do país, segundo a ministra da Defesa daquele país, Linda Reynolds.

Fogos são tão grandes que criaram o próprio sistema meteorológico

Neste momento há cerca de 140 incêndios ativos na Austrália, que estão a consumir uma área florestal maior do que a área da Dinamarca. O fogo é tão grande que, segundo o instituto meteorológico de Victoria e os bombeiros do país, já deu origem a um sistema meteorológico próprio que se expande até 287 quilómetros de Sidney. As nuvens podem elevar-se acima dos 16 quilómetros de altitude em Gippsland.

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Quando o fumo dos incêndios sobe pela atmosfera, ele arrefece e cria nuvens do tipo “cumulonimbus flammagenitus” — que apenas se formam por cima de grandes fontes de calor. Essas nuvens, quando arrefecem, podem provocar precipitação associada a um downburst — uma espécie de corrente gigantesca de ar que sopra em altitude em direção ao solo —, mas também dá origem a trovoada que piora os incêndios ativos e provocar novos fogos.

Foi o que aconteceu em Nowra, disse o Serviço de Incêndios de Nova Gales do Sul: “Uma tempestade gerada pelo fogo formou-se sobre o incêndio de Currowan, na fronteira norte do incêndio, perto de Nowra. Esta é uma situação muito perigosa”, alertaram este sábado as autoridades. Aliás, a morte de um dos bombeiros que combatia as chamas na Austrália foi precisamente provocada pelo colapso de uma dessas nuvens, que se transformou num tornado de fogo que atingiu o carro em que seguia.

EMERGENCY WARNING – Currowan (Shoalhaven LGA)A fire generated thunderstorm (pyro-cumulonimbus) has formed over the…

Posted by Fire and Rescue NSW on Friday, January 3, 2020

Número de mortes sobe para 23 na Austrália

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, anunciou na noite de sexta-feira ter convocado três mil militares na reserva para reforçar o combate aos incêndios que estão a devastar o país, que se prepara para um dia “extremamente difícil”, este sábado, com temperaturas altas e aos ventos fortes previstos. Entretanto, o comissário Shane Fizsimmons advertiu que a situação dos incêndios pode piorar nas próximas horas por causa das “condições voláteis”.

Scott Morrison, que adiou as visitas programadas à Índia e ao Japão no final deste mês, indicou também que mais duas pessoas morreram na sequência dos incêndios, elevando para 23 o número de mortos desde setembro. As mortes ocorreram na ilha Kangaroo, a 112 quilómetros de Adelaide, no estado da Austrália do Sul, onde arderam 100 mil hectares, a maioria no Flinders Chase National Park, onde vivem cerca de 60 mil cangurus e 50 mil coalas.

Austrália. Chamas devoram território maior do que a Dinamarca

Num balanço aos jornalistas, Shane Fizsimmons afirmou que o incêndio de 264 mil hectares em Green Wattle Creek, um parque nacional a oeste de Sidney, tem potencial de ameaçar os subúrbios do oeste da cidade. O mesmo responsável apelou aos moradores e turistas na trajetória dos fogos que se desloquem imediatamente para locais seguros.

Em conferência de imprensa, também a chefe de governo de Nova Gales do Sul, Gladys Berejiklian, advertiu que o estado enfrenta este sábado “mais um dia terrível” e pediu às pessoas que se encontram em áreas ameaçadas que se desloquem o mais rápido possível. Ainda assim, prometeu que as autoridades nunca estiveram “tão preparadas” para enfrentar os fogos.

Austrália. O que está a causar estes fogos? É uma situação inédita? Pode piorar?

Já o comissário adjunto do serviço de combate a incêndios rurais de Nova Gales do Sul, Rob Rogers, avisou que os incêndios poderão evoluir neste sábado “com uma rapidez assustadora”. “Infelizmente, é muito provável que percamos casas, mas ficaremos muito felizes se não houver perda de vidas”, disse.

Pelo menos metade dos incêndios estão ainda por controlar. No estado de Vitória, onde milhares de pessoas já fugiram das áreas ameaçadas, um total de 48 incêndios arderam em quase 320 mil hectares, esperando-se que as condições piorem devido à mudança de vento. O início precoce e devastador dos incêndios florestais na Austrália já queimou cerca de cinco milhões de hectares e destruiu mais de 1.400 casas.