(Em atualização)

Centenas de carros da Uber buzinaram esta segunda-feira sem parar em frente ao green hub da empresa, em Lisboa, nas Amoreiras, para mostrar o seu descontentamento com a recente redução dos preços decidida pela plataforma eletrónica.

Ao buzinarem e mostrarem os seus dísticos de TVDE (transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica) os motoristas que aderiram a este protesto contra a redução das tarifas tentavam “ser ouvidos” pelos responsáveis em Portugal.

Com a anunciada redução de preços, os motoristas com quem a agência Lusa falou no local queixam-se que será reduzida a margem de lucro, considerando que não se pode “estar a trabalhar para aquecer”.

Motoristas da Uber fazem greve contra descida de preços. Este fim de semana vão desligar a aplicação

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“Aquilo que está a acontecer vai contra a própria lei 45 que diz que não se pode fazer viagens abaixo do preço de custo”, disse à Lusa Marcos Pais, adiantando tratar-se já da terceira redução de preços. Os motoristas da Uber receberam na semana passada uma mensagem que dizia: “Novos preços, maior rentabilidade.”

“Aquilo que parecia ser uma boa notícia veio, no entanto, a confirmar-se que não era nada de bom”, disse Maria Gomes. “Em três anos e meio as coisas mudaram bastante. Ao início dava, mas o modelo de negócio criado não dá para individuais”, acrescentou.

Vários grupos de motoristas da Uber convocaram pelas redes sociais e aplicações eletrónicas de mensagens, nomeadamente o WhatsApp, uma ação de protesto no fim de semana e para esta segunda-feira contra a redução dos preços pela plataforma eletrónica.

Uma marcha que partiu com atraso mas que avançou “sem medos”

O protesto dos motoristas da Uber começou com uma concentração, por volta das 10h00, no jardim fronteiro ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, de onde saíram hora e meia depois para iniciarem uma marcha de protesto.

A partida atrasou porque não houve autorização para fazerem a manifestação por parte da polícia, que inicialmente, iria fazer escolta aos carros.

Em Belém, os ânimos ficaram divididos quando um dos motoristas subiu ao banco de pedra e alertou os colegas que a polícia, ao contrário do inicialmente previsto, já não os iria escoltar e que poderiam ser identificados caso continuassem com o protesto.

Uns diziam para se “avançar sem medos” de forma a marcaram uma posição, enquanto outros apelavam ao bom senso e pediam para que as coisas corressem com “normalidade e respeito”.

“Fazemos uma marcha lenta silenciosa”, “vamos ficar online, respondemos a pedidos, mas não os fazemos” ou “os clientes não têm culpa e não podem ser prejudicados”, foram algumas das frases proferidas entre os motoristas.

Apesar de não comandar o protesto, a polícia esteve presente em todo o trajeto: Avenida 24 de Julho, Avenida D. Carlos I, não permitindo a passagem à frente da Assembleia da República, mas orientando o trânsito para a Calçada da Estrela e voltando a não deixar os carros passarem para a rua da Imprensa à Estrela, onde se situa a residência oficial do primeiro-ministro.

Entre os atropelos, criticaram os preços das tarifas praticadas, estabelecidos pelas plataformas eletrónicas, que “alteram os valores (sempre baixando os preços) sem preocupação com a remuneração de cada parceiro/motorista”, tornando “insuportável os valores inerentes” à atividade.

Para o motorista Marcos Pais, a solução dos problemas passaria por uma alteração na lei e “fixar um valor certo por viagem”, de forma a “não haver a possibilidade de as empresas fazerem dumping (preços abaixo de custo de produção)”.

“Trata-se de uma guerra que não tem fim, é uma exploração completa”, reconheceu Marcos Pais.

Entre as várias questões apresentadas, a maioria dos motoristas queixa-se também do valor dos seguros automóveis, que rondam os 2.000 a 2.500 euros anuais, excluindo algumas cláusulas, nomeadamente a do veículo de substituição.

Atualmente os custos e ganhos não equilibram. A plataforma dá-me segurança no meu trabalho”, contou Maria Gomes, reconhecendo que atualmente se sente a trabalhar “à força”.

“Resmungamos muito, connosco e depois com os clientes, e ficamos iguais aos outros”, admitiu, lembrando que não é isso que deseja que continue a acontecer e reconhecendo que tem colegas que não podem “sequer pensar em desistir devido ao investimento que fizeram”.

Este protesto foi organizado através das redes sociais, nomeadamente no WhatsApp, depois de os motoristas terem recebido, no final da semana passada, uma mensagem por parte da plataforma eletrónica que dizia: “Novos preços, maior rentabilidade”.

Segundo um motorista no Porto contactado pela Lusa, essa redução de preços vai diminuir a margem de lucro por viagem dos motoristas para níveis insustentáveis.

Num flyer a apelar à greve divulgado na internet, com a ‘hashtag’ ‘#uberoff’, os motoristas e parceiros da Uber dizem estar “cheios de cortes e de tarifas cada vez menores, enquanto as despesas aumentam cada dia”. Está ainda a decorrer uma petição pública ‘online’, na plataforma online petição pública. Às 12h15 desta segunda-feira tinha sido subscrita por 1.930 pessoas.

Os signatários pedem a intervenção do Presidente da República, do Governo, dos deputados e dos partidos com assento parlamentar contra os “constantes atropelos” à lei para o setor da atividade de TVDE (transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica).

Entre os atropelos, criticam os preços das tarifas praticadas, estabelecidas pelas plataformas eletrónicas que “alteram os valores (sempre baixando os preços) sem preocupação com a remuneração de cada parceiro/motorista”, tornando “insuportável os valores inerentes” à atividade.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da Uber afirmou que “os motoristas podem escolher livremente estar ligados à aplicação, sendo que a Uber não impõe qualquer limitação nesse aspeto”, competindo-lhe “oferecer o melhor valor possível tanto a motoristas como utilizadores”, para poder “continuar a contar com a preferência de ambos”.

Uber diz que quer ” proporcionar oportunidades económicas fiáveis” a motoristas

Questionada pelo Observador relativamente a esta manifestação fonte oficial da Uber afirmou: “Os motoristas estão no centro da nossa atividade todos os dias. Estamos sempre em contacto com eles e a fazer tudo para que a Uber lhes continue a proporcionar oportunidades económicas fiáveis”. Sobre a possibilidade de alterar a comissão de 25% das viagens aos motoristas, a empresa não prestou comentários.