Várias marchas de homenagem ao estudante cabo-verdiano que morreu a 31 de dezembro foram convocadas para sábado nas redes sociais por estudantes cabo-verdianos em Portugal, uma das quais marcada para Bragança e à qual se associa o Instituto Politécnico local. Lisboa, Porto e Coimbra são outras capitais de distrito para as quais estão programadas marchas e vigílias de homenagem a Luís Giovani.

O presidente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Orlando Rodrigues, informou esta segunda-feira que a instituição vai associar-se no sábado à marcha de solidariedade pelo estudante cabo-verdiano morto para mostrar que esta é “uma região de paz e segurança”.

O responsável entende que foi “um ato isolado e tresloucado” a agressão que levou à morte do jovem, de 21 anos, Luís Giovani Rodrigues, que tinha chegado há pouco tempo à região para estudar na escola de Mirandela do Instituto Politécnico de Bragança.

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O presidente afirmou à Lusa que toda a direção do IPB estará presente na marcha de Bragança e o próprio só não estará se a data coincidir com o funeral do jovem em Cabo Verde, onde pretende deslocar-se para acompanhar as cerimónias.

O corpo do estudante cabo-verdiano ainda está em Portugal à espera de ser trasladado, o que deverá acontecer até ao final da semana.

A marcha de homenagem sairá pelas 15h de sábado do campus do politécnico com trajeto pela Praça da Sé até à Catedral, onde será celebrada missa pelo bispo de Bragança-Miranda, José Cordeiro.

O estudante cabo-verdiano foi encontrado ferido numa rua de Bragança na madrugada de 21 de dezembro e morreu 10 dias depois, num hospital do Porto.

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“Isto foi um ato isolado, tresloucado. Os nossos valores não são os da violência, não são os valores da nossa cidade, da nossa região, não é aquilo em que acreditamos”, afirmou o presidente do IPB. Embora os pormenores do que se passou ainda não sejam conhecidos, “nada justifica” o que aconteceu e “é inegável que resultou de uma rixa no ambiente noturno”.

O politécnico tomou conhecimento da situação depois da morte do aluno e emitiu uma nota de pesar, nomeadamente nas páginas oficiais nas redes sociais. A preocupação agora da instituição “é com a família, confortar a dor de um pai, uma mãe, uma família que perde um filho”, como sublinhou.

Outra preocupação do presidente do IPB “é fazer passar a mensagem de que este não é o contexto da instituição e da região” e que levará à marcha de sábado em Bragança, à qual Orlando Rodrigues “gostaria que a cidade se associasse”.

Para demonstrar que é uma região de paz e de segurança e que prezamos o valor da sã convivência, do respeito pelos outros, e garantir que a nossa instituição e a região não ficam associados a eventos de uma sociedade intolerante”, declarou.

O IPB decretou luto académico até à realização do funeral de Luís Giovani dos Santos Rodrigues, do curso de Design de Jogos Digitais, natural da ilha do Fogo, em Cabo Verde.

Já esta segunda-feira, o diretor da Escola Superior de Comunicação Administração e Turismo (EsACT) de Mirandela, onde o estudante foi admitido, enviou uma nota à comunidade académica a lamentar “profundamente” o sucedido e a repudiar “qualquer forma de violência, seja ela de que natureza for, qualquer que seja o seu contexto ou motivação”.

“Independentemente dos contornos que tenham sido suscitados, o desenlace não é aceitável, não é admissível, pelo que, enquanto academia, enquanto membros desta sociedade de tolerância em que acreditamos viver e para a qual queremos contribuir, na sua construção e solidificação, manifestamos toda a nossa confiança no cabal esclarecimento, pelas autoridades competentes, dos acontecimentos que levaram a este dramático e infeliz desenlace”, escreveu o diretor, Luís Pires.

O caso do estudante cabo-verdiano chegou às autoridades de Bragança como um possível alcoolizado caído na rua sem menção a agressões ou ferimentos, como contou à Lusa o segundo comandante dos bombeiros de Bragança, Carlos Martins.

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Só depois de chegar ao local e avaliar a vítima é que a equipa de emergência descobriu um ferimento na cabeça e “verificou que se tratava de um possível traumatismo craniano”, como indicou.

O jovem estava caído na Avenida Sá Carneiro, junto a uma loja (a W52), mais de meio quilómetro e alguns minutos a pé do bar Lagoa Azul onde terá estado com um grupo de amigos e onde terá começado uma desavença apontada como a origem da agressão.

O bar publicou nas redes sociais um esclarecimento a confirmar que na madrugada do dia 21 de dezembro, “por razões desconhecidas, dois clientes envolveram-se em confrontos no bar”.

“Nenhum dos envolvidos neste confronto era o Luís Giovani Rodrigues”, refere, lamentando a morte do jovem. Soube-se mais tarde que um dos envolvidos fazia parte do grupo com quem Giovani tinha saído.

Um primo da vítima contou ao jornal Contacto que a desavença terá começado por um dos amigos de Giovani ter tocado numa rapariga e o namorado não ter gostado. Segundo o mesmo, quando o grupo de Giovani saiu do bar era aguardado por vários elementos “com cintos, paus e ferros” que terão agredido o elemento envolvido na desavença com a rapariga. O mesmo relato indica que Luís Giovani terá intervindo para parar a contenda e foi atingido com “uma paulada na cabeça”, o que terá feito o grupo dispersar.

O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária que ainda não revelou se há suspeitos, mas que aponta para “um motivo fútil” na origem do caso e afasta a tese de ódio racial, segundo avança esta segunda-feira o jornal Público. O diário indica também que “a autópsia foi inconclusiva, não esclarecendo se a morte foi provocada pela agressão ou pela queda” na rua, onde o jovem foi encontrado inanimado.