Os 11 livros que pertenceram à biblioteca particular de Fernando Pessoa adquiridos pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) no ano passado custaram cerca de 11 mil euros, adiantou a autarquia ao Observador. Além destes exemplares, a CML comprou ainda um conjunto de sete negativos de fotografias do poeta, por 410 euros. As aquisições aconteceram durante dois leilões organizados pela José F. Vicente Leilões, a 19 de junho e 5 de dezembro, e através do site BestNet.

No primeiro leilão, a CML comprou sete exemplares, como já tinha sido noticiado pelo Observador, entre os quais Bacon vs. Shakespeare, de Edwin A.M. Reed, e uma importante cópia da Athena. Revista de Arte, com anotações e correções a lápis feitas por Pessoa fundamentais para o estudo da obra de Ricardo Reis, heterónimo apresentado no primeiro número desta revista. Este foi o exemplar que mais dinheiro custou à autarquia da capital — 2.760 euros, já com a comissão do leiloeiro, revelou agora a Câmara de Lisboa –, seguido de An Introduction to the Study of the Kabalah, de William Wynn Westcott, adquirido por 1.610 euros.

A 5 de dezembro, a CML adquiriu dois outros volumes, Political Theories of the Middle Age, de Otto Gierke, e Les chansons des rues et des bois, de Victor Hugo. O primeiro tem a assinatura do poeta na folha de guarda e o segundo uma dedicatória para a mãe, datada de 30 de dezembro de 1911. Do conjunto de livros adquiridos neste leilão da José F. Vicente Leilões, o volume da coleção completa das obras de Hugo foi o mais caro, tendo custado à CML 805,042 euros, valor que inclui a comissão do leiloeiro.

Autarquia gastou ao todo 11.546,18 euros na aquisição de espólio pessoano

A Câmara Municipal de Lisboa comprou ainda em 2019, através do site de leilões BestNet, os volumes George B. Shaw, de Gilbert K. Chesterton, e Por Tierras de Portugal y España, de Miguel de Unamuno, a 7 de setembro e 10 de outubro, respetivamente. O valor final de arrematação do primeiro foi de 640 euros e do segundo de 810 euros. Além destes, a CML comprou, a 7 de setembro, um conjunto de sete negativos de fotografias de Pessoa que estava à venda no mesmo site, por 410 euros (valor final de arrematação). Ao todo, a autarquia gastou 11.546,18 euros na aquisição de espólio pessoano.

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Todas as obras adquiridas “possuíam assinatura de posse de Fernando Pessoa, ou sublinhados e anotações pela mão do poeta”, frisou a CML, sendo por isso considerados de interesse nacional. A singularidade da obra deixada por Pessoa, maioritariamente por publicar e distribuída por diferentes suportes, atribui ao seu espólio documental “um valor cultural único”. “Não se tratando de materiais acabados ou definitivamente fixados pelo autor, o espólio constitui uma matriz aberta a diferentes leituras que nem o mais laborioso conjunto de investigações poderá fechar”, refere o decreto que procedeu à classificação do espólio como tesouro nacional, em 2009.

Neste explica-se que o espólio é “compreendido como a universalidade de facto composta por todos os documentos produzidos ou reunidos por Fernando Pessoa, seja na forma de manuscritos autógrafos, isolados ou integrados em documentos de terceiros, assinados ou não, de datiloscritos ou tiposcritos, com ou sem intervenção autógrafa, assinados ou não, bem como todos os documentos biográficos de Fernando Pessoa ou que registem as suas técnicas e hábitos, assinados ou não, seja qual for o acabamento do texto ou textos neles contidos, e os documentos impressos que se reconheça terem pertencido à sua biblioteca e ostentem marcas autógrafas de utilização”.

EGEAC comprou três livros por mais de dois mil euros

Nos dois leilões organizados pela José F. Vicente, foram ainda adquiridos três exemplares que faziam parte da biblioteca particular do poeta pela EGEAC, a empresa municipal que tutela a Casa Fernando Pessoa. Os dois primeiros, comprados a 19 de junho, foram Eduardo Malta, de Ricardo Espírito Santo Silva, e Orpheu. Afina a Lira. O terceiro livro, colocado à venda em dezembro, foi Rosa de Papel. Mysterio n’um cantigo. Poêma Dramático em prosa e verso, do poeta Augusto Santa-Rita, irmão mais velho de Santa-Rita Pintor e um interveniente muito mais discreto no modernismo português.

A obra mais cara foi Orpheu. Afina a Lira, um folheto raro de sátira à revista Orpheu. Custou à EGEAC 1.840 euros, que ao todo gastou 2.616,25 euros na compra de livros que pertenceram a Pessoa, revelou a autarquia.

Tanto os exemplares comprados pela CML como pela EGEAC vão integrar a coleção da Casa Fernando Pessoa, que tem na sua posse a maioria dos livros que pertenceram à biblioteca particular do poeta. O Observador questionou a Câmara de Lisboa sobre o destino dos sete negativos, mas não foi possível obter uma resposta até à data da publicação deste artigo.

Artigo atualizado às 14h40 com correção das tabelas