É mais uma ideia extravagante de Elon Musk, desta vez por motivos de segurança e para conquistar a confiança da agência espacial norte-americana. A SpaceX vai lançar um foguetão Falcon 9 do Complexo 39A do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, e fazê-lo explodir em pleno voo. O teste servirá para saber se os sistemas de segurança da nave funcionam e se, em caso de catástrofe, os astronautas a bordo conseguiriam sobreviver à explosão.
A experiência vai decorrer este sábado quando forem 13h em Portugal Continental, menos cinco horas em Merritt Island, na mesma base de lançamentos que, em 1969, assistiu à partida do foguetão Saturn V com os astronautas da missão Apollo a bordo. O momento será transmitido em direto num livestream da NASA e que já está disponível. Esta transmissão será acompanhada por especialistas do Programa de Tripulação Comercial da agência espacial norte-americana.
Eis como tudo vai acontecer: quando forem mais ou menos 13h no sábado — o teste pode ser atrasado até quatro horas caso as condições meteorológicas a isso obriguem —, o foguetão Falcon 9 será lançado com a cápsula Crew Dragon, desenhada para transportar astronautas, no topo. Desta vez, a Crew Dragon estará vazia porque 90 segundos depois de ser lançada, quando estiver a uma velocidade de 1.609 quilómetros por hora, vai explodir propositadamente a 31 quilómetros do local de lançamento.
Essa explosão será monumental porque a SpaceX tenciona queimar todo o combustível que estiver a bordo do foguetão antes de cair no mar. Se tudo correr como esperado, o sistema de fuga da Crew Dragon vai ejetar a cápsula e separá-la do foguetão destruído. Os destroços do Falcon 9 vão cair no Oceano Atlântico, mas a cápsula continuará a subir até à estratosfera até começar a ceder à força gravítica da Terra. A certa altura começará a cair em direção ao chão e terminará a viagem num pouso no mar suavizado pelos paraquedas. Entretanto, a NASA publicou no Twitter uma animação do que acontecerá na Flórida este sábado.
.@SpaceX's uncrewed in-flight abort test is targeted for 8am ET on Jan. 18. This test will show that the #CrewDragon can protect astronauts even in the unlikely event of an emergency during launch.
— NASA Commercial Crew (@Commercial_Crew) January 15, 2020
Currently, weather is 90% GO for the demonstration. https://t.co/PgHZol6PQA pic.twitter.com/kWCq7IHiq1
A SpaceX está a fazer figas para que tudo corra exatamente como ilustrado nestas imagens. Se este teste for superado com sucesso, isso dará à NASA um sinal sólido de que a companhia privada está pronta para começar a fazer viagens tripuladas até à Estação Espacial Internacional. E isso também é do interesse da agência norte-americana, que neste momento depende da agência russa, a Roscosmos, para enviar astronautas para o espaço a bordo do foguetão Soyuz.
Apesar da urgência que tanto a SpaceX como a NASA têm para que o Falcon 9 e a cápsula Crew Dragon fiquem operacionais, a agência espacial norte-americana não está disposta a correr riscos. A experiência que a empresa de Elon Musk vai conduzir no sábado é semelhante à que motivou a morte dos astronautas norte-americanos a bordo do vaivém espacial Columbia em 2003 ou do Challenger em 1986. Ainda no ano passado, a Roscosmos também teve de ejetar a cápsula com os tripulantes a bordo porque os propulsores do Soyuz falharam. Os astronautas regressaram à Terra em segurança.
Entretanto, enquanto testa o material aeroespacial, a SpaceX já está a treinar a primeira dupla de astronautas contratados por ela. Bob Behnken e Doug Hurley não estarão a bordo do Falcon 9 este sábado, mas já começaram a fazer os exercícios que simulam a experiência da subida até ao espaço. De resto, se estivessem dentro da Crew Dragon no momento do acidente, os dois pilotos sentiriam forças gravíticas cinco a sete vezes superiores à exercida pela Terra em solo.