Mais de metade dos adolescentes portugueses querem ter os mesmos empregos e, a nível internacional, muitos jovens escolhem carreiras que exigem qualificações académicas mas para as quais não pretendem estudar.

O maior inquérito que avalia o desempenho escolar a nível mundial, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da OCDE, divulgou esta quarta-feira um estudo sobre “Empregos de Sonho: As aspirações de carreira e o futuro do trabalho entre os adolescentes”, tendo por base as respostas de meio milhão de jovens, entre os quais os portugueses.

O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) compara dados de 2018 com informações recolhidas no virar do século e revela que a concentração nas mesmas profissões tem vindo a aumentar.

Em 18 anos, mais raparigas e rapazes escolheram as mesmas opções. No final, a lista resume-se a apenas 10 áreas para a maioria das raparigas (53%) e para 47% dos rapazes, segundo dados médios dos 41 países que participaram nos inquéritos de 2000 e 2018.

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Em Portugal, as taxas são ainda mais elevadas: 58% dos rapazes optam pelas mesmas áreas assim como 54% das raparigas.

Tendo em conta as respostas dadas nos 41 países, elas querem seguir uma profissão na área da saúde (15,6%), ensino ou gestão de empresas, enquanto eles se focam mais nas áreas das ciências e engenharia. No top aparecem os empregos associados a engenharias (7,7%), seguindo-se gestão de empresas e a área da saúde.

O relatório alerta para os perigos desta concentração de empregos poder significar falta de conhecimento do mercado de trabalho e falta de orientação profissional.

Os jovens carenciados assim como os que têm piores resultados nos testes do PISA são apontados como os mais suscetíveis de escolher entre menos opções profissionais.

Outro dos resultados do inquérito é o facto de o emprego que os jovens sonham ter quando chegarem à vida adulta não ser compatível com as habilitações académicas dos adolescentes.

O relatório revela que um em cada cinco jovens escolhe uma profissão que não se adequa com os anos de escola que pretendem ter, um problema que volta a ser mais dramático entre os estudantes de meios socioeconómico desfavorecidos.

Ter um emprego acessível, bem pago e com futuro “parece estar a cativar a imaginação de cada vez menos jovens”. A agravar este cenário, o relatório revela ainda que cada vez mais procuram trabalhos em risco de desaparecer, uma característica mais visível entre os rapazes e os jovens de meios socioeconómico desfavorecidos.

Jovens que imaginam empregos de sonho ficam mais motivados para estudar

Os jovens que conseguem imaginar os seus empregos de sonhos e de vida acabam por ficar mais motivados para estudar, revela o mesmo estudo, reconhecendo que esses “sonhos e aspirações não dependem apenas do talento dos alunos”.

Mais uma vez o ambiente socioeconómico das famílias acaba por ter uma forte influência no futuro dos jovens mas o relatório aponta mais um fator: o sucesso dos adolescentes é também afetado pelo conhecimento aprofundado do mundo do trabalho. “Numa palavra, os estudantes não podem ser o que não podem ver”, sublinha o relatório.

O relatório recorda ainda outros estudos que revelaram que os jovens que conseguiram combinar um emprego a part-time com os estudos a tempo inteiro acabaram por te melhores resultados quando chegaram à vida adulta e entraram no mundo do trabalho.

O papel das escolas e dos Governos também são fundamentais nesta equação no momento de direcionar os jovens e prepará-los para o mercado de trabalho. Os estudantes que têm experiências de trabalho durante a adolescência assim como orientação profissional acabam por ter mais sucesso profissional porque mais dificilmente descobrem ter escolhido a profissão errada.

Em Portugal, são raros os jovens que não têm acesso a essa orientação profissional, que ocorre de forma sistemática nas escolas. É nas escolas com uma população estudantil composta maioritariamente por jovens de meios socioeconómico desfavorecidos que a taxa de participação nestes processos desce. Ali, só 85% das escolas oferece este serviço de apoio aos adolescentes, contra as quase 100% das escolas situadas em meios favorecidos.

No entanto, os resultados nacionais estão muito acima da média da OCDE, que se situa no intervalo entre os 60% e os 70% para as escolas desfavorecidas e favorecidas, respetivamente.

Um pouco por todo o mundo, os jovens que terminam os estudos têm mais formação do que os seus pais ou avós. No entanto, apesar de terem mais formação académica acabam por ter mais dificuldades no mercado de trabalho.

A existência de cada vez mais desempregados com formação superior e as dificuldades que os empregadores dizem ter em encontrar pessoas com a formação necessária revela que “mais educação nem sempre significa automaticamente melhores empregos e melhores vidas. Para muitos jovens, o sucesso académico provou ter um significado insignificante para garantir uma transição suave para um bom emprego”.

Com o mundo em rápida mudança, existem fortes razões para acreditar que a escola precisa de ter um olhar novo sobre como preparar os jovens para o mundo do trabalho.

O último PISA realizou-se em 2018 tendo contado com a participação de meio milhão de alunos de 15 anos de 79 países participantes. Para o estudo suplementar sobre as carreiras participaram alunos de 32 países, incluindo Portugal.