Menos de 24 horas depois depois de ter sido formalizado líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos deu prioridade à frente de combate político que menos tem sob o seu controle: o grupo parlamentar. Esta segunda-feira, o novo líder esteve na Assembleia da República para uma reunião com a líder da bancada do partido, Cecília Meirelles. Para já, em cima da mesa, esteve apenas a discussão da estratégia do partido em termos de Orçamento do Estado, que entrou esta semana numa etapa decisiva (esta segunda-feira terminou o prazo para a entrega de propostas de alteração dos partidos). “Concentrámo-nos no essencial, tivemos uma tarde muito produtiva e de concordância”, disse a deputada aos jornalistas esta segunda-feira no Parlamento.
Depois disso, “em conversas com o Grupo Parlamentar”, a questão da liderança será colocada. Ou seja, fica tudo para depois da votação final global do documento, agendada para a primeira semana de fevereiro. E é nessa altura que se deverão realizar eleições na bancada.

Ao que o Observador apurou, desde ontem que o novo líder iniciou contactos com outros deputados. O objetivo imediato é pacificar as relações num (pequeno) grupo de onde só esta segunda-feira foi consumada a saída de Assunção Cristas e onde continua João Almeida, o grande adversário de Rodrigues dos Santos no congresso deste fim-de-semana – para além de Telmo Correia e Ana Rita Bessa, dois apoiantes de Almeida.

Quanto à reunião entre o novo presidente do partido e a líder da bancada parlamentar, o espírito foi sobretudo de pragmatismo, isto é, há um assunto prioritário a tratar e foi disso que se tratou. “Primeiro há que tratar do país”, esclareceu a deputada em declarações ao Observador. A conversa passou assim por acertar posições sobre o que o partido iria anunciar horas depois em conferência de imprensa quanto a propostas de alteração do Orçamento do Estado. E já durante essa conferência de imprensa, a deputada confirmou que “a conversa correu da melhor forma, foi uma tarde de trabalho muito produtiva e absolutamente concordante do ponto de vista político”.

O problema é que o OE nunca foi um dos fatores que dividiram as várias correntes que estiveram em disputa durante o fim de semana em Aveiro. “Chicão” e Meireles não estavam do mesmo lado no congresso do CDS, em termos de projeto de liderança, o que não impediu o recém-eleito presidente do partido de ter dito, no discurso de apresentação da moção que levou a votos, que contava com Cecília Meireles à frente da bancada parlamentar e para representar a direção do partido na Assembleia da República, caso fosse eleito. Em resposta, a líder da bancada – eleita em outubro, já depois do desaire das legislativas – agradeceu as palavras, mas acrescentou: “Reitero as minhas de que o meu lugar de líder parlamentar estará sempre à disposição do partido”.

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Para além disso, nas últimas legislativas, Francisco Rodrigues dos Santos foi o número dois de Meireles na lista do distrito do Porto, e não conseguiu ser eleito. Isto quer dizer que o atual presidente do partido poderia ter assento no parlamento se a atual líder da bancada renunciasse ao mandato, algo que até agora Francisco Rodrigues dos Santos sempre desvalorizou. E Meireles confirma que essa não é uma questão que esteja em cima da mesa: “Acho que não está em cima da mesa, o presidente do partido deixou claro que o escritório seria nas ruas de Portugal, o assunto nem sequer foi abordado”, explicou durante a conferência de imprensa desta tarde. Mas virá a estar?

Eleições na bancada do CDS depois do OE

Certo é que Cecília Meireles, que já tinha assumido que este era um lugar de “transição” vai mesmo convocar eleições para a liderança da bancada parlamentar. Mas não agora. Agora é preciso fechar o dossier orçamento e só depois se avança para as questões internas. E quanto ao seu futuro? Ao Observador, Cecília Meireles admite que já sabe o que vai fazer, mas ainda não é tempo de revelar: “Já tenho uma decisão tomada, daqui a umas semanas haverá novidades sobre isso”. 

Uma mudança de liderança não faria sentido quando se está na fase de discussão na especialidade do OE 2020, e para além disso, continua Cecília Meireles, “é preciso que o novo presidente tenha todas as condições para começar o seu trabalho e tenha tempo para se inteirar de tudo aquilo que há para se inteirar”. Depois, lá para a segunda semana de fevereiro, logo se tomarão decisões definitivas.

O que não quer dizer que não haja já novidades. A partir desta terça-feira há uma estreia no grupo parlamentar. O líder da distrital do CDS-PP de Lisboa, João Gonçalves Pereira, entra no hemiciclo para o lugar que era da anterior líder do partido, Assunção Cristas. E há quem aposte que pode muito bem estar aqui a chave para a nova liderança do grupo parlamentar. Afinal, durante o congresso, Gonçalves Pereira, que também é vereador em Lisboa e que não assumiu apoio declarado a nenhum candidato, colocou alguns dos seus homens de confiança nas listas para o Conselho Nacional dos dois principais candidatos. Uma estratégia que alguns colegas de partido dizem poder vir a render-lhe frutos.