O piloto Paulo Gonçalves, que morreu vítima de uma queda no Rali Dakar, foi esta quarta-feira condecorado, a título póstumo, com o Colar de Honra ao Mérito Desportivo, a mais alta distinção que o Governo pode entregar no campo desportivo.
O anúncio da condecoração a título póstumo foi feito pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que tutela a pasta do Desporto, durante a 24.ª Gala do Desporto, da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), a decorrer no Casino Estoril.
“O Governo decidiu atribuir, a título póstumo, a mais alta distinção desportiva nacional, o Colar de Honra ao Mérito Desportivo”, declarou, enaltecendo os “extraordinários feitos” e “a marca de água de ética e de altruísmo” do malogrado motard de Esposende.
Gonçalves, de 40 anos, morreu em 12 de janeiro na sequência de uma queda na sétima de 12 etapas da 42.ª edição do Dakar, disputada na Arábia Saudita, naquela que era a sua 13.ª participação.
“Lesões graves na cabeça e cervical” provocadas pela queda a alta velocidade estiveram na origem da morte do piloto luso.
A paixão pelas motas do piloto de Esposende, dos principais embaixadores portugueses no motociclismo, graças, sobretudo, ao título mundial de ralis cross-country conquistado em 2013 e ao segundo lugar no Dakar2015, nasceu desde cedo, nas traseiras situadas junto da oficina do pai, com o seu talento a ser rapidamente reconhecido.
Foi no motocrosse e no supercrosse que conheceu os primeiros sucessos, com vários títulos nacionais conquistados. A rapidez valeu-lhe a alcunha de ‘Speedy’ Gonçalves, que haveria de se tornar a sua imagem de marca, à semelhança dos desenhos animados de ‘Speedy González’.
No início da década de 2000, acumulou o motocrosse com o enduro, onde conquistou quatro títulos na categoria e um absoluto, mas foi a vinda do Rali Dakar para Portugal, em 2006, que redefiniu o seu destino, com a passagem para as grandes maratonas de todo-o-terreno e o consequente salto para a ribalta.
Uma queda logo na primeira etapa em Marrocos danificou bastante a mota, passou grande parte da madrugada a tentar segurar as peças em cima da mota para conseguir chegar ao acampamento. “Vim com a mota presa por fitas plásticas e fita adesiva”, contaria mais tarde.
Nesses dois anos em que a prova passou por território português, os resultados não foram brilhantes (25.º e 23.º), mas o gosto pelas provas de todo-o-terreno ficou, e foi acumulando experiência até que deu o salto para o estrelato já na América do Sul. Conseguiu o primeiro sucesso na prova em 2011, vencendo uma especial antes de abandonar na oitava etapa.
A experiência acumulada começou a dar frutos e, em 2013, tornou-se no segundo piloto português a sagrar-se campeão mundial de ralis de cross-country, depois de Hélder Rodrigues o ter conseguido em 2011. Em 2015, conseguiu o seu melhor resultado no Dakar, ao terminar em segundo, com uma especial ganha, apenas atrás do espanhol Marc Coma.
Os anos seguintes não foram felizes em termos desportivos para o benfiquista assumido — chegou mesmo a ser patrocinado pelo clube, com direito a apresentação no Estádio da Luz aos adeptos encarnados -, contudo a edição de 2016 do Dakar havia de eternizá-lo na memória dos adeptos do rali.
Gonçalves parou mais de 10 minutos durante a sétima etapa do Dakar para ajudar o ‘motard’ austríaco Matthias Walkner, que tinha sofrido uma queda, e ficou com ele até à chegada de auxílio médico.
O gesto do português foi reconhecido pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), que nesse ano atribuiu o Prémio Ética no Desporto ao piloto, precisamente na Gala do CDP.
“Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. Fiz aquilo que me competia, ao contrário, acredito que fizessem o mesmo por mim”, escreveu, na altura, o piloto na sua página no Facebook.