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Sérgio, nome de aluno do quadro de honra quer o apelido seja Conceição ou Oliveira (a crónica do FC Porto-Benfica)

Este artigo tem mais de 4 anos

Sérgio Conceição voltou a mostrar que é aluno de vintes mas desta vez explicou que o truque está no nome: Sérgio Oliveira marcou e foi o melhor do FC Porto na vitória que relançou o Campeonato.

O médio português marcou pela terceira vez esta temporada
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O médio português marcou pela terceira vez esta temporada

Getty Images

O médio português marcou pela terceira vez esta temporada

Getty Images

No final de agosto, o FC Porto deslocou-se à Luz para vencer o Benfica e deixar claro, pelo menos naquela altura, que a corrida pelo título seria, tal como aconteceu na temporada passada, praticamente até ao fim do Campeonato. Zé Luís e Marega marcaram os golos mas o principal destaque foi para Sérgio Conceição, que soube olhar para as três exibições anteriores do Benfica, todas sofríveis, e preparar um FC Porto ainda em modo de arranque para aproveitar as fraquezas encarnadas. Passaram pouco mais de cinco meses: e muito mudou na antecâmara do segundo Clássico da época entre as duas equipas.

De agosto até agora, o Benfica conseguiu cavar uma distância de sete pontos para o FC Porto — muito graças aos deslizes dos dragões com o Belenenses SAD e o Sp. Braga –, Sérgio Conceição já colocou o lugar à disposição depois da derrota na final da Taça da Liga e os encarnados devolveram Raúl de Tomás a Espanha para se reforçarem com Weigl e Dyego Sousa. Todas estas condicionantes tornavam o jogo deste sábado, no Dragão, o verdadeiro jogo do título: e o principal motivo para isso acabava por ser o único pormenor que se repete em comparação com a partida de agosto.

Ficha de jogo

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FC Porto-Benfica, 3-2

20.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

FC Porto: Marchesín, Corona, Pepe (Mbemba, 69′), Marcano, Alex Telles, Sérgio Oliveira, Uribe, Otávio (Vítor Ferreira, 85′), Luis Díaz, Marega (Manafá, 81′), Soares

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Loum, Nakajima, Zé Luís

Treinador: Sérgio Conceição

Benfica: Vlachodimos, André Almeida (Dyego Sousa, 85′), Rúben Dias, Ferro, Grimaldo, Weigl (Samaris, 77′), Taarabt (Seferovic, 66′), Pizzi, Chiquinho, Rafa, Carlos Vinícius

Suplentes não utilizados: Zlobin, Tomás Tavares, Samaris, Florentino Luís, Cervi

Treinador: Bruno Lage

Golos: Sérgio Oliveira (10′), Carlos Vinícius (18′ e 50′), Alex Telles (gp, 38′), Rúben Dias (ag, 44′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Taarabt (27′), a Otávio (27′), a Weigl (30′), Ferro (37′), a Soares (38′), a Pizzi (45+4′), a Vlachodimos (64′), a Sérgio Oliveira (84′), a Marchesín (86′)

Tal como no início da temporada, uma derrota do Benfica não significaria o mesmo que uma derrota do FC Porto, assim como uma vitória do FC Porto não significaria o mesmo que uma vitória do Benfica. Os três pontos conquistados pelos encarnados, que alargariam a distância entre as duas equipas para os dez pontos no início de fevereiro, eram a confirmação praticamente oficial ainda que não matemática do bicampeonato do conjunto de Bruno Lage; já os três pontos para o Dragão, que encurtariam a clivagem do primeiro para o segundo para os quatro pontos, relançavam a corrida pela conquista do título. Mais do que isso, uma vitória significava para o Benfica outra validação da bom momento da equipa, da boa temporada da equipa, do bom panorama desportivo e institucional que se vive na Luz — assim como uma derrota significava para o FC Porto a assunção do mau momento da equipa, da razoável temporada da equipa e do instável panorama desportivo e institucional que se vive no Dragão.

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Sobre quem iria estar mesmo no relvado, um imprevisto acabou por dissipar a principal dúvida que existia sobre o onze que Bruno Lage iria apresentar. A indecisão estava no meio-campo, onde persistia a possibilidade de jogar ou Weigl com Gabriel ou Weigl com Taarabt: esta sexta-feira, o Benfica revelou que uma “patologia ocular” iria impedir o médio brasileiro de estar em campo, abrindo assim caminho à titularidade do marroquino, que nas últimas semanas tem sido alvo de elogios não só pela imprensa portuguesa como pela inglesa e a espanhola, rendidas às recentes exibições do jogador. O principal destaque, ainda assim, ia para Dyego Sousa, que se estreava nas convocatórias encarnadas, e ainda para Chiquinho, que era titular em detrimento de Cervi. Do outro, a grande novidade era a titularidade de Pepe, que voltava ao onze depois de se ter lesionado em Alvalade, e Sérgio Conceição apostava novamente na dupla Sérgio Oliveira/Uribe no meio-campo, com Luis Díaz de início em conjunto com Soares e Marega e com Corona na direita da defesa.

Se o treinador dos dragões não podia contar com o capitão Danilo, a verdade é que Bruno Lage optava por Chiquinho ao invés de Cervi, o que deixava algumas dúvidas iniciais não só em relação ao movimento ofensivo como também ao defensivo, já que o argentino tem sido fulcral no apoio ao setor mais recuado. As dobras de Cervi, além de compensarem as frequentes subidas de Grimaldo no corredor, têm servido também para oferecer respaldo a Ferro, que nos últimos jogos tem estado alguns níveis abaixo do normal. A falta de intensidade do central ficou visível logo num dos primeiros lances da partida, quando Uribe descobriu Pepe totalmente sozinho na grande área, com o internacional português a cabecear ao lado (7′).

O FC Porto arrancou melhor, com as linhas adiantadas e mais espaçadas, a assumir claramente os desígnios do jogo e a pressionar alto e individualmente na altura da perda de bola. Do outro lado, o Benfica apresentava-se atipicamente recuado, com os setores muito próximos uns dos outros e sem verticalidade, resguardado no próprio meio-campo. Bruno Lage, na linha técnica, ia pedindo à equipa que subisse, mas a verdade é que o FC Porto soube aproveitar o ascendente que tinha conquistado antes de que os encarnados demonstrassem alguma reação. Numa jogada individual brilhante de Otávio na direita, o médio brasileiro tirou Grimaldo da frente e cruzou para uma zona recuada da grande área de Vlachodimos: Luis Díaz tentou e falhou o pontapé de bicicleta mas Sérgio Oliveira apareceu logo ao lado a rematar de forma acrobática para abrir o marcador, com a bola ainda a bater no poste antes de entrar na baliza (10′).

O Benfica reagiu à desvantagem e alongou-se pela primeira vez no relvado, procurando Pizzi e Rafa nas alas mas também Chiquinho, que durante o quarto de hora inicial teve muitas dificuldades em recuar para ir procurar jogo e ligar os setores a Carlos Vinícius. Rafa esteve perto de empatar, na cara de Marchesín (15′), mas a verdade é que os encarnados iam mostrando muitas dificuldades na hora de entrar nas costas da linha defensiva adversária, procurando a profundidade com pouco critério ou acabando por perder a bola antes de investir. O empate, ainda assim, apareceu de forma algo fortuita: Rafa cruzou na direita, Chiquinho desviou ao primeiro poste e Carlos Vinícius apareceu na recarga depois de uma defesa incompleta de Marchesín, num lance onde não só o guarda-redes como também Pepe parecem não ter feito o suficiente para evitar o golo do avançado (18′).

Numa altura em que se esperava uma reação prolongada por parte do Benfica, alavancada não só pelo golo mas pela eventual desilusão do FC Porto de ter perdido a vantagem em menos de dez minutos, a equipa de Bruno Lage acabou por entregar novamente a iniciativa ao adversário, abdicando de atacar e de procurar o segundo golo no Dragão. Foi o FC Porto quem voltou a assumir as rédeas da partida, com Soares a ter uma oportunidade pouco depois do golo de Vinícius (21′), mas a vantagem dos dragões só foi reposta por intermédio de uma grande penalidade. Ferro tocou com a mão na bola depois de um livre batido por Sérgio Oliveira, os jogadores do FC Porto ficaram a pedir penálti, Artur Soares Dias consultou as imagens do VAR e assinalou grande penalidade para a equipa de Sérgio Conceição: na conversão, Alex Telles não deu hipótese a Vlachodimos (38′).

Até ao intervalo, o FC Porto tirou ligeiramente o pé do acelerador mas não permitiu grande espaço ao Benfica, que se mantinha com muitas dificuldades para chegar à baliza de Marchesín. Ainda antes do final da primeira parte, os dragões aumentaram a vantagem no marcador através de um autogolo de Rúben Dias depois de um cruzamento de Marega a partir da direita: novamente pela direita do ataque, novamente pela esquerda da defesa, onde Ferro voltava a ser insuficiente para parar os elementos mais adiantados do FC Porto (44′). Na ida para os balneários, o Benfica estava a perder no Dragão por dois golos de diferença, tinha um central (Ferro) e dois elementos do meio-campo (Weigl e Taarabt) com cartão amarelo e um problema para resolver no corredor esquerdo, onde Ferro não estava bem, Grimaldo deixava patente que é mais forte a atacar do que a defender e Cervi fazia muita falta.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do FC Porto-Benfica:]

No início da segunda parte, Bruno Lage surpreendia desde logo ao não fazer qualquer substituição mas alterava as posições de Chiquinho e Rafa, com o primeiro a passar para uma zona mais próxima do corredor e o segundo a ocupar espaços junto a Vinícius. O FC Porto regressou para o segundo tempo novamente por cima do jogo mas acabou por ser o Benfica, principalmente através dessa alteração tática promovida por Lage, a chegar ao golo. Com apenas cinco minutos da segunda parte cumpridos, Rúben Dias soltou uma bola longa para Rafa, que conseguiu enganar tanto Pepe como Corona e assistir Vinícius quase de costas para o avançado, que atirou rasteiro em zona frontal para a baliza dos dragões (50′).

Num jogo com muitos golos — desde 2012 que um Clássico não tinha tantos golos, na altura a contar para a Taça da Liga –, ficava patente não só a instabilidade defensiva do Benfica como a espécie de atitude all in do FC Porto. Se a equipa de Sérgio Conceição tinha entrado com tudo na partida, sem grandes reservas e com a clara intenção de ganhar e lutar pelo resultado, o Benfica parecia ter arrancado à espera de entender aquilo que poderia ser o jogo, sendo eventualmente traído pelos erros de Ferro, pela fragilidade de Grimaldo na hora de recuar e pela suscetibilidade encarnada às investidas dos dragões. Entre tudo isto, a verdade é que Sérgio Oliveira acabava por ser o grande destaque da partida, enquanto elemento em notório ascendente no meio-campo do FC Porto — além e apesar do bis de Carlos Vinícius. O jogador português, que começa cada vez mais a ser uma opção a ter em conta na convocatória da Seleção Nacional para o Euro 2020, é assumidamente um dos líderes da equipa a par dos capitães e crescentemente uma peça crucial no xadrez de Sérgio Conceição.

Bruno Lage foi o primeiro a mexer, ao tirar Taarabt para lançar Seferovic, e o jogo entrou numa fase algo partida e incaracterística, com aproximações espaçadas às duas balizas — ainda que sempre com algum ascendente do FC Porto — mas pouco critério e discernimento na hora decisiva. Samaris foi o segundo a entrar no Benfica, para a saída de Weigl, mas a verdade é que a saída de Taarabt acabou por tirar muita criatividade à construção encarnada, já que Rafa voltou a encostar à ala e Vinícius e Seferovic são pouco móveis na frente de ataque. Sérgio Conceição respondeu com as entradas de Mbemba para o lugar do (novamente) lesionado Pepe, de Manafá para a saída de Marega, com Corona a subir no relvado, e ainda Vítor Ferreira por Otávio. André Almeida, lesionado depois de um lance com Marcano, deu lugar ao estreante Dyego Sousa, que entrou para tentar ser decisivo numa fase em que o Benfica já optava por colocar bolas pelo ar na grande área do FC Porto.

Naquele que foi repetidamente apelidado de “jogo do título”, o Benfica deixou escapar a vitória que poderia tornar garantida a conquista da Primeira Liga, deixou escapar o empate que deixaria essa conquista quase certa e não soube evitar a derrota que relança a corrida pelo primeiro lugar do Campeonato. O FC Porto venceu o Benfica pela segunda vez esta temporada, depois de ter ido à Luz ganhar em agosto, e voltou a deixar claro que é talvez a única equipa da Liga que consegue, sabe e alcança parar este conjunto de Bruno Lage. O segredo, mais uma vez — e apesar de Cervi não ter jogado, apesar dos erros defensivos, apesar dos amarelos a Taarabt e Weigl –, passou pelo rascunho, pelo trabalho de casa e pelo estudo dos últimos jogos dos encarnados. O FC Porto não tem sido brilhante mas o Benfica tem mostrado muitas dificuldades na transição defensiva: algo que os dragões aproveitaram da melhor maneira. Sérgio Conceição voltou a mostrar que é aluno de quadro de honra mas desta vez deixou patente que o truque está no nome próprio, já que Sérgio Oliveira, o melhor dos dragões, foi instrumental na vitória que encurta a clivagem para o primeiro lugar para os quatro pontos.

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