Já foram AD (Aliança Democrática), ainda conseguiram o sucesso como PàF (Portugal à Frente), mas entretanto afastaram-se. Há uma semana PSD e CDS andaram às turras por causa da descida do IVA na eletricidade e — mesmo sem cantarem o Amigos para Siempre como Passos e Portas em 2015 — Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos aproveitaram a apresentação de cumprimentos da nova direção do CDS para forjar uma nova aliança para as autárquicas. A ordem de cima para as estruturas locais é agora clara: onde PSD e CDS quiserem ir juntos nas eleições locais, têm o apoio para isso dos respetivos presidentes.
Após uma hora e meia de reunião, Rui Rio contava que o encontro com Francisco Rodrigues dos Santos na sede do PSD, na São Caetano à Lapa, foi uma “conversa normal, solta, simpática, com pontos de vista comuns”. O presidente do PSD reconhece que existe alguma “convergência de opinião e de alinhamento entre CDS e PSD”, mas desvaloriza tratar-se de uma grande e nova empatia: “Não sei se estamos mais próximos, nunca estivemos distantes. Historicamente, todos nós sabemos, foi nosso parceiro em momentos difíceis.”
Os primeiros tempos destes protagonistas não tinham sido amistosos, “Chicão” criticou Rio em pleno congresso do PSD, dizendo que o CDS não dançava o “tango” com BE e PCP (como o PSD fez), além das críticas mútuas. Sobre o facto de PSD e CDS terem divergido há uma semana — quando o CDS votou ao lado do PS contra a redução do IVA na eletricidade — Rio desvalorizou o arrufo: “Isso foi há uma semana, entretanto passou muita água, pelo rio, por baixo da ponte.” Negou foi terem falado em acordos para autarquias importantes como Lisboa e Porto, com uma graça: “São 308 concelhos, ainda estávamos ali dentro e vocês aqui à espera”.
Francisco Rodrigues dos Santos também confirmou uma “estratégia concertada a pensar nas próximas eleições autárquicas, para uma maioria de centro direita, em que o PSD representará certamente o centro e o CDS uma direita popular, social e democrática”. Tal como Rio faria minutos depois,o líder do CDS destaca que “os dois partidos têm dois caminhos autónomos a fazer” e que até lá têm de “manter um estreitamento de relações institucionais assentes na lealdade e da confiança mútua”. O fim último, lembrou Rodrigues dos Santos, é potenciar as diferenças dos dois partidos para que depois, juntos, construam uma “alternativa não socialista para Portugal”.
Rio e “Chicão” não se querem, no entanto, substituir às estruturas locais. Rodrigues dos Santos destaca que há “um trabalho preparatório e diálogo com as estruturas locais dos partidos”, enquanto Rio lembra que é “normal que se faça o que sempre se fez: localmente, as estruturas locais decidirem se querem ou se não querem. Onde o PSD e o CDS se dão bem e convergem em vários concelhos acabam sempre por ir juntos. Às vezes não convergem, até por razões de ordem pessoal. Vai ser como foi ao longo dos últimos 40 anos.”
Rui Rio também não dispensou de puxar da sua experiência e longo caminho ao lado de centristas, por oposição à mais curta vida política do jovem Francisco. “Fui presidente de câmara 12 anos em coligação com o CDS. Antes disso tinha sido presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto na altura com a JC, Juventude Centrista. Portanto, a mim nunca me foi difícil ter entendimentos com o CDS. Se neste momento está mais próximo ou menos próximo? Está igual, como sempre esteve”, disse Rio.
Sobre a relação com o CDS, Rio disse ainda que não interpreta que “o novo presidente do CDS vá fazer uma revolução e torne o CDS muito diferente daquilo que foi até hoje.” Ora, como Rodrigues dos Santos “cai numa linha de continuidade do que é a história do CDS” e o PSD com ele também está na mesma linha, nada mudará. Para Rio, o PSD é de centro, com o CDS à direita: “O CDS é um partido à nossa direita. Relevante, de uma opção à direita. Outra coisa é ser o PSD ele próprio a direita. Compete-nos liderar uma opção à direita do PS”.
A crítica de “Chicão” ao lado do busto de Sá Carneiro
Embora convidado, e ali ao lado do busto de Francisco Sá Carneiro, Francisco Rodrigues dos Santos não teve problemas em criticar o PSD e a sua abordagem para um tema que é bandeira dos centristas: a eutanásia. E aí, lembrou que nesta matéria “os dois partidos têm posições conhecidas pelo grande público: o CDS é frontalmente contra, enquanto o PSD entende dar liberdade de voto aos seus deputados“.
Francisco Rodrigues dos Santos rejeita essa leitura de democracia representativa e explica que “em matéria de liberdade de consciência, o CDS tem uma posição muito singular“. Rodrigues dos Santos destaca que “os portugueses não votam na consciência dos deputados, votam nos programas políticos dos partidos“. E mais: mesmo que a vontade seja “permitir-se que se vote em consciência, a consciência que releva é a dos portugueses” e, aí, o CDS “não vê outro caminho que não seja o referendo”.
O líder do CDS promete fazer tudo o que estiver ao seu “alcance para que discussão seja alargada a toda a sociedade, porque protege um direito que está constitucionalmente protegido, como é o direito à vida”. O CDS, destaca “será como sempre foi frontalmente contra a eutanásia, pois está criado um sistema de descarte, em que o Estado desiste das pessoas e atribui a médicos poderes que nem os próprios juízes têm, que é decidir quem morre e quem vive.