Afinal, o tribunal tinha feito mais uma mudança na acusação de Rosa Grilo e António Joaquim só que não a comunicou na sessão de 10 de janeiro. Motivo: um lapso informático que fez com que não ficasse registada, apurou o Observador junto de fontes ligadas ao processo. Esta alteração, apenas conhecida agora, atribui à arguida a autoria do disparo que terá matado o marido, o triatleta Luís Grilo — o que não quer dizer que esta venha a ser a decisão final do tribunal. Até porque estes factos, mesmo alterados, podem ser dados como não provados.

As alterações não substanciais conhecidas até agora, e anunciadas pelo tribunal a 10 de janeiro, apenas atribuíam à viúva a decisão de matar o marido. No entanto, os três pontos da acusação que relatam que António Joaquim, acusado de ser o coautor do homicídio, “apontou a referida arma na direção do corpo de Luís Grilo e efetuou um disparo” manteve-se alterado. Ou seja, estas mudanças — suscetíveis de serem dadas como não provadas — colocavam Rosa Grilo como autora moral do crime, mas pareciam afastá-la de ser a autora material.

Mas, afinal, o tribunal também fez uma alteração neste ponto — o ponto 36 da acusação —, só que não a comunicou na altura devido a um erro informático. Os advogados só foram informados desta nova mudança (que, na verdade, foi feita há mais de um mês) no final da tarde desta quarta-feira. Agora, no ponto 36, lê-se que foi a arguida a disparar.

Alterações do tribunal atribuem a Rosa Grilo a decisão de matar o marido

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A 10 de janeiro, data para a qual estava marcada a leitura do acórdão, os juízes decidiram fazer alterações não substanciais em vários factos da acusação. Segundo explicou a juíza presidente, Ana Clara Baptista, o tribunal chegou à conclusão de que, com base na prova produzida ao longo do julgamento, alguns factos da acusação tinham de ser alterados. Estas alterações fizeram com que a leitura do acórdão fosse adiada. Isto porque foi dado aos advogados 15 dias para analisarem cada uma destas alterações e comunicar se têm novos elementos a apresentar. No final de janeiro, a advogada de Rosa Grilo, Tânia Reis, pediu para serem ouvidas mais quatro testemunhas.

Segundo o despacho a que o Observador teve acesso, o tribunal aceitou ouvir apenas duas delas: uma amiga de universidade de Luís Grilo que garantiu em tribunal que o triatleta lhe confidenciou que estava a ser “ameaçado” por um “parceiro angolano”, duas semanas antes de morrer; e um triatleta que foi atropelado meses antes de Luís Grilo alegadamente desaparecer. Assim, a sessão que já estava marcada para dia 18 de fevereiro servirá para ouvir estas duas testemunhas. Só depois será marcada a leitura do acórdão.

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Por enquanto, António Joaquim permanece em liberdade, com a medida de coação mínima. Já Rosa Grilo continuará a aguardar a decisão em prisão preventiva. Pelo menos, por enquanto. Desde logo porque a advogada recorreu para o Tribunal da Relação de Lisboa, depois de o seu requerimento para libertar Rosa Grilo ter sido recusado pelo Tribunal de Loures — e se a decisão da Relação for positiva para a defesa, a arguida sai da prisão. Depois porque o prazo da prisão preventiva de Rosa Grilo acaba a 29 de março e se, até lá, não houver uma decisão, a arguida terá de ser libertada.

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Rosa Grilo e António Joaquim estão acusados do homicídio e da profanação do cadáver do triatleta Luís Grilo, no verão de 2018. Os dois arguidos foram detidos há mais de um ano, no dia 26 de setembro de 2018, por suspeitas de serem os autores do homicídio de Luís Grilo. Mas o caso veio a público muito tempo antes, quando, a 16 de julho, Rosa Grilo deu conta do desaparecimento do marido às autoridades, alegando que o triatleta tinha saído para fazer um treino de bicicleta e não tinha regressado a casa.

Seguiram-se semanas de buscas e de entrevistas dadas por Rosa Grilo a vários meios de comunicação  — nas quais negava qualquer envolvimento no desaparecimento do marido, engenheiro informático de 50 anos. O caso viria a sofrer uma reviravolta quando, já no final de agosto, o corpo de Luís Grilo foi encontrado, com sinais de grande violência, em Álcorrego, a mais de 100 quilómetros da localidade onde o casal vivia — em Cachoeiras, no concelho de Vila Franca de Xira. Nessa altura, as buscas deram lugar a uma investigação de homicídio e, novamente, Rosa Grilo foi dando entrevistas nas quais que negava qualquer envolvimento no assassinato do marido.

A prova recolhida levou a PJ a concluir que Luís Grilo foi morto a tiro, no quarto do casal, por Rosa Grilo e António Joaquim, e deixado depois no local onde foi encontrado. O triatleta terá sido morto a 15 de julho, por motivações de natureza financeira — o meio milhão de euros que o triatleta tinha em seguros — e sentimental.

A tese de Rosa Grilo — que manteve sempre em sede de julgamento — é, no entanto, diferente: segundo as declarações que prestou no primeiro interrogatório — e que veio a reforçar em várias cartas que enviou a partir da prisão para meios de comunicação — Luís Grilo terá morrido às mãos de três homens (dois angolanos e um “branco”) que lhe invadiram a casa em busca de diamantes.