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Ilustração real da sala de audiências mostra Rosa Grilo a ser ouvida no Tribunal de Loures
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Ilustração real da sala de audiências mostra Rosa Grilo a ser ouvida no Tribunal de Loures

TERESA DIAS COSTA /OBSERVADOR

Ilustração real da sala de audiências mostra Rosa Grilo a ser ouvida no Tribunal de Loures

TERESA DIAS COSTA /OBSERVADOR

Da "canseira" da "Sra. D. Rosa" às estrias na arma. A versão de bolso do julgamento de Rosa Grilo

Foram precisas 12 sessões para o julgamento da morte do triatleta. De quem investigou a quem pareceu tornar possível a tese dos angolanos, foram ouvidas cerca de 80 testemunhas. Eis um resumo.

    Índice

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Afinal, Rosa Grilo pode não ter estado no quarto onde o marido terá sido assassinado, no momento do disparo. E terá sido António Joaquim a apertar o gatilho, entre a 1h00 e as 6h00 do dia 16 de junho de 2018. Depois, terá auxiliado a viúva a transportar o cadáver do quarto para a garagem — e para a bagageira de um dos dois carros da arguida. Qual deles? Nunca se descobriu.

A intervenção de António Joaquim poderá ter ficado por ali. Na tese do Ministério Público (MP), Rosa Grilo terá ido sozinha até Álcorrego depositar o corpo do marido junto a uma estrada de terra batida, sem ajuda do amante. “Não era, aliás, preciso”, considerou o procurador Raul Farias, nas alegações finais que decorreram esta terça-feira, no Tribunal de Loures — a última sessão do julgamento antes da leitura da sentença. Depois, a alguns quilómetros de distância, terá largado um saco com um edredão, sacos de plástico e corda de sisal — alegadamente usados para enrolar o corpo do triatleta.

Esta é a última versão de como Luís Grilo terá sido assassinado, apresentada pelo MP depois de 12 sessões de julgamento que permitiram ao procurador elencar aquilo que, no seu ponto de vista, deverá ser dado como provado e não provado. E, no final, pedir 20 anos e seis meses de prisão, no mínimo, para Rosa Grilo e António Joaquim pela morte do triatleta. Que factos serão dados como provados e qual será a sentença? Só se saberá no próximo dia 10 de janeiro — data para a qual foi agendada a leitura do acórdão, que terá em conta tudo o que se passou nas 12 sessões e o que as cerca de 80 testemunhas disseram. Um julgamento com avanços e recuos, muitas versões contraditórias e dados contra e a favor dos arguidos, que o Observador resume agora numa versão de bolso.

Ministério Público pede 20 anos e 6 meses de prisão para Rosa Grilo e António Joaquim

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A “canseira” que foi a “senhora dona Rosa”

10 de setembro

O arranque do julgamento não trouxe novidades em relação ao que já se sabia das versões que cada lado iria apresentar. Rosa Grilo quis prestar declarações, mas não surpreendeu ninguém. Negou qualquer envolvimento no homicídio do marido e manteve a versão que já tinha apresentado no primeiro interrogatório: a de que o triatleta foi morto por angolanos que invadiram a sua casa em busca de diamantes. E que, possivelmente, tinham usado a arma do amante — que à data estava na da família Grilo. Contou Rosa Grilo que foi ela própria, motivada pelas ameaças que o marido andaria a receber, a ir buscar a pistola à casa de António Joaquim, sem que este soubesse, e a guardá-la na garagem. Mas os angolanos, apesar de terem trazido armas suas, acabaram por lhe apanhar aquela. Qual foi a que disparou o tiro fatal? Não sabe, disse a arguida.

Rosa Grilo está acusada da morte do marido, o triatleta Luís Grilo (ILUSTRAÇÃO: TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR)

O dia não foi suficiente para todo o depoimento. É que a juíza Ana Clara Baptista insistiu em saber todos os pormenores da história, mas ficou cansada com as contradições da arguida, repetindo vezes sem conta as perguntas, sem esconder o ar de desespero. A arguida respondia a muitas das perguntas com expressões como “deve ter sido” ou “suponho que sim”, acompanhadas por um encolher de ombros. Rosa Grilo justificou a sua falta de detalhe com o facto de ter passado “um ano” e ter sido “um dia muito complicado”, levando a juíza a apontar-lhe mais uma contradição: “Por isso, mais lhe deve ter ficado gravado na memória”.

“Que canseira”. As quatro contradições de Rosa Grilo que cansaram a juíza

Mas não ficou. A juíza não percebeu, por exemplo, o porquê de a arguida ter deixado o filho sozinho em casa, quando, no primeiro andar, estaria um dos angolanos que a sequestrou a ela e ao marido. Não percebeu também o porquê de nunca ter pedido ajuda quando teve tantas oportunidades. Ou ainda porque é que Rosa Grilo guardou a arma na garagem, quando seria para sua defesa pessoal. “Que canseira, senhora dona Rosa. A senhora cansa”, disse a juíza, pouco antes de dar por terminada a sessão, às 17h30.

O “sequestro dos três estarolas”

17 de setembro

Como a primeira sessão não foi suficiente, a arguida continuou a falar (e a confundir o tribunal) na segunda sessão. Desta vez, foi o procurador a insistir nos detalhes sobre aquele considerou ser o “sequestro dos três estarolas” — referindo-se aos três angolanos. A arguida foi confrontada com todas as armas apreendidas na casa do amante e, em especial, com aquela que será a arma do crime. Mas Rosa Grilo surpreendeu o tribunal ao garantir que a arma que tirou da casa do amante não era nenhuma daquelas: “A que levei era mais clara”. 

Depois de quase dez horas a ser ouvida, divididas pelas duas sessões, a arguida pôde finalmente sentar-se, por volta das 17h00, e dar lugar a António Joaquim. Este, na mesma linha, declarou-se inocente. Garantiu não ter “absolutamente nada a ver com o que, infelizmente, aconteceu com o senhor Luís Grilo”. Assegurou ainda, num discurso consistente e assertivo — algo surpreendente face à postura sonolenta com que se apresentou ao longo do resto do julgamento —, que não sabia que Rosa Grilo tinha ido a sua casa tirar a arma.

António Joaquim só foi ouvido na segunda sessão do julgamento (ILUSTRAÇÃO: TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR)

TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR

Também António Joaquim foi confrontado com as pistolas que foram apreendidas em sua casa e assegurou que não tinha mais nenhuma além daquelas, acabando por contrariar a versão da mulher com quem, alegadamente, cometeu o crime. Ao juízes, o arguido disse que, se Rosa Grilo foi a sua casa buscar uma arma, “só pode” ter sido uma daquelas três mostradas pela juíza — e não uma outra “mais clara”, como disse a arguida.

Caso Luís Grilo. Arma do crime confunde o julgamento. “Não aponte para mim, meritíssima juíza!”

O pai com “mania” que sabe de Angola

24 de setembro

Depois dos depoimentos dos dois arguidos, as testemunhas só começaram a ser ouvidas na terceira sessão e o filho de Rosa Grilo foi o primeiro. A inquirição, de mais de três horas, foi feita à porta fechada — nem a mãe, nem António Joaquim estavam presentes —, mas a juíza fez um resumo daquilo que foi dito, assim que a sessão foi retomada, depois do almoço. Ao contrário do que dissera à PJ, Renato Grilo revelou que ouviu barulhos em casa, quando supostamente estaria sozinho, no momento em que a mãe teria ido à GNR participar o desaparecimento do triatleta. Esse novo relato sustenta a tese de Rosa Grilo, que diz que, na verdade, um dos angolanos estava também na casa, nesse momento. A juíza realçou, no entanto, que o depoimento tinha “algumas contradições”.

Depois de a irmã de Luís Grilo revelar que Rosa Grilo tinha dois números de telemóvel, foi a vez do pai da arguida, que fez uma revelação que deixou o tribunal de boca aberta. Américo Pina garantiu que também ele foi atacado por angolanos quando estava numa zona de mato à procura do genro, alegadamente desaparecido. Alguém lhe tapou os olhos com as mãos e terá dito: “Tens a mania que sabes muito de Angola”. O homem terá sido depois atirado para um “buraco” junto à berma da estrada e ameaçado: “Se saíres daí e disseres alguma coisa, tu e a tua família vão todos”.

Rosa Grilo foi detida no dia 26 de setembro, cerca de três meses após o alegado crime (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Foram ainda ouvidas duas testemunhas: o tio de Rosa Grilo e a ex-mulher de António Joaquim. Esta última garantiu em tribunal que, na noite em que o homicídio terá acontecido, o ex-marido estava com os filhos — que terá ido buscar na noite de domingo.

Filho de Rosa Grilo muda versão. Pai diz que foi atacado por dois homens

A vizinhança de Rosa foi a tribunal

1 de outubro

Por esta altura, o julgamento começou a ganhar ritmo. Depois de vários atrasos, só no dia 1 outubro foram inquiridas 18 testemunhas — metade eram vizinhos de Rosa Grilo. Os relatos foram mais ou menos semelhantes: que, nas semanas depois do alegado desaparecimento, viram a arguida a limpar o carro com grande “dedicação” e a lavar a garagem com uma mangueira; e que viram também um colchão, as travessas e as laterais de uma cama junto aos contentores do lixo.

Também um militar da GNR, que realizou as primeiras diligências para encontrar o triatleta, foi inquirido e revelou que o telemóvel de Luís Grilo acionou uma antena num prédio no Carregado, pouco depois de Rosa Grilo ter participado o desaparecimento. Essa diligência não é referida na acusação, nem há qualquer referência na investigação ao tal prédio onde o militar da GNR diz ter estado.

Sinal de telemóvel de Luís Grilo foi detetado em prédio no Carregado e ninguém sabe porquê

Duas amigas que terão encontrado Rosa Grilo no Pingo Doce, na tarde de 16 de julho — altura em que estaria sob rapto dos angolanos que aponta como autores do crime —, foram também ouvidas. Contaram que notaram a arguida “nervosa” e “em baixo”, mas que se recordam de a mesma estar a comprar um saco de areia para os gatos.

O “parceiro de Angola” do triatleta

8 de outubro

Na semana seguinte, o ritmo voltou a abrandar. Em parte devido ao testemunho confuso e entre lágrimas de uma amiga de Luís Grilo, que fez outra revelação: o triatleta ter-lhe-ia confidenciado que estava a ser “ameaçado” por um “parceiro angolano”, duas semanas antes do homicídio. E que “nem a Rosa” sabia. A testemunha garantiu que contou tudo à PJ ainda durante a fase do desaparecimento. Porém, não quis assinar as folhas onde as suas declarações estavam transcritas, por medo. “Não assinei, mas passei a informação. Não me diga que só se investiga coisas que se assina?“, questionou, lamentando que a PJ não tenha investigado “o parceiro de Angola”. “Tenho de reescrever a minha vida toda se a Rosa for uma assassina”, rematou.

Luís Grilo estava a ser “ameaçado” por um “parceiro angolano”, diz amiga

Além dessa amiga, foram ainda ouvidos colegas de treino e o treinador de Luís Grilo. Dois deles garantiram que a vítima lhes chegou a confidenciar que tinha sido Rosa Grilo a reforçar os seguros e que, aliás, já há algum tempo insistia para o fazer — contrariando, assim, as declarações da arguida, que diz que não tinha conhecimento da existências dos seguros no valor de meio milhão de euros. Já a empregada de limpeza da família veio a tribunal confirmar mudanças no quarto do casal, depois do desaparecimento do triatleta.

O julgamento começou a 10 de setembro e teve 12 sessões (ILUSTRAÇÃO: TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR)

Um morador de Alcórrego, a localidade no concelho de Avis onde foi encontrado o corpo de Luís Grilo, foi ouvido por videochamada e explicou que, já depois da data em que terá acontecido o homicídio, viu dois carros ali estacionados e três homens e uma mulher junto a eles: um dos carros era branco e o outro era um jeep de cor escura, ambos de marcas “topo de gama”.

A reunião de Rosa com o agente da seguradora

15 de outubro

Dois elementos da Polícia Judiciária foram ouvidos em tribunal e explicaram todos os passos da investigação, descartando a hipótese de Luís Grilo ter sido assassinado por uma pessoa só, uma vez que a arguida não conseguiria transportar o corpo sozinha, pelo menos do quarto até ao carro. A inspetora Maria do Carmo detalhou que as primeiras suspeitas surgiram logo na semana seguinte ao desaparecimento. “A dona Rosa tinha um comportamento muito descontraído. Um comportamento que não nos parecia próprio de alguém que tinha o marido desaparecido”, recordou.

Os advogados de defesa puseram a investigação em causa — questionando vários procedimentos adotados — e a juíza Ana Clara Baptista não escondeu a indignação com algumas perguntas que considerou irrelevantes. A advogada de Rosa Grilo quis saber até se tinham sido feitas escutas ilegais. “A PJ é uma instituição de bem. Nós não fizemos interseções nenhumas“, respondeu a inspetora.

“Só a Rosa Grilo não conseguia transportar o corpo”. PJ não tem dúvidas de intervenção de António Joaquim no crime

Foram também ouvidas outras testemunhas: o homem que encontrou o telemóvel de Luís Grilo, o GNR chamado ao local, o homem que encontrou o cadáver e o agente da seguradora onde o triatleta tinha feito os seguros de vida. O agente desmentiu a arguida ao garantir que esta sabia da existência de todas as apólices, estava presente quando foram assinados os contratos e fez a transferência para os seguros serem acionados. O agente disse que chegou mesmo a reunir-se com Rosa Grilo, em maio, a pedido do marido, onde explicou “tudo” sobre os seguros e as suas condições. Nomeadamente, quanto dinheiro receberia caso Luís Grilo morresse.

Arma alvo de “ataque químico” e “mecânico”

22 de outubro

Um perito de balística da PJ explicou que a arma de António Joaquim — apontada pela investigação como a que foi usada para matar o triatleta — foi “manipulada” com “ataques químicos e mecânicos”. Isto porque terá sido lavada com lixívia e o seu cano danificado com recurso a uma chave de fendas. No entender do perito, o objetivo seria tornar impossível para os investigadores fazer a correspondência com o projétil retirado do corpo do triatleta.

Nesta sessão do julgamento, foi também ouvido um coordenador da PJ que realçou que havia sangue quer no quarto onde Luís Grilo dormia, quer no quarto onde a mulher dormia. Adiantou ainda que a casa tinha sido cuidadosamente lavada para eliminar qualquer vestígio.

O procurador do Ministério Público Raul Farias (à esquerda) e uma das juízas do coletivo (ILUSTRAÇÃO: TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR)

O coordenador da investigação explicou como foi feito o cruzamento dos dados de tráfego dos telemóveis dos arguidos e as conclusões retiradas — nomeadamente que ambos trocaram mensagens no fim de semana em que terá acontecido o crime, ao contrário do que era habitual. À medida que o coordenador da PJ era inquirido, Rosa Grilo foi abanando a cabeça, levando a juíza a repreendê-la.  A arguida acabou por pedir para falar e acusou a PJ de usar apenas as conclusões “que lhes dão jeito”.

A mãe, as primas e o pai de Rosa

29 de outubro

Depois do pai, foi a vez da mãe de Rosa Grilo ser ouvida. Questionada, disse ao tribunal que a filha “precisa de dinheiro” e que “tem dificuldades económicas”. Maria Antónia Pina adiantou ainda que arguida lhe chegou a confidenciar que “nunca” pensou em divorciar-se “por causa do menino”. Já duas primas da arguida recordaram episódios de violência entre o casal. Uma delas garantiu que o triatleta chegou a pôr “a mão ao pescoço” de Rosa durante uma discussão presenciada pelo filho. Perante os testemunhos de maus tratos, o pai de Rosa Grilo exaltou-se e dirigiu-se à juíza — que acabou por expulsá-lo, proibindo-o de entrar na sala até ao fim da sessão.

O médico legista que realizou a autópsia a Luís Grilo foi também inquirido e explicou que apenas encontrou “um projétil e um orifício de entrada” no cadáver — pelo que não seria possível que o triatleta tivesse sido morto por dois tiros, como alega a arguida. O perito em Biologia que realizou exames ao vestígio de ADN encontrado na arma explicou que os danos causados no cano, alegadamente para dificultar a investigação, criaram fendas onde o sangue se terá alojado. Isto permitiu que o vestígio fosse encontrado, apesar de a arma ter sido lavada com um produto químico “muito forte”, como lixívia.

Os atrasos habituais de António Joaquim

5 de novembro

Dois colegas de trabalho de António Joaquim foram ouvidos e disseram que o oficial de justiça costumava atrasar-se — mostrando, assim, que o facto de ter chegado atrasado no dia em que terá ocorrido o crime não foi anormal. Um procurador adjunto e um magistrado do mesmo tribunal definiram o arguido como um “excelente profissional”.

António Joaquim é oficial de justiça de profissão e foi detido a 26 setembro de 2018 (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Uma perita em química, arrolada pela defesa de António Joaquim, considerou que era praticamente impossível recolher ADN de um cano com tanta ferrugem como a que tinha a arma de António Joaquim e pôs em “causa todos os resultados” das perícias feitas à pistola, uma vez que, disse, “falta documentação relativa à recolha de vestígios”. “Era preciso ter sido feito um registo fotográfico à arma para perceber se esta já estava oxidada ou não, como foi avaliado posteriormente”, explicou, considerando que o ADN possa ter resultado de uma “contaminação direta ou indireta”.

A sessão foi bastante curta e apenas da parte da manhã, por indisponibilidade da juíza.

As seis (ou cinco) estrias da arma

12 de novembro

Estavam marcadas para este dia as alegações finais, mas foram adiadas a pedido da defesa. A advogada de Rosa Grilo pediu mais tempo para pronunciar-se sobre documentos requeridos pela defesa de António Joaquim: o manual de procedimentos da PJ.

Foram ouvidas as últimas quatro testemunhas: dois especialistas em balística da Polícia Judiciária, que esclareceram algumas dúvidas técnicas e dois académicos de criminologia. Questionado pela juíza sobre se, mesmo que tivessem sido encontradas cinco estrias no projétil retirado da cabeça de Luís Grilo — e não as seis que a arma devia ter deixado —, garantiria que a arma de António era a arma do crime, um dos académicos admitiu: “Cinco estrias já dá uma probabilidade de 100%”

Alegações finais do julgamento do triatleta adiadas. Rosa Grilo vai voltar a falar em tribunal

Os dois “idiotas que estavam a jeito”

19 de novembro

Reagendadas para este dia, as alegações finais voltaram a não acontecer. Desde logo porque foram ouvidos três elementos da PJ — incluindo um que já tinha sido ouvido — para esclarecer dúvidas aos jurados. Dois deles, da Secção de Homicídios, detalharam pormenores técnicos relacionados com as buscas e com as provas recolhidas. Um terceiro elemento, do Setor de Local de Crime, explicou como foram encontrados vestígios de sangue de Luís Grilo na arma de António Joaquim. O perito detalhou, exemplificando com a sua arma, que a recolha não foi feita no interior do cano, mas na zona inicial, que “só fica exposta no momento do disparo”. Explicou ainda que no relatório da perícia optou por se escrever apenas “interior do cano”, para simplificar.

As alegações finais foram adiadas também porque Rosa Grilo anunciou que queria falar novamente. Falou mais de três horas — como já antecipava o caderno preto, onde escrevera algumas notas, que trazia consigo. Desta vez, Rosa Grilo falou com clareza, apesar das lágrimas, e garantiu que “jamais mataria o pai do Renato”. Ainda assim, não conseguiu esclarecer algumas das dúvidas. A juíza voltou a questionar o porquê de ter deixado o menor em casa, alegadamente na companhia de um dos assassinos do marido, enquanto, segundo a sua versão, foi participar o desaparecimento do triatleta à GNR.

Rosa Grilo foi interrogada durante cerca de dez horas, divididas entre duas sessões (ILUSTRAÇÃO: TERESA DIAS COSTA/OBSERVADOR)

A viúva acusou ainda a PJ de desconfiar dela e de António Joaquim desde o início e de não se ter “dado ao trabalho de procurar rigorosamente mais nada”. “A PJ agarrou nos dois idiotas que estavam a jeito”, disse, garantido que não sabia da existência dos seguros de vida no valor de meio milhão de euros, apontados como móbil do crime.  “Não há nada que pague a morte do meu marido“, disse entre lágrimas, fazendo depois um apelo ao tribunal: “O meu filho já perdeu o pai. Não merece perder mais nada. Se me dissessem: ‘Diz que és culpada e sais por aquela porta’. Eu não dizia! Estou inocente da morte do meu marido.”

António Joaquim foi também chamado pela juíza, mas recusou prestar mais esclarecimentos.

Uma “via verde” para António Joaquim

26 de novembro

Depois de adiadas por duas vezes, decorreram finalmente as alegações finais, última etapa antes do fim do julgamento, com o MP a pedir, pelo menos, 20 anos e 6 meses de prisão para ambos os arguidos. O procurador defendeu que foi o António Joaquim quem efetuou o disparo que matou Luís Grilo — conclusão a que a PJ chegou depois de Rosa Grilo ter dito duas coisas que funcionaram com “via verde” para os inspetores: que não sabia disparar uma pistola e que não fazia ideia de como o marido tinha sido morto.

Quando Rosa Grilo fala pela primeira vez na tese dos angolanos, afirma que estes mataram o marido à sua frente com dois tiros. Mas o relatório da autópsia só refere um orifício de entrada no crânio do triatleta. Para o MP, se Rosa Grilo tivesse estado no quarto no momento do crime, saberia que só foi disparado um tiro. “A dona Rosa não faz a mínima ideia de quantos tiros foram disparados”, disse ainda, acrescentando que, ao dizer que foram dois tiros, a arguida jogou com as probabilidades, mas errou.

O advogado do filho de Rosa Grilo fez um pedido de indemnização cível “não inferior” a 100 mil euros, pela perda do pai. Já os advogados dos arguidos pediram ambos a absolvição dos seus clientes. A advogada de Rosa Grilo considerou que a acusação foi feita com base em “provas indiretas” e o advogado de António Joaquim, baseando-se no manual de procedimentos da PJ, apontou 11 falhas aos investigadores. “O que está em causa é o que a PJ não fez”, acusou. Apelando à “coragem” dos jurados, o advogado fez mesmo referência a um antigo acórdão da juíza presidente: “Condenar, todos condenam. Julgar, poucos julgam”.

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