Bruno Fernandes está no Manchester United há cerca de um mês, já marcou dois golos, ainda que ambos de grande penalidade, já fez várias assistências e tem sido regularmente titular. Mais do que isso, o internacional português tem sido frequentemente elogiado pelo treinador, pelos colegas, pelas bancadas de Old Trafford e pelos antigos jogadores dos red devils, como Gary Neville ou Rio Ferdinand, que têm grande presença na opinião pública. Mais do que boas exibições, golos ou assistências, esse tem sido o dia a dia de Bruno Fernandes em Inglaterra: elogios atrás de elogios.

Esta semana, depois de Bruno Fernandes ter marcado na goleada do Manchester United contra o Club Brugge que garantiu a passagem dos ingleses aos oitavos de final da Liga Europa, Ole Gunnar Solskjaer voltou a contar mais uma história sobre o médio português e não se limitou nos elogios. “Quando o tirei, obviamente, ele não queria sair. Adora futebol. Tem muito entusiasmo e sempre um sorriso. Quer estar ali fora, quer ser melhor. Tentei mandá-lo para o balneário porque estava frio. Respondeu: ‘Não, eu quero ver’. É um daqueles rapazes da velha guarda. O futebol é tudo para ele. Tem sido uma grande motivação para nós”, disse o treinador norueguês, proferindo pela primeira vez uma designação que parece assentar que nem uma luva a Bruno Fernandes. “Rapaz da velha guarda” é talvez a expressão mais adequada utilizada nos últimos tempos para descrever o ex-capitão do Sporting.

Um golo, aquele passe genial, outra ovação de pé: Bruno Fernandes, o “arrogant yet humble” que também vai ao supermercado

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Este domingo, antes da visita ao Everton, Bruno Fernandes ficou a saber que tinha sido eleito o Jogador do Mês de fevereiro no Manchester United por larga margem, amealhando cerca de 80% dos votos dos adeptos do clube inglês (Martial, em segundo, teve 14% dos votos). Contra a equipa de Carlo Ancelotti, o Manchester United tinha a oportunidade de aproveitar o deslize do Chelsea — que este sábado empatou com o Bournemouth — para ficar a um ponto dos blues e do quarto lugar. Para isso, era então necessário vencer o Everton de André Gomes, que depois de ter voltado à competição na semana passada voltava esta jornada ao onze inicial dos toffees. Bruno e André, os dois representantes portugueses nos onzes das duas equipas, caminharam juntos pelo túnel de acesso ao relvado de Goodison Park e entraram lado a lado dentro de campo.

No jogo propriamente dito, o Everton só precisou de esperar três minutos para se colocar em vantagem — e o Manchester United só precisou de esperar três minutos para ver David De Gea cometer um erro quase inexplicável. Num lance aparentemente controlado, o guarda-redes espanhol tinha a bola nos pés e várias opções, à esquerda e à direita, para continuar a jogada. Temporizou, demorou demasiado tempo e quando tentou dispensar a bola para a frente já tinha Calvert-Lewin um metro à frente. De Gea rematou, Calvert-Lewin intercetou de forma acrobática e a bola foi para ao fundo da baliza do Manchester United (3′).

Bruno Fernandes e André Gomes foram ambos titulares no jogo deste domingo

O mesmo Calvert-Lewin esteve perto de aumentar a vantagem logo depois, num lance que serviu para De Gea se redimir ligeiramente com uma boa defesa (5′), e o jogo começou intenso e rápido, com o Manchester United a procurar de imediato o empate. Matic acertou na barra com um grande remate ainda dentro dos primeiros dez minutos (7′) e o Everton desceu ligeiramente as linhas, apostando a partir daí na profundidade e na velocidade de Calvert-Lewin e Richarlison na frente. O conjunto de Solskjaer tentava construir desde a faixa central, normalmente assente na mobilidade de Bruno Fernandes, para depois abrir as transições de Fred ou McTominay ou as desmarcações de Martial e Mason Greenwood.

Numa altura em que o jogo até tinha ficado algo incaracterístico, com poucas aproximações às duas balizas e muito combate na zona do meio-campo, Bruno Fernandes aproveitou uma recuperação de bola do Manchester United para fazer aquilo que faz melhor: atirar do meio da rua e surpreender o guarda-redes adversário. O médio português recebeu de Matic, deu apenas um toque para a frente para enquadrar a bola e rematou rasteiro e em força, tombado na esquerda, para bater Pickford e empatar a partida (31′). Bruno Fernandes marcou o terceiro golo em três jogos e o primeiro em Inglaterra que não de grande penalidade, voltando a ser decisivo para o Manchester United.

Até ao intervalo, o jogo endureceu com várias faltas e lances mais polémicos, o Everton perdeu Coleman por lesão e esteve perto de voltar a marcar com um cabeceamento de Richarlison (45+2′) mas a partida foi mesmo empatada para o fim da primeira parte. Uma primeira parte que viu Bruno Fernandes, pela primeira vez desde que chegou a Inglaterra, a reagir às bolas perdidas e às decisões dos árbitros da forma a que nos habituou, intempestivo e rebelde, mostrando que está cada vez mais confortável na Premier League.

Na segunda parte, o primeiro lance de perigo apareceu por intermédio de Sigurdsson, que acertou em cheio no poste num livre direto marcado na esquerda (57′). O Manchester United foi empurrando progressivamente o Everton para trás, ganhando muitas das segundas bolas junto à grande área de Pickford graças à proximidade dos jogadores, mas era várias vezes apanhado em inferioridade numérica pela velocidade de Calvert-Lewin e Richarlison. Solskjaer demorou a fazer as primeiras alterações na equipa, já depois de Ancelotti ter trocado Walcott por Bernard, e só trocou Greenwood e McTominay por Ighalo e Juan Mata a 20 minutos do apito final.

O Manchester United perdeu o relativo ascendente ao longo da segunda parte — ainda que não tenha conseguido sequer criar uma verdade oportunidade de golo — e o último quarto de hora foi do Everton, que se aproximava de De Gea principalmente através de bolas paradas. Odion Ighalo teve uma enorme ocasião em cima dos 90′, Calvert-Lewin viu um golo ser-lhe anulado pelo VAR nos descontos mas as duas equipas terminaram mesmo empatadas, com o conjunto de Solskjaer a falhar a aproximação ao Chelsea e ao quarto lugar. Quanto a Bruno Fernandes, depois de ter sido o considerado o melhor jogador do Manchester United no mês de fevereiro, estreou-se a marcar sem ser de bola parada e marcou pelo terceiro jogo seguido, assumindo cada vez mais um papel preponderante nos red devils.