Aqui a esquerda não entra. O Movimento Europa Liberdade (MEL) — cunhado como ‘Aula Magna’ das direitas — vai ter a sua segunda convenção esta terça-feira e quarta-feira, na Culturgest, em Lisboa. Desvalorizado pelo PSD (Rui Rio continua a não ir) e valorizado pelo CDS (o líder Francisco Rodrigues dos Santos fará a abertura), o evento que diz ser contra o “populismo“, convidou este ano o líder do Chega. Há um ano, André Ventura dizia que “qualquer líder de direita” devia ter “vergonha” de participar num evento “inútil” como o do MEL. Desta vez, faz parte de um painel. A Iniciativa Liberal também vai estar representada ao mais alto nível com a presença do líder e deputado João Cotrim Figueiredo. O PS não foi convidado oficialmente. E se Paulo Portas é o representante máximo da última direita que foi poder, Passos Coelho — garante a organização — nem sequer foi convidado.
O fundador e presidente do MEL, Jorge Marrão, disse esta segunda-feira à Rádio Observador que enquanto ele liderar o movimento, este “não vai acabar em partido“. O grande objetivo, explicou no programa Direto ao Assunto, passa por “disputar uma esfera de influência junto dos partidos políticos” e “eliminar o que nós chamamos de esquerda radical e de socialismo radical.” E na esquerda radical Jorge Marrão inclui “um conjunto de atores que gravitam na esfera do Partido Socialista e que eles próprios têm mostrado uma diferença de valores em relação à matriz original do próprio PS“.
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Há um ano, o MEL convidou Francisco Assis e António José Seguro que — após serem anunciados — acabaram por não marcar presença. Jorge Marrão atribui isso à “disciplina partidária”, embora nenhum dos dois tivesse obrigado a isso, nem sejam propriamente socialistas que se sujeitem a limitações impostas pela direção de António Costa. Este ano, o ex-deputado e histórico do PS, Júlio Miranda Calha, vai marcar presença.
Na edição de 2019, a organização explicou que não convidou André Ventura porque era contra os populismos. Agora Jorge Marrão justifica o convite a Ventura e Cotrim Figueiredo com as “temáticas”, já que considera “relevante perceber o que se está a passar ao nível das forças políticas europeias, em que os liberais e as forças políticas mais à direita começam a ter mais relevância no Parlamento [Europeu]”. Isto embora nenhum dos dois tenha assento no Parlamento Europeu e o Chega nem sequer tenha uma família política definida.
Jorge Marrão aponta o dedo à comunicação social pelo mediatismo de Ventura: “Se observarmos o caso do Ventura, esse é evidente: o número de votos que tem é bastante inferior à exposição mediática.” Isto porque “a comunicação social lhe dá esse destaque”. Ainda assim, o fundador insiste que o MEL não funciona “de acordo com nenhuma agenda mediática”, quer oradores com “bom-senso”. E diz que o movimento até é insuspeito já que o mesmo “Ventura disse em 2019 que o MEL fazia parte do sistema”.
Rio volta a recusar convite
Rui Rio voltou a recusar marcar presença no Congresso, mas o MEL pediu ao PSD que indicasse alguém. O presidente do PSD é o único líder partidário à direita do PS que não vai marcar presença e nem sequer enviou um vice-presidente, mas sim o presidente da Mesa do Congresso. Paulo Mota Pinto preside a um órgão nacional, mas nem sequer vincula a direção, pelo que o que disser na convenção não compromete Rio. O presidente do CEN e, esse sim, vogal da Comissão Política, Joaquim Miranda Sarmento, vai marcar presença, mas como Jorge Marrão explicou ao Observador “é porque faz parte do grupo do MEL e não como indicado do PSD”. Mota Pinto fará o encerramento do primeiro dia.
Se há um ano Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz — então adversários internos de Rio no PSD — tiveram direito a convite e intervenção, desta vez apenas Miguel Morgado participa. Na manhã do segundo dia, o antigo deputado do PSD será o “key-note speaker” de um painel que tem como tema “ao espaço da extrema esquerda e do socialismo radical”. Nesse painel participam André Ventura e Cotrim Figueiredo e a moderação será de José Manuel Fernandes (publisher do Observador).
Já o CDS valorizou o evento e o novo presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, fará a abertura da convenção. Já há um ano Assunção Cristas tinha feito o encerramento da convenção. Este ano os centristas contam ainda com antigo e carismático líder, Paulo Portas — que dificilmente falará de política nacional. A praia dele agora é outra. “Os desafios da nova globalização, da desglobalização e de Portugal”, é o tema do painel unipessoal de Portas.
Santana Lopes, o político de quem o adversário João Soares um dia disse ter “mel” também voltará ao MEL — numa confirmação feita nos últimos dias. Assim, o partido Aliança, que teve desaires nas Europeias e Legislativas também estará representado pelo seu líder.