Um médico do sistema público de saúde do Reino Unido descreveu ao The Guardian o interior de um hospital no centro do combate ao novo coronavírus, deixando amplas críticas às falhas de segurança para quem trabalha nos hospitais e de quem lá está internado, à medida que os meios escasseiam.

De acordo com este médico, cujo nome não é publicado mas que diz trabalhar num “dos principais hospitais do Reino Unido”, já não se mantêm as orientações superiores para o uso de máscara, viseira, bata cirúrgica e dois pares de luvas para lidar com infetados com coronavírus.

“Disseram-nos para ‘tratar [do coronavírus] como se fosse uma gripe sazonal'”, conta aquele médico. “Agora devemos vestir apenas uma máscara cirúrgica, um par de luvas normais e um avental de plástico que nem nos tapa de forma integral, como uma bata cirúrgica”, diz ao The Guardian. Caso atenda outro doente que não tenha coronavírus, o médico terá de levar a mesma indumentária. “E a bata pode ter coronavírus”, explica.

O texto parte então para uma série de considerações em que o médico questiona tanto a sua continuidade na profissão, como a sua segurança e também a fé nas lideranças políticas.

“Estou aterrorizado. Estou seriamente a pensar se devo ou não continuar a trabalhar como médico. Eu posso estar bem — sou jovem e saudável — mas não consigo lidar com a ideia de infetar outros doentes com uma doença que pode matá-los”, diz. “Isto não é uma gripe sazonal. Isto é um novo vírus com uma mortalidade maior e sobre a qual sabemos muito menos.”

Sobre as diretivas para não usar um tipo de proteção mais robusta, o médico deixa várias inquietações. “Porque é que eles estão a contradizer as normas internacionais? Está provado que as máscaras cirúrgicas comuns nos protegem contra a gripe sazonal, mas não com este vírus. Há médicos a morrer em Itália e na China. E também há jovens a morrer”, sublinha o médico ao The Guardian. “Estão a mandar-nos para mataodouro. É isso que eles estão a fazer.”

“Não consigo perceber qual é a ordem de pensamos e os motivos por trás disto. Desistiram? Decidiram que devemos criar imunidade de grupo ao verem-nos morrer? O governo desistiu, não foi?”, atira. “Estou a perder a fé das lideranças, tanto médicas como políticas. Não me parece que haja um plano.”

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