Adalberto Campos Fernandes teceu elogios ao Governo de António Costa e criticou a atuação da União Europeia face à medidas que estão a ser tomadas na sequência da pandemia do novo coronavírus. Em declarações à Rádio Observador, o ex-ministro da Saúde disse que em Portugal “ainda nada falhou de forma grave” e que as autoridades de saúde “têm feito um esforço hercúleo em condições terríveis para tentar responder a esta emergência”.

Covid-19. “A Europa não tem margem para errar”, diz Adalberto Campos Fernandes

“O Governo tem feito tudo o que está ao seu alcance”, reiterou Adalberto Campos Fernandes, elogiando em particular a decisão de António Costa de fechar as escolas, contrariando a posição do Conselho Nacional de Saúde Pública. “O primeiro-ministro tomou uma decisão política forte e iniciou um processo de contenção ativa, de proteção das pessoas que culminou agora na decisão do Presidente da República”, que esteve “à altura daquilo que é a sua responsabilidade maior”, disse, referindo-se à declaração do estado de emergência.

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O governo na pessoa do primeiro-ministro tem tido uma liderança absolutamente exemplar sobre o processo que está a ser desenvolvido.

As críticas do ex-ministro da Saúde centraram-se sobretudo na mensagem anteriormente passada “por algumas pessoas” de que o novo coronavírus era “uma gripe moderada ou ligeira com um padrão de comportamento e mortalidade semelhante à gripe sazonal” e também na posição tomada pela União Europeia.

Aldaberto Campos Fernandes criticou a “paralisia” com que a pandemia provocada pela doença Covid-19 está a ser tratada ao nível da União Europeia. “Portugal é um pequeno país pobre com um problema de dívida externa enorme. Mas não é só Portugal. Neste momento temos talvez a maior crise sanitária dos últimos 60/70 anos e o que vemos são reuniões aparentemente de enorme inconsequência, portanto, a proteção da saúde pública e a proteção da economia não é um problema nacional, é um problema naturalmente europeu”, assegurou.

Outro “pecado original” da Comissão Europeia foi a deslocalização para o nível nacional das questões relativas às políticas de saúde e também o “pouco ou reduzido” papel da UE nas questões estratégicas, nomeadamente na saúde pública. “A saúde pública é vista como um elemento estratégico de soberania e de segurança dos países. A UE tem de perceber que tem de investir em saúde, não apenas sistemas organizados, mas também em investigação e desenvolvimento, condições de precedência para que a economia seja forte e a união também.” O mais importante, continuou, são as lições a tirar daqui: “Os países precisam de um sistema com cobertura geral e universal”.

A União Europeia tem ainda de “preparar um mecanismo de resposta rápida para crises como esta. Aquilo que tem acontecido do ponto de vista da saúde não tem sido exemplar. Os países tem aparecido desarticulados, as questões de acesso e restrição e fecho de fronteiras são perturbadoras. Cada país toma medidas em dissonância com o país do lado, à exceção de Portugal e Espanha”, salientou ainda.

Na opinião de Adalberto Campos Fernandes, a Europa tem de deixar de ser uma administração de natureza administrativa burocrática, “obcecada pela componente fiscal e pela componente ornamental, e tem de ter um modelo estratégico de vida que pense nas pessoas que habitam no espaço europeu”.