Depois de Itália, também em Espanha os médicos vão ter de passar a tomar a difícil decisão de escolher quais são os doentes que internam e quais são aqueles que não vão poder manter nos hospitais, optando por tratar aqueles que têm maior esperança de vida, de forma a gerir a falta de recursos que já se faz sentir no sistema de saúde espanhol.
Desta forma, os hospitais espanhóis passarão a evitar totalmente o “critério de quem chega primeiro é internado primeiro” e passam a tomar outro tipo de decisões, com a certeza de que “admitir um paciente pode implicar rejeitar outra pessoa que pode beneficiar mais” desse mesmo internamento.
O documento, da autoria do Grupo de Trabalho de Bioética da Sociedade Espanhola de Medicina Interna, Crítica e Unidades Coronárias (Semicyuc), orienta os médicos para, na altura de decidir entre um doente e outro, “avaliarem cuidadosamente o benefício do ingresso de pacientes com esperança de vida inferior a dois anos”.
Desta forma, a tendência assumida naquele documento será o de “não internar nas Unidades de Cuidados Intensivos” os pacientes “com poucas possibilidades de recuperarem por causa da sua doença pré-existente ou pela doença aguda” nem os pacientes “com benefício mínimo ou improvável” de internamento.
Em vez disso, em caso de não haver alternativa, deverão ser “priorizadas as pessoas com mais anos de vida com qualidade”.
Isto vai levar, especifica o El Mundo, que teve acesso àquele docuemnto, que os médicos não deverão “internar pessoas para as quais se prevê um benefício mínimo”, o que inclui pacientes “em situações de falha multiorgânica, risco de morte elevado ou condições de fragilidade avançada”.
Outros fatores que os médicos deverão ter em conta serão o “valor social da pessoa”, o que remete para uma avaliação das “pessoas que estão a cargo do paciente, para tomar decisões maximizando o benefício do maior número de pessoas”.
Em Itália, os hospitais estão à beira do colapso — e os médicos têm de escolher quem podem tratar
Espanha é assim outro país onde os médicos são obrigados a fazer este tipo de decisões, depois de em Itália esse já ser o sistema adotado há cerca de duas semanas. A 9 de março, um o médico Christian Salaroli, anestesista num hospital em Bérgamo, um dos sítios mais afetados por esta pandemia em Itália, contava ao Corriere della Sera: “Foi aberto um quarto com vinte camas dentro do serviço de emergência. É aqui que a triagem, ou a escolha, é feita. É decidido pela idade e pelas condições de saúde. Como em todas as situações de guerra. Não sou eu que digo, são os manuais que nós estudámos”.