A “figura” tinha sido levantada pelo ministro das Finanças (e vice primeiro-ministro) do Japão, Taro Aso, numa entrevista ao The Guardian. “É um problema que acontece a cada 40 anos, é uma maldição dos Jogos Olímpicos, é um facto”, revelou então a propósito do inevitável adiamento da edição de 2020 em Tóquio. Depois de três edições no passado que tiveram mesmo de ser canceladas, em 1916 (Berlim), 1940 (Tóquio) e 1944 (Londres), por causa das duas Grandes Guerras, os Jogos de 2020 tiveram também de mudar para 2021, em data ainda a definir mas que nunca será depois do verão, como ficou consagrado no anúncio do adiamento.

Demorou mas fez-se luz: Jogos Olímpicos de Tóquio adiados para 2021 (mas nunca depois do verão)

Mas o que é então a maldição dos 40 anos? Se em 1900, entre 14 de maio e 28 de outubro, os Jogos Olímpicos decorreram como prolongamento da Feira Mundial, sendo que alguns dos 997 competidores (mulheres incluídas, pela primeira vez) de 28 nações nem sequer se aperceberam que estavam a entrar na competição, os de 1940, em Tóquio, tiveram mesmo de ser adiados em virtude da Segunda Guerra Mundial e já depois de terem sido mudados para Helsínquia. Em 1980, aí, o problema foi outro: por causa da guerra no Afeganistão e num momento de Guerra Fria, houve um número de boicotes “anormal” de 66 países, entre os quais Estados Unidos ou Japão.

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Os boicotes fizeram-se sentir também noutras edições, como em Montreal em 1976 ou em Los Angeles em 1984, sempre por razões políticas. Além disso, em duas ocasiões houve alteração da cidade a receber os Jogos, aqui por motivos distintos: em 1904, por decisão do próprio presidente Theodore Roosevelt que quis juntar a Exposição de Compra de Louisiana aos Jogos e passou a organização de Chicago para St. Louis; e em 1908, depois de Itália e a própria Roma terem abdicado para Londres depois da forte erupção do Vesúvio no ano anterior.

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Tirando estas situações, houve apenas dois adiamentos temporários dos Jogos Olímpicos que coincidiram com dois dos piores momentos da grande competição: em 1972, na edição organizada por Munique, quando o ataque terrorista do grupo Setembro Negro à comitiva israelita que vitimou seis treinadores, cinco atletas e um polícia levou a uma interrupção de 36 horas na competição onde se fez também uma cerimónia fúnebre no Estádio Olímpico; e em 1996, quando uma bomba no parque de estacionamento do Parque Olímpico matou duas pessoas e feriu 11, parando as provas por um período de 24 horas também em forma de homenagem e para reforçar o plano de segurança que estava montado pela organização nesse evento em Atlanta.

Esta terça-feira, em virtude da pandemia global da Covid-19 que assola o mundo, confirmou-se o adiamento da competição para 2021, sempre numa data até ao verão que estão ainda em confirmar. E esse momento acabou por ficar selado numa comunicação de cinco parágrafos emitida pelo Comité Olímpico Internacional.

“O presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, tiveram uma conferência por telefone esta manhã para discutir a constante mudança de contexto tendo em conta a Covid-19 e os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. A eles juntaram-se Mori Yoshiro, presidente do Comité de Organização de Tóquio-2020, Hashimoto Seiko, Ministro Olímpico, Koike Yuriko, governador de Tóquio, John Coates, presidente da Comissão de Coordenação do COI, Christophe De Kepper, Diretor Geral do COI e Christophe Dubi, Diretor Executivo do COI para os Jogos Olímpicos.

O presidente Bach e o primeiro-ministro Abe expressaram as suas preocupações mútuas sobre a pandemia global da Covid-19, o que tem feito nas vidas das pessoas e o impacto significativo que está a ter na preparação global dos atletas para os Jogos. Numa reunião muito amigável e construtiva, os dois líderes louvaram o trabalho feito pelo Comité de Organização de Tóquio-2020 e notou grandes progressos na luta do Japão contra a Covid-19.

A amplitude deste surto sem precedentes e imprevisível viu a situação deteriorar-se no resto do mundo. Ontem, o Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a pandemia da Covid-19 está a acelerar. Há mais de 375.000 casos espalhados em todo o mundo e quase em todos os países e esse número está a aumentar todas as horas.

Perante as presentes circunstâncias e baseado na informação fornecida pela Organização Mundial da Saúde hoje, o Presidente do COI e o primeiro-ministro do Japão concluíram que os XXXII Jogos em Tóquio têm de ser recalendarizados para uma data depois de 2020 mas não depois do verão de 2021, para salvaguardar a saúde dos atletas, de todas as pessoas envolvidas nos Jogos Olímpicos e da comunidade internacional.

Os líder concordaram que os Jogos Olímpicos de Tóquio podem permanecer como um farol de esperança para o mundo durante estes tempos conturbados e a chama olímpica pode ficar como a luz ao fundo do túnel no momento em que o mundo se encontra no presente. Assim, ficou acordado que a chama olímpica vai ficar no Japão. Ficou também acordado que os Jogos continuarão a ter o nome de Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020.”