Foi há 35 anos que Mike Tyson fez o primeiro combate profissional de boxe. Em Nova Iorque, demorou menos de um round a acabar com Hector Mercedes (que ficou conhecido na carreira por ser o primeiro a ser derrotado pelo então Kid Dynamite). Seguiram-se vitórias atrás de vitórias, 26 das primeiras 28 por KO ou TKO, numa série de 37 triunfos consecutivos com títulos de campeão pelo meio. E seguiram-se polémicas, muitas polémicas, como aquele arrancar de parte da orelha de Evander Holyfield como pior ponto de uma carreira que terminou com 50 vitórias e seis derrotas, as duas últimas quando já tinha 38 anos e queria adiar o inadiável. No entanto, o americano sempre foi muito mais do que um pugilista. E ainda hoje, 15 anos depois, continua a ser notícia.

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Tyson foi condenado e preso por violação, admitiu que gastou toda a fortuna que ganhou e chegou a ter de fazer alguns combates apenas e só para chegar ao fim do dia com um cheque que lhe pagasse as contas – isto em alguém que fez do boxe uma maneira de ser, até mais do que uma profissão ou uma carreira. Em contraponto, mantinha o estatuto de figura popstar, amado por uns e odiado por outros, a inspirar filmes, documentários, séries e demais trabalhos de uma indústria cinematográfica que sempre viu nele bem mais do que um pugilista.

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Bem mais difícil do que perceber os movimentos e segredos no ringue foi sempre perceber o que ia na cabeça de Tyson a cada momento de cada dia. Mas aquele durão que chegou a bater num funcionário que recolhia o lixo por ter tratado mal o seu pombo preferido (uma das suas grandes paixões) também consegue ser aquela figura mais serena que se senta à frente de um piano e toca uma música calma, como aconteceu no filme A Ressaca I. O corpo não deixou que Tyson se reinventasse no boxe mas a cabeça permitiu que se reinventasse na vida.

Dentro da casa abandonada de Mike Tyson em imagens

Depois da forte aposta na construção de um centro de plantação e estudo da marijuana na Califórnia, tentando produzir cannabis com elevada qualidade de THC e CBD (sem propriedades psicoativas, anti-inflamatório, anticonvulsivo, antipsicótico e antioxidante) ao mesmo tempo que apostava na tecnologia para investigar as suas propriedades médicas, Tyson virou-se para outro mundo: sempre ativo nas redes sociais, criou um programa de rádio, o Hotboxin’ with Mike Tyson, que se transformou num programa de Youtube e que teve recentemente o rapper Eminem como convidado, onde o ex-pugilista deixou algumas ideias sobre a sua carreira.

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“O segredo nunca esteve na força dos meus golpes. Tinha muita velocidade de execução mas não era pela força, era pela precisão. Sempre que conseguia encaixar um golpe era perigoso. Foi assim que tive bons resultados. E quando os teus adversários não conseguem sequer ver o golpe, vão ficar inconscientes por isso”, explicou. Uns dias antes, em entrevista ao The Sportsman, fez uma introspeção mais pessoal: “Sabia que havia a possibilidade de morrer num treino, num combate mas nunca tive medo. Esse foi o meu mecanismo de sobrevivência. Não tenho medo de morrer, viver pode ser mais complicado do que morrer por mim. Viver exige muita coragem. Sem coragem, não podemos lidar com a vida. Viver é uma viagem, viver é uma luta”.

Esta semana, Mike Tyson, que se encontra em isolamento voluntário mas a treinar boxe (ou neste caso os seus movimentos de boxe) enquanto brinca com o cão – como tem partilhado nas redes sociais – voltou a ser notícia por uma nova aposta profissional: já depois de ter consolidado o seu podcast, associou-se à página web Cameo, num serviço onde se oferece uma mensagem personalizada a todos os interessados de algumas celebridades. Ou seja, e em resumo, qualquer pessoa que queira receber uma mensagem personalizada gravada do pugilista, de 15 segundos, paga neste caso 300 dólares. E os números mostram o sucesso da ação, com o americano a ganhar 20.000 dólares (18.500 euros) apenas em seis horas, aproveitando também o aumento de 30% na procura motivado pela pandemia global da Covid-19 que remeteu milhões de pessoas às suas casas.

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I went easy on him…

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