Pedro Caldas sempre sentiu o apelo da montanha. Há anos que mantém o hábito de ir ao Gerês, sozinho e durante fins de semana inteiros. A proximidade com a natureza em estado bruto é uma espécie de vício, difícil de substituir, e a expectativa constante de avistar um lobo que seja nunca desaparece. Começou por criar uma conta de Instagram para partilhar fotografias e ilustrações de animais e paisagens naturais, mas em setembro de 2019, esta paixão ganhou novos contornos.

E porque não criar uma marca de roupa portuguesa inspirada neste território selvagem? Nasceu a Indagatio, com seleção de peças para usar no terreno e uma atenção redobrada à durabilidade? “Nunca gostei daquela tecnicidade da roupa de montanha. Queria algo mais clássico, um estilo que desse para ir trabalhar e para sair da cidade, claramente inspirado nos exploradores de outros tempos”, explica Pedro ao Observador.

Pedro Caldas e Patrícia Mendes, os fundadores da Indagatio © Divulgação

Nesta aventura em particular, não se lançou sozinho. Com ele está também Patrícia Mendes. Ele é designer gráfico (desenhava para a Deeply, mas sonhava com a Berg), ela sempre trabalhou em gestão. Os dois deixaram para trás os cargos em marcas da Sonae para se dedicarem, em exclusivo, ao novo projeto.

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Mas foi com o empurrão do grupo português que o casal se lançou num projeto próprio. A Indagatio, palavra do latim para busca, foi uma das três marcas selecionadas para um programa de apoio da Sonae a novas ideias no setor têxtil. No total, o grupo está a investir 50 mil euros na marca e ainda supervisiona a evolução do negócio.

Em flanela portuguesa e com acabamentos manuais, a camisa Bubo em verde é a peça mais vendida da marca © Divulgação

A marca arrancou com pouco mais de dez peças. O uso de fibras naturais, a durabilidade dos tecidos e a produção manual mantida no caso de algumas peças são as principais bandeiras da Indagatio. Da montanha para o escritório (ou vice-versa), Pedro e Patrícia orgulham-se sobretudo da flanela portuguesa com que são feitas as camisas — a verde é, de longe, a peça mais vendida até agora.

“Tudo é produção nacional. Temos um cinto e umas luvas em pele, mas a maioria dos artigos são em algodão e lã”, explica Pedro. Enquanto isso, Patrícia continua a fazer as pulseiras e as fitas para a máquina fotográfica com as próprias mãos, da mesma forma que tricota as confortáveis meias Thalassarche melanophris, nome emprestado pelo albatroz-de-sobrancelha, espécie já avistada em território português, mais precisamente nas Berlengas. Mesmo as restantes peças acabam quase sempre por passar pelas mãos dos dois mentores, nem que seja para um ou outro acabamento final.

Um das fotografias tiradas por Pedro Caldas durante os seus fins de semana solitários no Gerês. Esta está à venda © Divulgação

“O conceito é de moda masculina, mas muitas peças acabam por ser unissexo”, acrescenta Pedro. Ainda assim, já há quem peça coleções desenhadas para mulher e também para crianças, segundo o designer. Mas a Indagatio quer ser mais do que uma marca de roupa, algo que se percebe pela seleção de ilustrações e fotografias à venda na loja online. Crescer e tornar-se uma etiqueta de lifestyle, mantendo sempre a ligação ao campo e à natureza, é o futuro mais provável. Pedro fala mesmo em “sabonetes, tachos e tapeçarias” como exemplos das novidades que estão por vir. E porque não?

Mesmo com uma marca para gerir, Pedro vai conseguindo escapar-se até ao Gerês, onde a vida selvagem continuam a ser uma fonte de inspiração. Admite que parte da motivação está na procura do lobo ibérico, avistamento raro nos dias que correm. Até hoje, só viu um e foi preciso atravessar a fronteira. Entretanto, a busca continua.

Nome: Indagatio
Data: 2019
Ponto de venda: loja online
Preços: dos 15 aos 270 euros

100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.