Depois de seis dias consecutivos com o número de doentes recuperados a manter-se nos 43, é o próprio secretário de Estado da Saúde, António Sales, a reconhecer que o número tem “alterado pouco, em relação a outros indicadores”. E explica porquê: “É uma doença de convalescença lenta e [há] também uma notificação tardia pois como sabemos a maior parte dos doentes trata-se no domicílio o que pode originar um hiato no conhecimento da recuperação. Os doentes ficam assintomáticos antes da cura, mas demoram mais tempo até testarem duas vezes negativo”. António Sales deu um exemplo, entre vários “casos de sucesso” que são um “sinal de esperança”.
Uma senhora de 93 anos da Grande Lisboa que chegou ao hospital com um quadro de pneumonia grave, a meio deste mês, diagnosticada com Covid-19, e que ao fim de 11 dias de internamento, recuperou”, contou.
É exatamente em relação a estas pessoas “mais vulneráveis”, como a senhora de 93 anos, que António Sales garante que o Governo tem tomado atenção. “Já estão no terreno várias respostas, em parceria com as associações da sociedade civil, com as autarquias, com as IPSS para a população sem-abrigo, para os reclusos, para os doentes crónicos, para as vítimas de violência doméstica”, diz.
O governante adiantou ainda que na noite desta terça-feira “chega um avião ao Porto com 3,5 milhões de máscaras cirúrgicas, 300 mil toucas, 100 mil batas entre outros equipamentos necessários”.
Continuaremos este trabalho de identificar, testar, isolar, proteger e tratar. Não podemos baixar os braços. Contamos com todos nesta luta”, apelou.
Questionado sobre se mantém a confiança na Direção Geral de Saúde (DGS) e nas orientações — algumas contraditórias — que dá, António Sales, garante haver total confiança e explica que eventuais contradições acontecem por causa da “proporcionalidade e evolução do surto”.
“É evidente que o dinamismo e flexibilidade obriga-nos a respostas proporcionais à evolução do surto. Isso, em responsáveis políticos e institucionais, por vezes obriga a que se faça declarações que a própria proporcionalidade e evolução do surto obrigam a que – na semana seguinte ou passado algum tempo – tenhamos que fazer outras declarações. Todas as determinações da DGS têm sido confirmadas e estão em convergência com as organizações internacionais: a OMS [Organização Mundial da Saúde], a CDC … Portanto, havendo convergência entre estas direções internacionais e orientações da autoridade nacional de saúde, só podemos dizer que subscrevemos toda a confiança na DGS”, disse.
O secretário de Estado da Saúde lembrou ainda que “estamos a testar cada vez mais” e que a capacidade diária de testar aumentou esta terça-feira para sete mil.
Utentes enviados para Áreas Dedicadas ao Covid que não estavam abertos e duplicação de casos
Diogo Cruz, sub-diretor-geral da Saúde, explicou ainda que houve algumas pessoas que foram enviadas para Áreas Dedicadas ao Covid (ADC) que não estavam abertas. Diogo Cruz explica que este erro aconteceu depois de ter sido disponibilizado um site com a listagem das unidades da comunidade que iriam abrir.
A listagem que foi carregada teria alguns erros e houve pessoas que foram enviadas para ADC que não estavam abertas. Penso que esse problema — aconteceu, é verdade — será resolvido nas próximas horas“, disse.
O sub-diretor-geral da Saúde admitiu que “houve duplicação dos números de ontem [segunda-feira, dia 30 de março]. Houve aqui uma tentativa de dar o maior número de dados possível e houve duplicação de valores no número de ontem porque houve confluência entre os dados da região e os dados reportados via SINAVE. E, como se percebeu, acabou por haver duplicação de números que já foram corrigidos. Mas o boletim a partir de hoje [terça-feira] vai ter apenas dados do SINAV para não haver duplicações. Vamos ter, eventualmente, alguns missings que não estejam no SINAV. Acho que estão 70 e alguns por cento”, explicou.
Segundo explicou Diogo Cruz, o SINAV é um sistema que existe para se fazer uma notificação obrigatória de doenças infecciosas. “Um clínico, cada vez que tem suspeita de ter uma doença destas tem de notificar a DGS centralmente, mas as administrações regionais e locais de Saúde recebem imediatamente a notificação para poder fazer a sua atuação”, disse, acrescentando:
Vou dar um exemplo excessivo: se alguém achar que tem doente com ébola, fará a notificação e o SINAV imediatamente envia um aviso para a autoridade saúde local e regional para despoletar os mecanismos. Este sistema não avalia a situação clínica dos doentes. Há uma suspeita e depois há um sistema acoplado que é o laboratório que depois diz se é positivo ou negativo (validamos ou não os casos). Não faz seguimento clínico dos doentes”.
Segundo o especialista, “este sistema pode não ter a aferição de ter o distrito onde a pessoa mora”. “Enfim, tem sempre a região, mas pode não ter exatamente onde mora. Mas tem sempre o sítio onde foi notificado pelo médico. Portanto, aqui pode haver algumas discrepâncias das grandes zonas urbanas da pessoa ser diferente naquele em que mora”, acrescentou.
Afastada possibilidade de impor uma cerca sanitária no Porto
Quanto à possibilidade de fixação de uma cerca sanitária no Porto, António Sales, Secretário de Estado da Saúde disse: “A fixação de cercas sanitárias é antecedida por declarações de calamidade pública. De acordo com a lei de bases da Proteção Civil, ela é decidida, em situações normais, pelo Conselho de Ministros e em situações de emergência por despacho do primeiro-ministro e do ministro da Administração Interna. Normalmente essas decisões são sustentadas na avaliação do risco feita pelas autoridades de saúde. No caso do Porto, não houve qualquer indicação. E repito: não houve qualquer indicação da autoridade de saúde nesse sentido e, portanto, neste momento não faz qualquer sentido essa situação.”
Sub-Diretor Geral da Saúde recusa comentar caso de jovem de 14 anos infetado que morreu
Diogo Cruz declarou que não sabe “o resultado da autópsia” do jovem de 14 anos que estava infetado, embora alguns jornais já avancem que o adolescente morreu de meningite. “Por uma questão de respeito para com a família, acho que não se deve falar de casos particulares”, justificou. O Sub-Diretor Geral da Saúde referiu depois que esta morte não está no boletim.
Acho que é preciso esclarecer que o facto de estarmos numa epidemia de Covid-19, as pessoas podem falecer por outros motivos”, disse.
Depois, explicou que em Portugal a contagem é “muito abrangente na classificação de casos de falecimento por Covid-19”. “Ao contrário do que é a classificação standard das causas de morte — há uma regra para classificação em que se classifica a causa básica —, para este surto e para sermos o mais transparentes e para apanharmos o máximo de casos possíveis, estamos a fazer ao contrário. Havendo Covid e havendo uma menor suspeita de que possa ter sido Covid, estamos a considerar Covid ao contrário de outros países“, detalhou.