A curva epidemiológica portuguesa foi, esta quarta-feira, o tema principal da conferência de imprensa diária da Direção-Geral de Saúde (DGS). Trata-se de um dado fundamental, segundo o secretário de Estado António Lacerda Sales, para “percebermos onde estamos e para onde vamos”, sendo que “tem havido uma estabilidade da curva que se consegue medir através de dados reais e projetados. No entanto, isso não é um dado garantido. Não é como a gripe. Se abrandarmos as medidas que estão a permitir a estabilidade da curva, podemos ter um novo pico”, alertou Graça Freitas, diretora-geral de Saúde.

Uma ideia que foi reforçada por Lacerda Sales: “A nossa resposta à propagação do vírus tem de ser firme e determinada. Não podemos vacilar sob pena de prolongar o que ninguém quer que se prolongue.”

Foi com esse objetivo em vista que o Ministério da Saúde tomou medidas para proteger as Estruturas Residenciais para Idosos — faz agora um mês. Começou por proibir as visitas dos familiares e determinou o isolamento social dos idosos. Hoje, é a capacidade de testagem que pode fazer a diferença. Lacerda Sales garante que estão a ser feitos “centenas de testes” aos utentes e funcionários dos lares e residências de todo o país.

Relativamente aos procedimento que os lares devem adotar, Graça Freitas explica que existem duas normas: “Uma norma diz que um idoso que entra pela primeira vez num lar tem de ter um teste negativo — e mesmo assim fica em quarentena durante 14 dias”. Situação diferente é a de um residente num lar que sai para fazer tratamento num hospital, “só contacta com profissionais protegidos” e regressa. “Aí não faz teste, mas fica em isolamento”.

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“Temos uma carência crónica de ventiladores”

Desde o dia 1 de Março, foram processadas mais de 130 mil amostras para diagnóstico de Covid-19. E para isso é preciso “garantir que os materiais necessários e os kits de testagem cheguem aos locais que mais precisam”, reforçou o secretário de Estado. De uma forma equitativa, como aconteceu com a distribuição de 65 mil testes só na zona norte do país. E que terá de ser feita em relação aos equipamentos de proteção individual, ventiladores ou outros materiais necessárias ao combate da pandemia. “Sempre privilegiando a optimização de recursos e o investimento duradouro na estrutura do Serviço Nacional de Saúde”.

Uma tendência que o especialista de Medicina Intensiva, João Gouveia, que esteve presente na conferência, confirmou: “estamos a obter o material e estamos a distribui-lo de acordo com critérios efetivos”. Apesar do país ter uma carência “crónica de ventiladores”, como reconheceu, nos últimos dias foram distribuídos 144 ventiladores. “Alguns, por vontade expressa dos doadores, foram entregues a hospitais específicos”, como o Hospital de São João. “Estamos a tentar dotar o país dos meios nos sítios onde ele são mais necessários”.

Sobre a capacidade de resposta dos cuidados intensivos, João Gouveia relembra que o número de camas disponível no início do surto era semelhante à de Itália, mas que “a situação está melhor”. Para tal é necessário investir “na formação, no funcionamento em rede e na resposta nacional dada à pandemia”.

Ainda na conferência de imprensa foi abordado o tema dos testes sorológicos ou de “imunidade”. Uma questão que Graça Freitas admite só fazer sentido na “fase de convalescença”. “A ciência não nos permite ainda dizer qual é o tempo adequado” até que os anticorpos se traduzam num “nível protetor”. E reconhece que “quando souber mais sobre estes testes, isto pode ser muito útil como prova final de que a pessoa pode regressar à sua vida normal. Temos de aguardar o que a ciência nos vai dizer nos próximos dias — ou meses”, afirma a diretora-geral de Saúde.