Carlos e Camilla estão casados há 15 anos, um período de calmaria quando comparado com as décadas que antecederam o enlace. Feitas as contas, a história que os une começou há 50 anos, no dia em que se conheceram. A partir daí, sucederam-se os escândalos públicos, entre eles o caso extra-conjugal que abalou os alicerces morais da família real britânica. Hoje, com 71 e 72 anos, respetivamente, Carlos e Camilla partilham uma vida pacata e sem sobressaltos, preenchida por uma agenda de compromissos oficiais ao serviço da coroa. Um dia, o príncipe poderá tornar-se rei. Já a duquesa da Cornualha, não irá além do título de princesa consorte.
O herdeiro do trono britânico conheceu Camilla Shand durante uma partida de polo em Windsor, em 1970. Com vinte e poucos anos, ela um ano mais velha, terá sido amor à primeira vista. Ao fim de alguns encontros, veio o afastamento — Carlos ingressou na Marinha Real Britânica em 1971, arrefecendo o promissor romance com a filha do major e empresário Bruce Shand. Além de estar fora do circuito aristocrático, era bisneta de Alice Keppel, antiga amante do rei Eduardo VII, logo, os laços que ligavam as duas famílias não eram os melhores.
Em 1973, Camilla casa-se com Andrew Parker Bowles, um oficial do Exército Britânico. “Arranjar um marido rico estava no topo da agenda dela”, chegou a afirmar a atriz Lynn Redgrave, com base nos tempos em que foram colegas de escola. “Ela queria divertir-se, mas também queria casar bem. Afinal, para ela, essa era a maior diversão de todas”, adicionou.
De coração partido, ou com uma “sensação de vazio” como descreveu numa carta endereçada na época ao tio, Lord Mountbatten, a vida continuou para o jovem Carlos. Quatro anos depois, conheceu Diana Spencer, uma jovem de 16 anos, irmã mais nova da sua namorada da altura, Sarah McCorquodale. Em 1980, os dois ficaram mais próximos e, a 29 de julho do ano seguinte, o príncipe de Gales casava com Lady Di, a cerimónia da década na Catedral de São Paulo, em Londres.
Contudo, mesmo estando ambos casados, Carlos e Camilla mantiveram uma relação amorosa. Segundo o biógrafo Andrew Morton, Diana confrontou a alegada amante do marido em 1989, durante uma festa — “Camilla, só queria que soubesses que sei exatamente o que se está a passar entre ti e o Carlos. Não nasci ontem”. Em resposta, terá ouvido: “Tens aquilo que sempre quiseste. Tens todos os homens do mundo a apaixonarem-se por ti e dois filhos lindos. O que é que queres mais?”. “Quero o meu marido”, terá respondido a princesa de Gales.
Três anos depois, um tabloide britânico divulgaria gravações de conversas telefónicas que comprovavam o caso extra-conjugal. A separação era inevitável e acabou por ser anunciada pelo próprio primeiro-ministro, John Major. O acontecimento contribuiu para que 1992 ficasse conhecido como o annus horribilis da família real britânica.
Ainda durante o tumultuoso processo de divórcio, Carlos assume a infidelidade numa entrevista televisiva. Um ano depois, em 1995, é a vez de Diana falar publicamente sobre a traição. “Bem, éramos três neste casamento, gente a mais”, afirmou a princesa numa entrevista à BBC. É também nesse ano que Camilla vê o seu divórcio consumado. O do príncipe de Gales fica concluído um ano depois. Em agosto de 1997, Diana morre num acidente de carro em Paris. Tinha 36 anos.
Em janeiro de 1999, Carlos e Camilla fazem a primeira aparição após a morte de Diana. Entre jornalistas, fotógrafos e transeuntes, à saída de uma festa de aniversário no Ritz de Londres, estavam cerca de 200 pessoas à espera de vislumbrar o casal. A relação pode ter ficado oficializada, mas introduzir a namorada na família seria ainda um longo processo. Já dois meses antes, a rainha havia faltado à festa de 50 anos do seu filho mais velho, num possível sinal de reprovação. Foi preciso esperar pelo verão de 2000 para que Isabel II marcasse presença num evento para o qual a futura nora também estava convidada, neste caso, a festa de 60 anos do rei Constantino da Grécia.
Passo a passo, o romance foi evoluindo aos olhos do público. Em 2003, Camilla muda-se oficialmente para Clarence House, a residência do príncipe de Gales. Os dois casam-se a 9 de abril de 2005, após cerca de dois meses de noivado. A cerimónia civil teve lugar em Windsor e William, na altura com 22 anos, foi o padrinho. A rainha e o duque de Edimburgo só se juntaram mais tarde para a cerimónia religiosa, na Capela de São Jorge. À semelhança de Carlos, também Camilla tem dois filhos do primeiro casamento — Laura, de 42 anos, e Tom, de 45. Ambos estiveram presentes no casamento.
Com o título de duquesa da Cornualha, Camilla começou a acompanhar o príncipe Carlos em eventos oficiais e em visitas ao estrangeiro. Contudo, em 2007, optou por não estar presente na cerimónia que assinalou os dez anos da morte de Diana. “Aceitei e quis apoiá-los. Contudo, ao refletir, percebi que a minha presença poderia desviar a atenção do propósito da ocasião […] Agradeço ao meu marido, ao William e ao Harry por apoiarem a minha decisão”, declarou, na altura, em comunicado.
Enquanto Carlos é o sucessor direto de Isabel II, podendo tornar-se rei a qualquer momento, Camilla nunca terá o título de rainha. Segundo um comunicado emitido pela Clarence House no início do mês passado, as condições estabelecidas em 2005, aquando o casamento, permanecem inalteradas — mesmo que Carlos suba ao trono, Camilla será apenas princesa consorte.
Aos 71 anos, Carlos testou positivo para o novo coronavírus, no último mês, embora já tenha revelado que os seus sintomas são leves. Submetida ao mesmo teste, o resultado de Camilla foi negativo, o que não impediu que rumassem ambos à Escócia. Por estes dias, o casal permanece isolado na propriedade de Birkhall, o mesmo destino escolhido para a lua-de-mel, há precisamente 15 anos. Na véspera do aniversário, Carlos e Camilla partilharam uma fotografia juntos nas redes sociais, aliviando a quarentena.
Na fotogaleria, veja a evolução de Carlos e Camilla ao longo das últimas duas décadas.