A Alemanha está disposta a participar em “respostas solidárias rápidas” à crise provocada pelo novo coronavírus, que vão para lá do pacote de 500 mil milhões de euros aprovados — mas não através de soluções de emissão de dívida conjunta (eurobonds), porque tal levaria a alterações de tratados que são demasiado morosas.

A afirmação foi feita pela chanceler alemã, Angela Merkel, numa conferência de imprensa realizada em Berlim esta segunda-feira. Questionada pelos jornalistas sobre a possibilidade de o país apoiar soluções como os chamados “coronabonds”, Merkel afirmou que “é possível discutir novos tratados, mas demoraríamos dois a três anos a encontrarmos soluções”.

“Aquilo de que precisamos para lidar com esta pandemia é de respostas rápidas. E a Alemanha irá participar em respostas de solidariedade para lá dos 500 mil milhões de euros que já temos”, disse a chanceler, segundo a agência Reuters, acrescentando que lhe parece provável que o orçamento da União Europeia venha a ser revisto para acomodar a resposta à pandemia de Covid-19.

A posição de Merkel contra o recurso aos eurobonds não é nova. Ainda na manhã desta segunda-feira, de acordo também com a Reuters, Merkel terá dito numa reunião do seu partido (CDU) à porta fechada que o recurso a eurobonds seria “um caminho errado”. A tal não será alheio o facto de este ser um instrumento altamente impopular entre a opinião pública alemã. De acordo com a edição europeia do Politico, uma sondagem publicada no final de março dava conta de que quase 65% dos alemães são contra a emissão de dívida europeia conjunta.

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O recado de Merkel à China: Quanto mais “transparente” for nesta matéria, “melhor para todos”

Na mesma conferência de imprensa, Merkel enviou também um recado à liderança da República Popular da China, a propósito do novo coronavírus. De acordo com a Agência-France Press, Merkel terá dito que, quanto mais transparente a China for nesta matéria, “melhor para todos”.

O tema que mais dominou a intervenção da chanceler, contudo, foi a situação do vírus na Alemanha, que Merkel classificou como “enganadora”. “Só iremos ver o resultado da abertura das lojas [decretada a partir desta segunda-feira] daqui a 14 dias. Isso torna as coisas mais difíceis”, declarou a chefe do governo alemão, de acordo com a revista alemã Focus. “Temos de continuar a ser consistentes e disciplinados”, acrescentou.

Em causa está o relaxamento de medidas que foi acordado a partir desta semana, com a reabertura de algumas escolas e de lojas. Merkel, aparentemente, teme que os alemães interpretem esse alívio como uma autorização para deixar de seguir as restantes recomendações de combate ao vírus e decidiu alertar que existe o risco de uma segunda vaga. Nos últimos dias, diz, abriu-se uma discussão no país “que insinua uma segurança que hoje em dia ainda não temos”, afirmou.

O esclarecimento surgiu depois de o tabloide Bild ter noticiado esta manhã que Merkel se terá referido a uma “orgia de discussões” na respetiva reunião interna com membros do partido, criticando este debate em torno do alívio de algumas medidas. Confrontada na conferência com o uso da expressão, Merkel disse não ser contra “a discussão pública”, mas acrescentou: “Como chanceler, sinto-me obrigada a revelar a minha posição nesta matéria”.

A sua posição ficou, assim, clara esta segunda-feira: “Ir rapidamente demais pode ser um erro”, avisou aos responsáveis pelos Länder, os estados regionais da Alemanha com um grau significativo de autonomia, segundo a revista Der Spiegel. E, a nível europeu, ficou também a nota de uma maior disponibilidade para apoiar os restantes países — mas não através de coronabonds.