Todos os dias, nas estatísticas atualizadas pela Direção-Geral da Saúde com os números dos casos de Covid-19, são explicados por percentagens os sintomas que a maior parte dos pacientes em Portugal sentiram: febre, tosse, dificuldade respiratória, dor de cabeça, dores musculares e fraqueza generalizada. São aliás esses os sintomas que servem de alerta para ligar para a linha do Serviço Nacional de Saúde. No entanto, em Espanha, onde já se registam 204.178 casos positivos e 21.282 mortos, estão agora a ser investigados outros sintomas como as erupções na pele, que foram detetados em alguns doentes que testaram positivo.

“Desde o início que suspeitamos que existem outros sintomas”, reconhece o diretor do centro de saúde San Fermín, em Madrid, ao El Pais. Segundo Ricardo González, há mesmo doentes que tiveram urticária e, até, diarreia. “Quando chega alguém assim até nós, enviamo-los para a área respiratória”, destinada aos doentes Covid-19. A revista British Medical Journal já o referiu num editorial publicada na última semana. A perda de olfato, detetada há apenas um mês, problemas neurológicos, acidentes vasculares cerebrais, desorientação, dores de cabeça, miocardite, trombose e problemas de visão são algumas das manifestações que também têm sido associadas à Covid-19.

Ao El Pais, a presidente da Associação de Enfermaria Pediátrica, Isabel Morales, diz que há em algumas crianças que testaram positivo sintomas de diarreia e pruridos na pele. Também o Conselho Nacional de Colegios Oficiais de Podologistas comunicou na última semana que têm deparado com “numerosos casos de pessoas doentes, principalmente crianças e jovens, que apresentam pequenas lesões nos pés.” Mas parece não ser apenas em crianças. O jornal El Confidencial relata dois casos positivos de adultos que tiveram manchas nos pés, semelhantes a nódas negras, como se tivessem batido nalgum lugar.

Um dos casos, um homem, pensou que as manchas tinham resultado de uma sessão de ginástica que fez com umas sapatilhas velhas, mas as manchas foram aumentando e depois veio a febre. Na farmácia mandaram-no às urgências. Acabou por ir centro de saúde e disseram-lhe que eram sintomas de coronavírus. Voltou para casa sem tratamento e os sintomas agravaram: as picadas nos pés e as manchas que pareciam hematomas. Já no hospital acabou por fazer o teste e saiu com um resultado positivo de Covid-19, mas negativo de pneumonia.

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O mesmo aconteceu a uma farmacêutica, que chegou a recorrer à sua podologista, para depois perceber que afinal aquelas lesões resultavam do novo coronavírus. Neste caso, a paciente tinha pingo no nariz, até achou que era alergia, e perdeu o olfato.

Juan García Gavín, um dermatologista que dá consultas em Vigo e que está a fornecer informação sobre as manifestações cutâneas da Covid-19 para um estudo, diz que logo no início da epidemia os médicos começaram a ver  “lesões de pele associadas à doença” em Espanha. “Alguns pacientes começaram a consultar-nos sobre problemas nas mãos e nos pés. Mas também existem muitos especialistas que, devido às necessidades do sistema de saúde, saíram dos serviços da dermatologia para o atendimento de pacientes com coronavírus e percebemos que havia algumas lesões características”, explica ao El Confidencial.

A verdade é que “não é incomum que infeções virais provoquem lesões de pele”, lembra. Por isso, através da Academia Espanhola de Dermatologia e Venereologia, o estudo científico Covid-Pele foi criado com a intenção de analisar todos os dados que estão a ser recolhidos dos pacientes. Dezenas de especialistas em todo o país estão a tentar caracterizar as lesões para ver se elas podem ser válidas como critério para o diagnóstico de Covid-19.

Em Itália já foi feito um pequeno estudo nesse sentido com uma amostra de 88 doentes, 20,4 por cento dos quais desenvolveu problemas de pele: manchas, urticária ou mesmo borbulhas parecidas às da varicela.