Há semanas que a arte se revela uma ferramenta poderosa no combate à incerteza e à solidão geradas pela pandemia mundial. A 19 de março, nasceu o The Covid Art Museum, uma galeria virtual aberta a artistas e visitantes, alojada no Instagram, que reúne já perto de 300 obras, das imagens mais inéditas às adaptações de clássicos às duras circunstâncias do surto do novo coronavírus.

Por trás da ideia está um trio de criativos espanhóis da área da publicidade — Irene Llorca, José Guerrero e Emma Calvo. Entre Alicante e Barcelona, o que fizeram foi reunir num único sítio as manifestações que começaram a ver surgir, logo aos primeiros dias de quarentena. “Percebemos que muitos amigos estavam a partilhar publicações artísticas, que estavam a aproveitar o confinamento para criar desde poemas a ilustrações”, explica Irene à Vogue Espanha.

Pintura de CJ Lee

“Mas não era apenas no nosso círculo. Havia muita gente a produzir obras inspiradas na pandemia e nas suas consequências sociais. Foi aí que pensámos que valia a pena compilá-las num único sítio para não se perderem. Um testemunho visual de toda a arte que estava a surgir no momento”, continuou ainda.

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O perfil é hoje uma amostra eclética do que agentes criativos podem criar dentro de quatro paredes. Reúne pintura, ilustração, fotografia, instalação, moda e arte digital. Uma das últimas obras retrata o rosto de uma profissional de saúde, marcado pelo uso de máscara, e chega diretamente de Vancouver, no Canadá, pelas mãos de CJ Lee. Enquanto isso, o ucraniano Alexey Kondakov pega em personagens de quadros clássicos e insere-as em cenários contemporâneos. Foi o que fez a partir da pintura “As Rosas de Heliogábalo”, de Lawrence Alma-Tadema. O resultado é a imagem na abertura deste artigo.

Fotografia de Paola de Grenet

Esteja onde estiver, qualquer artista pode propor as suas criações para o The Covid Art Museum. A equipa criou um formulário, disponível no perfil de Instagram, para que todos possam submeter os seus trabalhos à aprovação dos curadores de serviço. “Procuramos qualidade, originalidade e impacto. E que seja algo que comunique com o público e lhe provoque emoção”, adicionou Irene Llorca.

Atualmente, a conta já ultrapassou os 42 mil seguidores, tendo recebido mais de 1.000 obras através do formulário, de artistas de 50 nacionalidades diferentes. Salvador Dalí de máscara, Gioconda com uma pilha de rolos de papel higiénico ou uma lista de supermercado redigida sobre uma luva de proteção — o humor faz, muitas vezes, parte do processo criativo. Além da própria arte, é também ele uma das armas mais eficazes em temos de pandemia.