A ministra da Saúde explicou que há uma mudança no critério para dar um doente como recuperado da Covid-19: no caso dos utentes que não estão internados, basta terem um teste negativo para serem dados como curados — sem necessidade de fazer um segundo, como acontecia habitualmente. No caso dos doentes que estão hospitalizados, mantém-se a regra dos dois testes.
Está livre de doença quem tenha tido os seus sintomas resolvidos, ultrapassados e simultaneamente tenha testado negativo para Covid-19. A diferença face à situação anterior, para doentes que não tenham tido internamento hospitalar este teste negativo é um teste negativo após 14 dias depois do início de sintomas — enquanto que para os doentes que tenham tido internamento, mantém-se o critério de dois testes negativos, com intervalo de 24 horas”, explica Marta Temido.
Ressalvando que todas as alterações feitas pela Direção-Geral da Saúde às normas que determinam como são tratados os doentes com Covid-19 em Portugal se baseiam em evidências científicas, normas internacionais, exemplos de outros países e na própria experiência adquirida, Graça Freitas acrescentou que a partir de agora os pedidos de teste ao novo coronavírus passam, da linha Saúde 24, para a competência dos centros de saúde.
“Temos trabalhado na preparação de um eventual desconfinamento”
A ministra da Saúde anunciou também que “na última semana” tem sido levado a cabo “intensamente” um trabalho “na preparação de um eventual desconfinamento”. “No curto e médio prazo, não vamos erradicar a doença e temos de aprender a viver com a SARS-COV-2. Toda a agenda que está em construção, a preparação que está a ser feita, não significa que o problema está ultrapassado. Apenas começamos a antecipar a luz ao fundo do túnel, mas ainda não lá chegamos”, alerta.
Marta Temido diz ainda que um eventual desconfinamento “exige o respeito por todas as medidas de saúde pública” e “não significa um regresso à normalidade” — que “só será possível” quando houver uma vacina. A governante aponta ainda que “esta preparação e eventual aplicação será reavaliada e modificada em função da evolução das circunstâncias, sendo antecipável que o progresso se construa com avanços e recuos”. Há três critérios para um eventual desconfinamento:
- “Critérios epidemiológicos que mostrem que a infeção se encontra controlada”;
- “Critérios de capacidade de reposta do SNS que mostrem que os serviços têm capacidade de responder às necessidades, sejam elas Covid ou não Covid”;
- “E critérios de vigilância que mostrem a resposta a testes, rastreios de suspeitos e isolamentos de casos”, explica Marta Temido.
Também a diretora-geral de Saúde alertou a população, face os exemplos de “desconfinamento” evidenciados um pouco por todo o País nos últimos dias, para a importância de “não abrandarmos o nosso nível de contenção”. “Mesmo que se venha mais para a rua porque o dito passeio higiénico também faz bem, temos de fazê-lo de forma regrada, de evitar ajuntamentos, não irmos todos para os mesmos sítios e criarmos sempre em relação às pessoas o célebre distanciamento social”, avisou.
Nos “próximos tempos”, voltou a frisar Graça Freitas, vai ser essencial encontrar um “equilíbrio”: “Vamos ter de tentar manter a nossa saúde mental, tentar manter a sociedade e a economia a funcionar” sem “pôr em risco a saúde pública.”
“É um 25 de abril menos leve”. DGS diz que Assembleia da República “deu um exemplo”
“É um 25 de abril menos leve”, afirmou a ministra da Saúde, que levou um cravo para a conferência de imprensa, sobre o feriado que marca a queda da Ditadura do Estado Novo. Marta Temido fez ainda questão de assinalar a construção do Serviço Nacional de Saúde (SNS) como uma conquista do regime democrático. “Quando o SNS, com o empenhamento insuperável de todos os seus profissionais, responde com eficácia a um quadro tão difícil, penso que se fez a prova de que tinham razão os que o construíram. Fica uma obrigação de o manter, de o melhorar como um pilar fundamental”. A ministra da Saúde considerou ainda que “não assinalar o 25 de abril seria admitir que viveríamos bem sem ele”.
Que fique claro que nós dizemos sempre que as máscaras podem e devem ser usadas em meios interiores, quando esses meios interiores não permitirem o distanciamento social. Nós estamos nesta sala e não estamos com máscara porque estamos a cumprir as regras de distanciamento”, exemplificou a diretora-geral de Saúde, quando questionada sobre a ausência de máscaras a proteger os rostos dos participantes na cerimónia desta manhã de celebração do 25 de Abril no Parlamento.
“O que a Assembleia da República hoje deu foi um exemplo de como se pode compatibilizar a comemoração de uma data importante para o nosso País com regras de controlo de infeção, com regras de segurança, com regras de proteção da saúde”, disse Graça Freitas, depois de elogiar o “excelente” plano de contingência da AR.
Polémica? Marcelo nunca teve dúvidas. Foi ao 25 de Abril contra “pulsões momentâneas”
“A retoma da atividade não Covid vai ser gradual”. Consultas não presenciais serão “estimuladas”
Sobre os cuidados de saúde que ficaram suspensos, Marta Temida adianta ainda que “vários hospitais iniciaram já a reprogramação da atividade suspensa e praticamente todos têm já um calendário definido para a retoma”. “A retoma da atividade não Covid vai ser gradual, faseada e em função do contexto epidemiológico da unidade de saúde”, detalha, lembrando que os utentes devem, de acordo com normas que a DGS irá anunciar, “realizar vigilância sanitária antes de terminados atos de saúde” e “os profissionais de saúde devem estar protegidos”.
Até ao final de março, explica a ministra, houve uma redução de cerca de menos 325 mil consultas de cuidados de saúde primários e menos 360 mil consultas de enfermagem nos cuidados de saúde primários. “Queremos estimular o recurso às consultas não presenciais, ainda mais e torná-las uma prática ainda mais comum”, disse. Marta Temido adiantou também que houve um decréscimo de cerca de 181 mil consultas médicas hospitalares e nove mil cirurgias. Mais: houve uma diminuição de 185 mil episódios de urgência.
Em comparação com períodos pós-greve vividos no ano passado, a ministra considera que “esta recuperação que aí vem vai ser muito mais penosa”, explicando que é preciso haver “maior espaçamento entre consultas” e “mais cuidados”.
A ministra da Saúde considerou que o SNS “tem garantido aos portugueses e às portuguesas um aspeto essencial que não existe no sistema privado por mais que se queira: a reposta em saúde pública”. “Porque a saúde pública, como não vende, como é uma resposta que está disponível apenas para aconselhamento geral, para o bem estar geral e não apenas para a satisfação de um indivíduo concreto, é uma garantia adicional”, disse Marta Temido, deixando uma homenagem aos profissionais de saúde.
A ministra da Saúde explicou que o contrato para aquisição de equipamentos de proteção individual, na sequência da pandemia, com a empresa FHC -Farmacêutica de mais de 19,6 milhões de euros, foi revogado por uma questão de “incumprimento do prazo contratual de entrega”. “Não é uma situação incomum. Um dos fornecedores de máscaras não respeitou o prazo de entrega das mesmas e houve uma revogação do contrato”, explica.
Sobre o projeto-piloto que o Instituto Ricardo Jorge está a preparar, para submeter a testes serológicos cerca de dois mil portugueses (entre os quais 300 crianças com mais de 10 anos), Graça Freitas alertou para o grande desconhecimento que a comunidade científica tem ainda sobre a questão da imunidade ao novo coronavírus. “Estamos a fazer um caminho de aprendizagem destes testes serológicos; sendo que à data nós não conseguimos, com segurança, interpretar estes resultados. Há presença de anticorpos, é suposto que exista, mas não sabemos ainda interpretar essa presença. Se são em quantidade suficiente, se essa quantidade é suficiente para dar proteção e se essa proteção vai durar durante muito ou pouco tempo…”, afirmou a diretora-geral, reforçando que ainda existe muito para a ciência descobrir no que à Covid-19 diz respeito.