“Não há transmissão comunitária generalizada na Nova Zelândia. Vencemos essa batalha. Mas devemos permanecer vigilantes se quisermos continuar assim”. Jacinda Ardern, a primeira-ministra do país, reclamou uma primeira vitória contra o novo vírus que já conta com quase 3 milhões de infetados no mundo. É um caso de sucesso na contenção do vírus, que os especialistas estão a atribuir às adoção de medidas de alta restrição logo na primeira resposta, com a Nova Zelândia a apontar à eliminação e não ao famoso achatamento da curva de infetados.
A meio deste mês, o país contava apenas com uma morte provocada pela Covid-19 e, neste momento, o número de óbitos é inferior a 20, sendo que há 1.121 casos registados de infeção pelo novo coronavírus no país. Devi Sridhar, cientista de saúde pública na Universidade de Edimburgo que antecipou o vírus em 2018, diz que isso se deveu a “medidas precoces de distanciamento físico e controle de fronteiras e testes agressivos, procedimentos de rastreamento e isolamento”.
O país passou diretamente, logo em março, para um nível elevado de contenção do vírus (nível 4), quando ainda existiam seis casos de contaminação no país. Isso e um plano de encerramento que foi considerado dos mais agressivos a ser aplicado no mundo. Por exemplo, logo a 20 de março, a Nova Zelândia fechou as suas fronteiras a estrangeiros (o mesmo fez a Austrália). E os cinco milhões de habitantes viram fechadas, a 26 de março, escolas, bares, restaurantes, incluindo serviços de take-away e também serviços. Foram fechadas praias, parques de diversões e apenas permitidos curtos passeios. O país passou a quarentena total.
Medidas que levaram o país, considera Sridhar, a estar numa “posição melhor para flexibilizar o bloqueio mais cedo e retomar a economia e a sociedade, mantendo baixo o número de mortes relacionadas com a Covid-19”. A Nova Zelândia está hoje “numa posição invejável”, sustentou num artigo publicado no The Guardian, sendo o exemplo de um país que “está a trabalhar ativamente para conter o vírus”, mantendo “os números tão baixos quanto possível” e “ganhando tempo para criar uma resposta política mais informada e, ao mesmo tempo, proteger suas economias e sociedades”.
Isto, continua no mesmo texto, enquanto os outros, que deixaram “o vírus espalhar-se lentamente pelas populações (apenas achatando a curva em vez de impedir completamente a propagação), estão apenas a apostar na vida das pessoas e vão ser apanhados num ciclo de restrição/levantamento de medidas que vai destruir a economia e causar distúrbios sociais, bem como mortes relacionadas com Covid-19 e sem ser relacionadas com esta doença”.
Mas os especialistas apontam outras vantagens do país que facilitam a contenção do contágio: é isolado e as fronteiras são facilmente controláveis.
Mesmo ali ao lado, também a Austrália tem sido elogiada, já que com uma população de 25 milhões de pessoas conseguiu manter o número de mortes igualmente baixo. Aliás, de acordo com as contas feitas pela BBCNews, a Austrália tem uma posição melhor do que a Nova Zelândia, quando em causa está a taxa nacional geral. São cerca de 26 casos por 100 mil pessoas, enquanto na Nova Zelândia há 30. As medidas tomadas, nomeadamente a do fecho de fronteiras, foi coordenada entre os governos dos dois países. No entanto o plano de restrição australiano não teve a mesma intensidade de medidas e prolonga-se mais no tempo.
A partir desta terça-feira, o plano neozelandês passa da fase 4 para a 3, mas a primeira-ministra avisa: “Estamos a abrir a economia, mas não estamos a abrir a vida social das pessoas”. Ardern mantém o apelo à necessidade de as pessoas se manterem na sua “bolha”. Isto na véspera de serem retomadas algumas atividades, vão reabrir escolas e será permitido o funcionamento dos serviços de take-away. Os pescadores e surfistas também vão poder voltar às praias a partir desta terça-feira.
“Temos de garantir que o vírus não se solta novamente contra nós provocando uma nova onda de casos e mortes”, avisou esta segunda-feira, numa frase praticamente colada àquela em que reclamou vitória sobre uma batalha. A guerra, já se sabe, leva mais tempo a vencer.