No briefing diário da Organização Mundial de Saúde, o diretor-geral do organismo comparou a pandemia de Covid-19 a um ataque terrorista. “Pode trazer turbulências económicas, sociais e políticas”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, acrescentando que a OMS “não se rendeu” ao novo coronavírus e “não se vai render”. “A nossa escolha deve ser unirmo-nos contra este vírus. A escolha deve ser a solidariedade global e a humanidade, frente a este vírus”, concluiu.

Na conferência de imprensa desta quarta-feira, a OMS decidiu assinalar os três meses que passaram desde que foi decretada a emergência pública mundial, data que se assinala esta quinta-feira. O diretor-geral, na intervenção inicial, optou por realizar uma cronologia que começou no dia 31 de dezembro, quando a OMS recebeu uma notificação sobre um “tipo de pneumonia”, e se prolongou durante o mês de janeiro, até ao dia em que foi decretada a emergência pública mundial, o “nível mais alto de alarme” do organismo.

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“A 12 de janeiro, a China partilhou o ADN do novo coronavírus. Nesse mesmo dia, a China registou a primeira morte. A 13, regista-se a primeira morte fora da China (…) A 22 e 23 de janeiro, convoquei o Comité de Emergência, composto por 15 especialistas independentes do mundo inteiro. Nesse momento, tínhamos 581 casos na China e apenas 10 fora da China. O Comité de Emergência estava dividido nas suas opiniões e não recomendou que fosse declarada a emergência sanitária internacional”, disse Ghebreyesus, concluindo depois que a emergência foi declarada a 20 de janeiro, depois de o Comité viajar até Pequim e reunir com Xi Jinping, o presidente chinês.

“Desde o princípio que a OMS atuou de forma rápida e diligente. Fizemos soar o alarme rápido e frequentemente. Dissemos que o mundo tinha tempo para se preparar e para prevenir contágios nas comunidades. Realizámos conferências de imprensa diárias desde o início. A OMS está comprometida com a transparência e a responsabilidade”, explicou o diretor-geral, adiantando que convocou para esta quinta-feira o mesmo Comité de Emergência para a avaliar a situação pandémica e atualizar as recomendações internacionais.

Sobre os casos recuperados, foi dito que “quando alguém recebe alta no hospital ou termina a quarentena em casa”, a recomendação da OMS é “fazer dois testes” — se o resultado for negativo, a pessoa em questão está recuperada. “Nos sítios onde não existem muitos testes, se der negativo uma vez, devem ficar mais duas semanas em casa”, acrescentou o diretor-geral.

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Outro dos temas abordados na conferência de imprensa da OMS foi a relação entre o novo coronavírus e a doença de Kawasaki, um síndrome raro que afeta crianças que provoca a inflamação dos vasos sanguíneos. No Reino Unido, principalmente, têm surgido notícias de crianças que estavam infetadas com a Covid-19 e que acabaram por desenvolver sintomas compatíveis com a doença de Kawasaki. Maria van Kerkhove, a epidemiologista que é a responsável pelo departamento de doenças emergentes da OMS, indicou que o organismo está “alerta” sobre estes casos mas ressalvou que “parece ser algo pouco habitual”. Van Kerkhove recomendou ainda à rede internacional de médicos que esteja alerta para este tópico específico e recolha a informação necessária para “entender melhor como o corpo está a ser afetado” e se existe alguma relação entre as duas doenças.

Sobre o desenvolvimento da vacina para a Covid-19, a OMS recordou que “há dois meses” disse que demoraria “entre 12 a 18 meses”, logo, atualmente, ainda vai tardar “entre 10 a 16 meses”. “A OMS lançou um projeto para ter a vacina antes daquilo que projetámos mas também para assegurar que as vacinas chegam a toda a parte do mundo. Sabemos que é difícil, mas não é impossível”, concluiu. Tedros Adhanom Ghebreyesus garantiu ainda que a OMS está a colaborar com o Google e o Facebook para que a informação divulgada pelas duas ferramentas seja alcançada através de “fontes fiáveis” e as fake news sejam eliminadas.

África Ocidental e Central regista aumento dramático de casos

A diretora da OMS África alertou esta quarta-feira para um aumento “dramático” de infeções pelo novo coranavírus na região África Ocidental e Central, que concentra 54% dos casos e 35% das mortes do continente e níveis “muito baixos” de testes.

Matshindiso manifestou “grande preocupação com a propagação do vírus” nesta região, onde o número de testes à doença tem sido “muito baixo”, sendo que os 24 países da África Ocidental e Central registam quase 11.300 casos acumulados de Covid-19 e mais de 300 mortes.

“A testagem é um primeiro passo fundamental para saber onde está o vírus para podemos parar a sua propagação. Há uma grande falta de testes e esta é a nossa prioridade no apoio aos países”, disse.