Depois de um atraso de mais de duas horas, que justificou com a “a necessidade de reverificar todos os números”, Marta Temido deu início à habitual conferência de imprensa diária na sede da Direção Geral de Saúde e, um dia depois da confusão dos 422 casos duplicados na região Norte, avisou que os dados divulgados este domingo devem “ser lidos com prudência”.

“Estes números devem ser lidos com prudência, desde logo pelo conhecido efeito na notificação médica, que tem a circunstância de termos passado três dias com eventual menor atividade decorrente do facto de ser fim de semana e um dia feriado. Houve muito poucas notificações médicas de casos nas últimas 24 horas, o que nos obrigou a rever todas as notificações laboratoriais para verificar todos os casos”, explicou a ministra da Saúde.

Nas últimas 24 horas, de acordo com o boletim divulgado este domingo, terão sido registados mais 92 casos de infeção pelo novo coronavírus em Portugal e confirmadas mais duas dezenas de mortes. Explicaria minutos depois a diretora-geral da Saúde, só o número de óbitos no País é que não é suscetível de dúvidas — o registo é centralizado online, “segundo a segundo”, através de um único sistema de reporte.

O mesmo já não acontece, admitiu, com os dados relativos às novas infeções. Os dados apurados localmente “são mais finos e precisos” do que os nacionais, reconheceu Graça Freitas, que revelou ainda que os dados repartidos por concelhos que diariamente constam dos boletins da DGS “são indicativos e vão sendo afinados dia a dia”.

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“A nível macro, a nível nacional os números estão o mais próximo possível da realidade”, fez ainda questão de assegurar.

Questionada sobre as discrepâncias de que alguns autarcas têm dado conta relativamente aos dados divulgados no boletim nacional epidemiológico da DGS e aos apurados pelas próprias autoridades locais, Graça Freitas voltou a explicar o funcionamento do SINAVE e o processo de declaração de novos casos de infeção por SARS-CoV-2, que junta várias plataformas e não é automático, podendo dar azo a erros e duplicações, como a detetada neste sábado.

Depois, explicando que muitas vezes o local de infeção pode não corresponder à morada do paciente e admitindo, como aconteceu este sábado, a possibilidade de duplicação de resultados, nomeadamente após a integração das informações recolhidas a nível laboratorial, a diretora-geral da Saúde revelou que é exatamente por isso que no boletim deste domingo não há informação atualizada por concelhos.

“As informações mais incompletas dos laboratórios não permitiram que do relatório de hoje constassem dados relativos aos casos registados por concelhos, apenas os totais nacionais”, disse Graça Freitas, frisando a “dificuldade” do processo, “pequenas discrepâncias de métodos” e o “grande esforço” que o Ministério da Saúde está a fazer para simplificar toda a questão.

“Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, encarregues da componente tecnológica, estão a tentar trabalhar em soluções que melhorem a vida de quem tem de notificar e a integração dos dados, a nível central. Quanto mais automático tudo for, mais isento de erros será. Esta é uma grande preocupação, de facto. Temos tido muito cuidado e é por isso que às vezes nos atrasamos”, concluiu.

“Não se confundam celebrantes com peregrinos”

Após a polémica dos números, a controvérsia sobre as celebrações do 13 de maio. Depois de este sábado à noite, em entrevista à SIC, ter dito que as celebrações no Santuário de Fátima poderiam ser “uma possibilidade”, Marta Temido foi questionada sobre a sua aparente mudança de posição — a habitual peregrinação está cancelada desde o início de abril, por causa da pandemia —, e garantiu que foi mal interpretada.

Sobre as declarações proferidas menos de 24 horas antes — “Se essa for a opção de quem organiza as celebrações, de organizar uma celebração do 13 de Maio onde possam estar várias pessoas, desde que sejam respeitadas as regras sanitárias, isso é uma possibilidade” — Marta Temido respondeu: “Não se confundam celebrantes com peregrinos”.

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“Deixe-me ser muitíssimo clara sobre aquilo que foi ontem a minha intervenção; todos sabem que a Igreja Católica já há muito decidiu, e com grande prudência, que este ano não haveria peregrinos no Santuário de Fátima. Por decisão da Diocese de Leiria-Fátima as celebrações iriam ter lugar dentro da Basílica e seriam transmitidas televisivamente. Em articulação com as autoridades eclesiásticas iremos utilizar os mecanismos que uma das últimas resoluções de Conselho de Ministros prevêem — estou a falar da resolução de Conselho de Ministros número 33 A 2020 — que, no seu artigo 18º, explicita que os membros do Governo responsáveis pelas áreas da Administração Interna e da Saúde podem, conjuntamente, autorizar a realização de determinadas celebrações ou eventos”, continuou a ministra da Saúde.

“Aquilo que é preciso deixar muito claro a este propósito é que o Ministério da Saúde o que ontem pretendeu explicitar é que há uma diferença entre peregrinos e celebrantes. E aquilo que a Igreja Católica já definiu muito concretamente foi a sua intenção de que, num contexto de prudência e de especial cautela, este ano as celebrações acontecessem num quadro específico. Nós estamos obviamente totalmente disponíveis para apoiar a Igreja Católica ajudando à definição daquilo que sejam as regras específicas para essas celebrações, mas não se confundam celebrantes com peregrinos. Da mesma forma que noutros contextos nenhum evento aconteceu da exata forma como tinha acontecido antes. Penso que estará clara a ideia de que não há aqui nenhuma situação diferente daquela que estava prevista e prudentemente definida pela nossa Igreja”, concluiu finalmente o assunto.