A ministra da Saúde admitiu este sábado em entrevista à SIC a hipótese de ser feita a peregrinação do 13 de Maio em Fátima, que foi cancelada por decisão do próprio santuário no início de abril.

“Desde que sejam respeitadas as regras sanitárias, isso é uma possibilidade”, disse Marta Temido. “Cada organizador de uma iniciativa tem de fazer um juízo de valor sobre aquilo que vão ser os riscos que vai correr, e pode haver entidades que entendam que aquilo que está em causa é compatível com determinadas regras.”

Esta admissão de Marta Temido vai contra o plano de desconfinamento anunciado pelo Governo esta quinta-feira. Naquele documento, é estipulado o fim-de-semana de 30 e 31 de maio (duas semanas e meia depois de 13 de maio) como data para a reabertura ao público de cerimónias religiosas “de acordo com regras a definir entre a DGS e confissões religiosas”. Este sábado, a Conferência Episcopal Portuguesa emitiu uma série de recomendações para a retoma da atividade da Igreja Católica no país — sempre depois de 30 de maio e, nalguns casos, até mais tarde.

Peregrinação de maio em Fátima celebrada sem peregrinos

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A possibilidade — meramente académica — de a peregrinação do 13 de Maio em Fátima vir a acontecer surgiu depois de, na entrevista à SIC, a ministra da Saúde ter defendido a realização da manifestação da CGTP em Lisboa, para assinalar o Dia do Trabalhador, dia 1 de maio. “Foi um número significativo de pessoas, superior àquilo que é um número-regra, mas um número enquadrado dentro daquilo que era a sinalização de uma data”, disse, sublinhando que aquela manifestação foi alvo de uma exceção, aprovada pelo Governo e decreta pelo Presidente da República, depois de as autoridades de saúde terem acordado uma solução em que os líderes sindicais ficaram a uma distância de suposta segurança.

Fotogaleria. Uma Alameda D. Afonso Henriques cheia, mas com distância de segurança: um Dia do Trabalhador histórico

A ministra da Saúde defendeu ainda que não é comparável o pedido de isolamento que se pede à generalidade da população e a abertura de uma exceção para aquela manifestação da CGTP. “As instituições têm sempre uma outra forma de representação social que os indivíduos não têm. Porque é que o Natal é mais importante do que aniversário do que qualquer um de nós individualmente considerado?”, lançou a ministra.

Possível falta de máscaras “é uma preocupação”

Questionada sobre a alteração da norma sobre a utilização de máscara — que numa primeira fase foi desaconselhada pela Direção-Geral de Saúde e pelo Ministério da Saúde mas que, entretanto, foi recomendado e até declarado como de uso obrigatório dentro de transportes públicos a partir de segunda-feira —, a ministra negou que essa mudança de de máscaras a nível nacional.

“Não foi uma questão de falta de máscaras que determinou a opção”, respondeu. “Foi a questão de não termos ainda uma indicação técnica de entidades que normalmente seguimos a esse propósito.”

Sobre a possibilidade de virem a faltar máscaras na nova fase iniciada na segunda-feira — em que finda o estado de emergência e começa o estado de calamidade, menos restritivo —, a ministra da Saúde admitiu que isso “é uma preocupação”. Ainda assim, acrescentou em que conta com fabricantes portugueses para suprir uma eventual falta de máscaras: “Estamos muito apostados em que a nossa indústria nacional responda ao que foi uma alteração da forma como tínhamos esta questão das máscaras enquadrada”.

Marta Temido voltou a sublinhar que as máscaras mais graduadas — cirúrgicas, FFP2 e FFP3 — são de uso prioritário para doentes de Covid-19 e trabalhadores de saúde. Para a população em geral, recomenda-se o uso de máscaras comunitárias, aprovadas pelas autoridades. Ainda assim, a ministra admitiu ainda o uso de máscaras de uso caseiro: “Não está completamente fora de hipótese de individualmente, feito em casa, haver produção de artigos para esse efeito”.

Aumento no SNS seria “ter um país a duas velocidades”

Sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS), Marta Temido realçou que o regresso da “confiança” dos cidadãos nos hospitais públicos e o retoma da atividade não-Covid será feita através da manutenção dos contratos dos mais de 1.800 trabalhadores contratados a propósito desta pandemia. Dessa forma, explica a ministra, será possível que os restantes trabalhadores “possam garantir respostas àquilo que ficou por fazer”.

Questionada sobre a possibilidade de haver aumentos no SNS, Marta Temido referiu que “precisamos de premiar obviamente o trabalho”, mas não admitiu essa possibilidade em particular. “Não podemos ter um país a duas velocidades”, apontou.