Ao longo de 45 dias, o equivalente aos três períodos do estado de emergência decretados em Portugal de forma consecutiva para combater a pandemia da Covid-19, Frederico Varandas deixou a reserva e voltou ao exercício de funções e esteve ao serviço do país no Hospital das Forças Armadas, lidando com os assuntos relativos ao Sporting nos tempos “fora de horas” e marcando presença institucional em alguns esporádicos momentos como a reunião em São Bento que juntou governo, três “grandes” e líderes de Federação e Liga. No início da semana, e outra vez a full time na liderança dos leões, voltou à Academia. E foi aí que deu a primeira entrevista nesta fase.

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Pelo meio, vários assuntos foram surgindo na agenda verde e branca. Ultrapassada a “polémica” que se criou em torno da obrigatoriedade ou não de voltar a servir o país quando já antes anunciara a sua disponibilidade, ao longo de um período que levou mesmo um movimento de associados a colocar em causa a continuidade na presidência ao abrigo dos estatutos do clube, ainda houve o não pagamento de Rúben Amorim ao Sp. Braga, os cortes salariais na SAD dos administradores aos jogadores ou a entrada em layoff de 95% dos funcionários. No entanto, o líder leonino, que se encontra quase a meio do mandato de quatro anos, tem preocupações maiores como a sustentabilidade desportiva e financeira dos conjuntos nacionais no período pós-Covid-19.

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“Se o futebol profissional não pode arrancar, que empresa em Portugal pode? Não há nenhuma empresa em Portugal onde os trabalhadores tenham tão boas condições e tão poucos fatores de risco. O grande problema vai ser o mercado de transferências, de onde vem 50% das receitas, das vendas de jogadores. O mercado português é exportador de jogadores. Não tenho qualquer dúvida, nem o Benfica nem o FC Porto, sobre perceber que demorarão uns bons anos para os clubes grandes voltarem a ter a capacidade financeira que tinham antes da pandemia”, destacou Varandas, numa entrevista à SIC concedida num sintético coberto da Academia, numa visão mais drástica do que tinha sido apresentada por Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD do Benfica, que apontou à BTV um período de 12/18 meses de mercado mais baixo antes de regressarem os valores “normais”.

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Em paralelo, o presidente do Sporting deixou também uma “revelação” que se pode aplicar à temporada 2020/21 (no início ou em toda a época). “Já não estou a falar das limitações que o governo nos está a informar. Para o ano talvez tenhamos de vender só um quarto dos estádios e isso significa um quarto de receita de bilhética, de sponsors, de patrocinadores, parceiros. Vai ser uma nova realidade e um problema gravíssimo. Num momento como este, há o instinto de sobrevivência e se os grandes não defenderem a indústria do futebol numa altura destas, não vamos estar cá muito tempo”, acrescentou, a propósito da reunião mantida em São Bento e dando prolongamento a uma posição conjunta que se fez sentir também no encontro seguinte entre clubes da Liga.

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“A crise afetou muito a indústria do futebol mas dentro dos países mais afetados Portugal é um dos piores. Agora não sabe como será o mercado daqui a um ou dois anos. Bruno Fernandes saiu por 65 milhões [55 milhões mais 20 milhões por objetivos], agora valeria quanto? 30, 20 milhões? O facto de o Sporting ter reduzido em muitos milhões os custos com a equipa ajudou a estar um bocadinho melhor preparado. Mais do que nunca o Sporting vai ter de viver da formação”, destacou, antes de acrescentar um outro ponto de conversa: “Haver um presidente que é médico e esteve no terreno, e aqui foi o do Sporting mas podia ter sido do FC Porto ou do Benfica, deu confiança ao governo porque tenho uma visão mais científica do que os meus colegas”. Em paralelo, Varandas criticou os comentários do departamento médico da FIFA, descrito como “antiquado e com pouco conhecimento científico”.

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“Ser médico é uma profissão que quem o é nunca deixa de o ser. Foi um arregaçar as mangas, vestir a farda e voltar. O facto de ser presidente do Sporting tornava as coisas, ao nível da vida hospitalar, mais animadas. É engraçado que, mesmo só pelos olhos, muitos doentes reconheciam-me. ‘Desculpe lá, você não é o doutor Varandas? Depois temos de tirar uma selfie, nem que seja com distância’. No meu primeiro serviço de urgência, aquilo era uma sala de médicos, acho que de enfermagem, de ortopedia ou urologia, não sei, e tinha um quadro do Benfica. Quando cheguei, a minha primeira medida foi organizar-me, com o meu computador, e depois olhei para a parede… Não sei o que aconteceu, mas o quadro desapareceu”, recordou de forma mais descontraída.