A Direção-Geral da Saúde está a ponderar fazer testes retrospetivos para saber se os casos de pneumonia com causa desconhecida identificados no final do ano passado e início deste já tinham sido provocadas pelo novo coronavírus. Em conferência de imprensa esta quinta-feira, Graça Freitas disse que “a DGS, com o seu grupo de especialistas, está a ponderar a questão”.
Esta é uma estratégia que vai ser aplicada por outros países, nomeadamente em França, para saber se a Covid-19 já tinha entrado nesses territórios ainda antes de ser conhecida pela comunidade científica. “É uma questão muito complexa mas está a ser ponderada de acordo com a informação publicada e das orientações da OMS”, concretizou Graça Freitas.
A notícia surge no dia em que se verificou uma subida de 4,3% no número de casos a necessitar de internamento, revela o boletim epidemiológico publicado esta quinta-feira. Neste momento, há 874 pessoas internadas nos hospitais portugueses. No entanto, houve uma diminuição de um caso nos cuidados intensivos. São agora 135.
Segundo António Lacerda Sales, secretário de Estado da saúde, desde dia 1 de março foram realizados mais de 490 mil testes de diagnóstico para Covid-19. Há 73 laboratórios a processar amostras no país. Destes, 32 são do Serviço Nacional de Saúde, 19 de grupos privados e outros 22 são de outras entidades, como a academia ou o exército.
Quanto a testes, há um “stock disponível de mais de 1 milhão”, contabilizou o secretário de Estado. Daqui, mais de 340 mil foram distribuídos pelo SNS e pelas regiões autónomas. Destes 45% estão no Norte, 33% em Lisboa e Vale do Tejo, 8% no Centro, 4,4% no Algarve, 1,5% no Alentejo e o resto nos Açores e Madeira. Há ainda uma reserva de 915 mil kits de extração.
Professores podem vir a ser testados
Sobre o pedido da FENPROF para testar os professores no regresso às escolas, Graça Freitas responde que a DGS está a analisar essas situações:
“O que vos posso dizer é que analisamos essas situações. Há uma política para testar em lares, sobretudo os trabalhadores, há para os estabelecimentos prisionais e para as creches. Estão a ser analisadas outras situações que requeiram o mesmo acompanhamento”, indicou.
As autoridades de saúde confirmaram que o R0 na região de Lisboa e Vale do Tejo — quantas pessoas alguém infetado tem potencial de contagiar — é “ligeiramente superior” ao verificado no resto do país neste momento. Graça Freitas confirma que tem havido um maior número de casos de Covid-19 identificados na região da capital portuguesa e que se está a estudar os motivos.
Uma das teorias, avança a diretora-geral da saúde, é o facto de terem sido feitos testes em massa em Lisboa e Vale do Tejo, o que pode resultar na identificação de um maior números de casos na região.
Em Loulé, os testes serológicos também demonstraram que os contactos com o vírus foram muito superiores (14 vezes) do que os casos diagnosticados nesse concelho algarvio entre os profissionais mais expostos durante o confinamento — como profissionais de saúde ou polícias.
Mas sobre esse caso, Antínio Lacerca Sales preferiu não falar:
“Não conheço em pormenor a metodologia utilizada no trabalho que referiu, de qualquer das formas posso dizer que essa análise deve sempre ter em conta o tipo de amostras que se tem”, respondeu o secretário de Estado.
Mortalidade “de acordo com o esperado”
Questionada sobre a mortalidade verificada fora dos registos relacionados com Covid-19, a diretora-geral da saúde disse que esses dados são recolhidos e que não há nenhuma alteração dos números de base: “A mortalidade está de acordo com o que é esperado para esta época do ano, somando mortes por Covid e mortes por todas as outras causas”, disse.
Graça Freitas também explica porque é que algumas pessoas dadas como curadas e sem sintomas da doença continuam a testar positivo para o SARS-CoV-2:
“Pode ter o significado de terem partículas de ARN do vírus, não significando que têm a doença, nem que estão infecciosas — isto de acordo com a informação científica à data. Há partículas do vírus que podem ficar no trato respiratório superior, mas não significa que têm a doença nem que transmitem o vírus”, esclareceu.
Regresso do futebol sem “nada fechado nem definido”
O secretário de Estado da saúde respondeu ainda a questões sobre o regresso à competição no futebol, mas deu conta que não há “nada fechado nem definido”:
“Essa situação é uma situação que ainda está a evoluir, ainda não há nada fechado nem nada definido”, disse o secretário de Estado. Ainda assim, disse que a reunião de ontem com a DGS, o Ministério da Saúde e a Federação Portuguesa de Futebol correu “muito bem”.
“É muito importante para que haja uma retoma da atividade sem que isso quebre qualquer regra de segurança ou sanitária. Aquilo que há que fazer é haver um trabalho constante de de adaptação para que estas duas premissas seja realizáveis e concerteza que se isso acontecer teremos os nossos jogos de futebol”, disse.
Sobre a morte de Nuno Alpiarça, treinador paralímpico, que deu negativo a Covid-19 e a quem foi colocada uma máscara — o que lhe terá dificultada na respiração — a diretora-geral da saúde explica que o atleta terá chegado ao hospital já sem vida, mas prefere “não comentar essa situação específica”.
“Uma pessoa que não tem condição clínica para usar máscara, ou que está a fazer um tipo de atividade que não o permita, não tem essa indicação. Não posso comentar a situação concreta, posso comentar a situação genérica de que a pessoa só deve utilizar máscara em situações em que a pessoa a consegue tolerar do ponto de vista clínico”, declarou Graça Freitas.