Os jovens portugueses tomam mais o pequeno almoço do que a média internacional, são dos que menos gostam da escola e as raparigas de 15 anos têm dificuldades em adormecer várias vezes por semana. Tudo isto são conclusões do Health Behaviour in School-aged Children (HBSC), um estudo conduzido pela Organização Mundial de Saúde que analisa vários indicadores em 45 países, incluindo Portugal. O último inquérito, que abrangeu 5.839 jovens portugueses de 11, 13 e 15 anos, foi realizado em 2018 e os dados foram publicados esta segunda-feira.
No tópico da alimentação, os hábitos dos jovens portugueses mantêm-se melhores do que a maioria dos outros países analisados — tal como assim era, aliás, em 2014, o ano do último inquérito. Quer aos 11, aos 13 ou aos 15 anos, os portugueses comem mais fruta e tomam o pequeno almoço de forma mais regular do que a média internacional. Aqui, e na evolução de 2014 para 2018, destaca-se principalmente o grupo específico dos rapazes de 15 anos no que toca à fruta: se há seis anos apenas 36% dizia comer fruta regularmente, um valor abaixo da média internacional de 37%, há dois anos essa percentagem sobe para 41%, enquanto que a média dos outros países estagnou nos 38%. Ainda assim, Portugal permanece abaixo da média num indicador, tal como acontecia em 2014. Os jovens portugueses comem menos vegetais do que na maioria dos outros países e só 26% dos rapazes, em todas as idades analisadas, dizem incluir este tipo de alimento na alimentação normal.
Jovens portugueses são dos que mais tarde saem de casa dos pais
Já no que toca à obesidade e ao excesso de peso, e olhando apenas para os rapazes e raparigas de 11 anos, Portugal é o 7.º com os resultados mais negativos. Ainda assim, de 2014 para 2018, o índice de obesidade cresceu principalmente nas raparigas de 15 anos, de 16% para 22%. Nas restantes idades e géneros, o indicador cresceu um máximo de 3% (rapazes de 11 anos) e em alguns casos até diminuiu (rapazes e raparigas de 13 anos). No exercício físico, a percentagem de jovens que pratica pelo menos duas horas de atividade física fora da escola é inferior à média internacional: o caso mais grave é o dos adolescentes de 15 anos, onde só 26,5% pratica exercício físico, e seguem-se os de 13 anos (29%) e 11 anos (39%), sendo que a média dos outros países é 42%. Destaque ainda para o facto de a prática de atividade física ser menor nas famílias de nível socioeconómico mais baixo, tanto nos rapazes como nas raparigas.
No que diz respeito à educação, o gosto dos jovens portugueses pela escola tem vindo a cair desde 1998: há 22 anos, 29% dos portugueses dizia gostar da escola, o segundo valor mais elevado de todos os países analisados, só abaixo de Letónia. Em 2018, 20 anos depois, só 9,5% diz gostar da escola. Portugal cai assim para o 38.º lugar em 45 totais, só com sete países com percentagens inferiores, como a Grécia ou a Itália. Margarida Gaspar Matos, coordenadora nacional deste inquérito, explicou ao jornal Público que existe um “fraco gosto pela escola, fraco em si mesmo e fraco na comparação com os restantes países”.
Nos fatores que analisam a saúde, destaque para as raparigas de 15 anos, que registaram aumentos significativos nos indicadores de dificuldades em adormecer, tristeza, e queixa de sintomas múltiplos nos quatro anos que separaram os dois últimos inquéritos. Em 2014, 25% dizia ter dificuldades em adormecer, em 2018 são 30%; 22% falava em tristeza frequente, quatro anos depois eram 28%; e 41% queixava-se de sintomas múltiplos, como dores de cabeça, costas ou estômago, e esse valor passou para os 54%, na subida mais drásticas dos três tópicos. Só no indicador da tristeza, ainda assim, o valor português está abaixo da média internacional (28% para 31%: nos outros dois, os números portugueses são mais elevados.