Dominic Cummings, o principal assessor do primeiro-ministro britânico, falou com os jornalistas, esta segunda feira, para justificar, de forma detalhada, o que o levou a desrespeitar as regras da quarentena, por ter viajado 400 km, até Durham, quando a mulher, a jornalista Mary Wakefield, tinha sintomas de Covid-19, para deixar o filho com familiares que tomariam conta dele.

Apesar de pressionado a pedir desculpa aos britânicos, pelo seu “comportamento irresponsável”, como descreveram os repórteres no local, Dominic não se mostrou arrependido com a decisão tomada em família. Bem pelo contrário, admitiu até que se portou de “maneira racional, tentando minimizar os riscos”. Isto porque, ainda segundo o assessor, as regras do confinamento admitem “circunstâncias excecionais”, como foi o seu caso, quando se trata de “cuidar de crianças pequenas”. Assume, no entanto, que nem todos concordem com a opção que tomou: “Não estou a dizer que estou certo. Estou a dizer que fiz o que me pareceu mais correto naquele momento”.

De acordo com as medidas de isolamento, introduzidas a 23 de março no Reino Unido, qualquer pessoa com sintomas deve auto isolar-se nas suas casas. E as pessoas com mais de 70 anos – como os pais de Cummings – não estão autorizadas a receber visitas.

“Erro”, admitiu, foi não ter comunicado ao primeiro-ministro a decisão de sair de Londres com a família, mas a deslocação coincidiu com o internamento de Boris Johnson, a 26 de março. “Ele tinha acabado de ser testado à Covid-19 e fisicamente sentia-se muito mal. Além disso, tinha muitos assuntos para tratar. Aliás, todos tínhamos”. Mesmo assim, confirma que nunca apresentou a demissão ao chefe de governo britânico.

Admitiu, também, que deveria ter feito uma declaração mais cedo ao país, para explicar as suas ações, o que poderia ter impedido que se gerassem “mal entendidos”, e até alguma “raiva” entre os cidadãos que estão obrigados a cumprir as regras do confinamento, e a quem não lhes é permitido nenhuma “exceção à regra”. Apesar disso, desviou-se sempre das questões que insistiam no pedido de desculpa.

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Mesmo quando os jornalistas lhe perguntaram se não estava preocupado com o facto de as suas decisões puderem levar as pessoas a “desvalorizarem a gravidade da Covid-19”, o assessor foi claro: “Escrevi sobre os perigos dos coronavírus o ano passado e até alertei para os riscos de uma pandemia”, concluiu.

Cummings foi e mantém-se uma figura controversa. Ajudou a liderar a campanha pró-Brexit, em 2016, e segundo a imprensa, também esteve por detrás das primeiras opções do primeiro-ministro em termos de combate ao novo coronavírus. Ou seja, quando defendeu a via da imunização de grupo.

Boris Johnson segura Dominic Cummings: “Agiu de forma legal, responsável e com integridade”

Nos últimos dias, o primeiro-ministro britânico estava sob pressão crescente para demitir o assessor após novas alegações de que tinha violado as regras de confinamento do coronavírus por duas vezes – acusações que Dominic “rejeitou por completo” na conferência de imprensa, assumindo apenas uma única história de “desconfinamento”.

“Posso dizer hoje que mantive longas conversas com Dominic Cummings. Ele e a mulher estavam com o coronavírus e seguiram os instintos enquanto pais. Acredito que atuou de forma responsável, legal e com integridade”, afirmou, no domingo, Boris Johnson, num claro sinal de confiança para com o assessor. Questionado, ainda, pelos jornalistas “porque uns têm de seguir regras e outros seguir instintos”, o primeiro-ministro reforçou a ideia de que o comportamento de Cummings “nada teve de repreensível”. O mesmo assumiu esta segunda-feira Cummings.