A Polícia Federal (PF) fez buscas na manhã desta terça-feira na residência oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e também numa outra casa daquele político que já foi aliado do Presidente, Jair Bolsonaro, mas que a propósito da pandemia se tornou num adversário.

As buscas foram feitas a propósito daquela que ficou conhecida como a Operação Placebo, que foi ativada depois de a PF suspeitar de desvios na Saúde no Rio de Janeiro durante o combate à pandemia de Covid-19. As buscas, que foram autorizadas pelo juiz Benedito Gonçalvez, Supremo Tribunal de Justiça (STJ), visam 12 pessoas. Além de Wilson Witzel, esse rol inclui a mulher do governador, Helena Witzel, e o empresário Mário Peixoto. São suspeitos dos crimes de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

De acordo com a revista Veja, a investigação detetou um “vínculo bastante estreito e suspeito entre a primeira-dama do Estado do Rio de Janeiro e as empresas de interesse de M.P. [Mário Peixoto], em especial o contrato de prestação de serviços e honorários advocatícios entre seu escritório de advocacia e a empresa DPAD Seviços Diagnósticos LTDA”. Foi mesmo localizado um e-mail de um dos investigados com “documentos relacionados a pagamentos para a esposa do Governador Wilson Witzel”.

“A previsão orçamentária do estado era gastar R$ 835 milhões [142 milhões de euros] com os hospitais de campanha em um período de até seis meses. A suspeita é que parte desse valor teria como destino os próprios envolvidos”, disse a procuradoria-geral, de acordo com a Folha de S. Paulo.

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Wilson Witzel, cuja eleição em 2018 era pouco provável, mas que se tornou possível por ter contado com o apoio de Jair Bolsonaro, acusa agora o Presidente de ter utilizado a PF para interferir contra o seu governo estadual — com o qual Jair Bolsonaro entrou em choque depois de Wilson Witzel insistir em aplicar medidas de confinamento durante a pandemia de Covid-19. Recorde-se que Jair Bolsonaro está a ser acusado pelo seu ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, de querer ter a PF, que investiga familiares e amigos de Jair Bolsonaro, debaixo do seu controlo. “Vou interferir e ponto final”, disse Jair Bolsonaro na última reunião do conselho de ministros em que Sergio Moro esteve presente.

“A interferência anunciada pelo Presidente da República está devidamente oficializada. Estou à disposição da Justiça, meus sigilos abertos e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos”, reagiu Wilson Witzel esta terça-feira. Negou ainda ter participado em qualquer combinação irregular: “Não há absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal”.

Jair Bolsonaro reagiu esta manhã à notícia das buscas nas duas casas de Wilson Witzel. “Parabéns à Polícia Federal. Fiquei sabendo agora pelos media. Parabéns à Polícia Federal, ‘tá ok?”, disse Jair Bolsonaro.

No entanto, de acordo com a jornalista Andréia Sadi, do G1, já havia na presidência quem esperasse por estas ações. De acordo com o que aquela jornalista cita no seu blogue, “o que mais incomodava” Jair Bolsonaro era a “falta de foco” nos alegados desvios no Rio de Janeiro.

Antes destas rusgas, esta segunda-feira, 25 de maio, a deputada Carla Zambelli, uma das mais próximas de Jair Bolsonaro no Congresso dos Deputados, já tinha assinalado um desenvolvimento desta ordem.

“A gente já teve algumas operações da PF que estavam na agulha para sair, mas não saíam. A gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar de ‘covidão’ ou não sei qual vai ser o nome que eles vão dar. Mas já tem alguns governadores sendo investigados pela PF”, disse a deputada, de acordo com a Folha de S. Paulo.

Encostado a um canto, resta a Bolsonaro o que sempre rejeitou: a “política velha”