A pandemia levou a um crescimento no setor dos bens de grande consumo em Portugal, cujo mercado cresceu 31% no período inicial de armazenamento, 9% na quarentena e 17% após o desconfinamento, revela o barómetro da consultora Nielsen.

Na 10.ª edição do barómetro semanal sobre o impacto da pandemia de Covid-19 no consumo, esta quinta-feira divulgado, a Nielsen nota ainda que, “enquanto no período pré-covid todas as categorias cresciam sensivelmente ao mesmo ritmo”, nas etapas posteriores foram detetados “diferentes comportamentos”.

“Face à evolução do consumo desde que se começaram a sentir os efeitos desta pandemia, é notória uma adaptação dos consumidores às distintas necessidades que esta nova realidade impôs nas suas vidas e rotinas”, explica Inês Pimentel, client consultant da Nielsen, citada num comunicado da consultora.

Segundo refere, evidencia-se “uma tentativa de responder a novas exigências, quer no momento de assegurar uma despensa recheada que permitisse enfrentar o confinamento, quer na compra de produtos que tornassem mais fácil a permanência prolongada em casa”.

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Assim, durante a fase de armazenamento [entre 24 de fevereiro e 15 de março], foram as categorias de “higiene pessoal e do lar” (+37%) e de “alimentação” (+35%) as que apresentaram maior dinamismo.

Na “higiene pessoal e do lar” destaca-se o crescimento de 87% registado na categoria de papel higiénico, assim como a evolução dos “acessórios de limpeza” (+54%) e dos “rolos, guardanapos e lenços” (+54%), enquanto no setor da “alimentação” se salientam “claramente os produtos de maior durabilidade”, como as ‘conservas’ (+102%), os “produtos básicos” (+89%) e os “congelados” (+44%).

Nos produtos frescos, a “carne”, o “peixe” e as “frutas & legumes” cresceram, durante o período de armazenamento, respetivamente, 30%, 26% e 18%, enquanto as “bebidas não-alcoólicas” aumentaram 16%.

Já nas semanas de quarentena (de 16 de março a 3 de maio), com todo o consumo a ser realizado em casa, a Nielsen nota que foi na “alimentação” que se verificou o maior dinamismo (+14%).

“As “bebidas quentes”, onde se inclui o café, ocuparam um lugar de relevo desta fase, com um crescimento de 52%. Embora com menos destaque, continua a notar-se uma preocupação dos consumidores por manter a sua despensa recheada, com um dinamismo de 33% nos “produtos básicos”, de 29% nos ‘congelados’ e de 28% nas ‘conservas'”, refere.

Também “evidente” foi “a preocupação dos consumidores com a limpeza” (+62% em “acessórios de limpeza”) e com a embalagem e conservação de alimentos (+43% em produtos para este efeito), enquanto o confinamento em casa resultou em “decréscimos acentuados” em categorias como “produtos solares” (-88%), “produtos para calçado” (-46%), “perfumes” (-37%) e “maquilhagem” (-29%).

Nos “frescos”, a tendência foi de quebra durante a quarentena, embora se tenham registado crescimentos nas “frutas & legumes” (+10%) e no “talho” (+6%), enquanto o “take away & cafetaria” do retalho alimentar, que segundo a Nielsen apresentava “o maior dinamismo no período pré-covid”, inverteu a tendência no confinamento e recuou 68%.

Do barómetro esta quinta-feira divulgado resulta também que, “se é pelas lojas maiores que os portugueses optam no momento de armazenar, na vida em quarentena a proximidade ganha visibilidade, possibilitando deslocações mais próximas de casa e de menor duração”.

Com o início do processo de desconfinamento, na semana de 4 a 10 de maio, o Barómetro Covid-19 da Nielsen revela uma nova fase de armazenamento e crescimento do consumo, em que os bens de grande consumo registaram um crescimento homólogo de 17%, totalizando 187 milhões de euros.

“Os portugueses voltaram a armazenar e todas as categorias apresentaram crescimentos”, nota, destacando a evolução das categorias de “alimentação” (20%), “bebidas” (18%), “higiene pessoal e do lar” (9%) e “comida e acessórios para cães e gatos” (6%).

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 352 mil mortos e infetou mais de 5,6 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Em Portugal, morreram 1.356 pessoas das 31.292 confirmadas como infetadas, e há 18.349 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), paralisando setores inteiros da economia mundial, num “grande confinamento” que vários países já começaram a aliviar face à diminuição dos novos contágios.