Uma equipa do Imperial College de Londres e da Universidade de Oxford não têm dúvidas: as medidas de confinamento, e outras medidas preventivas impostas pelos vários países, reduziram a transmissão do vírus e pouparam milhões de mortes. O estudo, publicado na revista Nature, analisou os dados de 11 países e verificou que só aí terão morrido menos 3,1 milhões de pessoas do que esperado, até 4 de maio, quando se iniciou o desconfinamento.

“O nosso modelo sugere que as medidas adotadas nesses países em março de 2020 foram bem sucedidas no controlo da epidemia, reduzindo significativamente o número de pessoas que teriam sido infetadas pelo vírus SARS-CoV-2”, diz Seth Flaxman, investigador no Departamento de Matemática do Imperial College de Londres.

A equipa britânica reconhece algumas limitações nos dados sobre mortalidade, porque há muitas mortes fora dos hospitais que não chegam a ser registadas como consequência da Covid-19 e porque não incluíram no modelo o esgotamento dos serviços de saúde (que levaria à morte de pessoas por falta de assistência) no caso de não serem implementadas medidas preventivas.

Quando comparam as medidas implementadas contra a inexistência de medidas, a equipa também não tem em conta o comportamento das pessoas, que podia ser mais cauteloso, mesmo sem a imposição dos governos. Todas as restrições podem levar a que este número de mortes evitadas possa estar sobrevalorizado.

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Milhões de casos por detetar

O modelo usado pela equipa britânica destaca também que o número de casos de infeção detetados nos vários países é muito menor do que o real, devido aos inúmeros casos assintomáticos ou outros casos não testados. A estimativa é que estes 11 países tenham tido 12 a 15 milhões de infetados até 4 de maio — com 2,8 milhões de casos em Itália e 2,6 milhões em Espanha (até esta segunda-feira tinham sido identificados 235 mil e 242 mil, respetivamente).

As medidas de contenção (não-farmacêuticas) incluem o confinamento da população, a quarentena dos doentes e contactos, o distanciamento social, o encerramento das fronteiras e o fecho das escolas. O confinamento, por si só, pode ter sido responsável pela redução de 81% das transmissões nestes 11 países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Itália, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça), refere o artigo.

“Não podemos afirmar com certeza que as medidas atuais continuarão a controlar a epidemia na Europa. No entanto, se as tendências atuais continuarem, há motivos para otimismo”, concluem os autores.

Intervenções preveniram 530 milhões de infeções

Uma outra equipa, com investigadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley (Estados Unidos), verificou que medidas como o encerramento das escolas e o confinamento das pessoas em suas casas, impediram significativamente o crescimento exponencial do número de infetados.

Os investigadores estimam que na ausência de medidas de prevenção, as infeções poderiam crescer a um ritmo de 38% por dia, segundo o artigo publicado na Nature, que analisou 1.717 intervenções não-farmacêuticas locais e regionais nos seis países estudados (China, Coreia do Sul, França, Irão, Itália e Estados Unidos).

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“Estimamos que, nesses seis países, as intervenções preveniram ou atrasaram cerca de 62 milhões de casos confirmados, correspondendo à prevenção de aproximadamente 530 milhões de infeções totais [nos seis países]”, concluem os autores do artigo.

Correção: 530 milhões de infeções evitadas nos seis países estudados e não a nível mundial