A irlandesa Hazel Behan, vítima de violação quando trabalhava no Algarve, pediu a reabertura do seu caso, prescrito em Portugal, depois de se ter apercebido das semelhanças com o que aconteceu à norte-americana de 72 anos violada na Praia da Luz por Christian Brueckner, o alemão que é agora o principal suspeito no desaparecimento de Madeleine MacCan, em 2007.
Hazel Behan contou ao The Guardian que estava a alguns dias de completar 21 anos quando foi atacada no apartamento onde morava na Praia da Rocha, a cerca de meia hora de carro do local do desaparecimento de Maddie, por um homem de olhos azuis e sobrancelhas loiras que falava inglês com sotaque alemão. Tal como no caso da idosa de 72 anos, ocorrido no ano seguinte, o violador, que tinha a cara parcialmente tapada, usou uma câmara para filmar o ataque e amarrou e chicoteou a vítima.
Depois de várias horas de violações e agressões contínuas, o violador fugiu e Behan conseguiu finalmente pedir ajuda. A irlandesa foi levada pela polícia para um hospital, onde foi examinada por um médico mas, em entrevista ao The Guardian, mostrou ter dúvidas de que tenham sido recolhido qualquer material no seu quarto — dias depois, quando regressou acompanhada pelos pais, a sua mãe encontrou uma unha sua na cama. “Não estou muito confiante de que tenham examinado o quarto com atenção”, afirmou.
Rape victim asks Madeleine McCann detectives to review her case https://t.co/dnNqLwKG8w pic.twitter.com/ChsbBpnHwY
— Global Issues Web (@globalissuesweb) June 9, 2020
Nas declarações que prestou à polícia em 2004, Behan, que trabalhava como representante de uma agência de turística no resort onde o ataque aconteceu, ofereceu descrições o mais pormenorizadas possíveis do seu atacante, apontando, por exemplo, uma marca distintiva que o tinha na perna direita, mas o homem nunca foi apanhado.
Nos 16 anos seguintes, Behan, que vive atualmente na Irlanda, perdeu toda a esperança de que o violador fosse apanhado. “Na altura, disseram-me que devia ficar calada, porque se falasse sobre o que me tinha acontecido isso traria má publicidade ao resort e afastaria os turistas”, disse. Tudo mudou quando leu uma descrição do que tinha acontecido à idosa norte-americana em 2005. “As táticas e métodos que usou, as ferramentas que tinha com ele, como é que planeou tudo. (…) Fez-me recordar das minhas próprias experiências”, admitiu ao The Guardian.
Hazel Behan já foi ouvida pela Metropolitan Police, responsável pela investigação ao desaparecimento de Maddie, que lhe garantiu que o seu caso estava a ser levado a sério e que seria em breve contactada pela polícia portuguesa. “Ofereceram-me toda a ajuda que podiam. Foi a primeira vez em 16 anos que me ofereceram ajuda oficial. Vivo na esperança de finalmente fechar um capítulo extremamente difícil da minha vida”, disse, admitindo que era difícil falar sobre o que lhe aconteceu na Praia da Rocha em 2004, mas que sentia que era a “coisa certa” a fazer.
Esta segunda-feira, o procurador alemão apelou, em entrevista à Sky News, que eventuais vítimas de Christian Brueckner, detido na Alemanha pela violação de norte-americana de 72 anos no Algarve, entrem em contacto com a polícia porque qualquer informação pode ser relevante para resolver não só o caso de Madeleine McCann, mas também outros casos em que o suspeito possa estar envolvido. “Acreditamos que nosso suspeito tenha cometido mais crimes, possivelmente contra britânicos, irlandeses ou americanos. Todas essas pessoas devem ligar-nos para que possamos resolver esses casos”, disse o procurador.
Novos dados poderão também evitar a libertação de Brueckner, que poderá sair da prisão devido a um detalhe no seu processo.