Uma estátua de Robert Baden-Powell, o fundador do escotismo e antigo tenente-general do exército britânico, vai ser retirado da cidade de Poole, no sul do Reino Unido, por receio das autoridades de que possa vir a ser vandalizada. De acordo com a BBC, o monumento – que foi ali colocado há 12 anos para relembrar o homem por detrás do movimento juvenil internacional dos escoteiros – está em risco de ser vandalizado no âmbito dos protestos contra o racismo que têm decorrido no país. Motivo? Baden-Powell é acusado de ser racista, homofóbico e apoiar Adolf Hitler (que, ironicamente, tinha posto Baden-Powell numa lista de alvos a abater caso invadisse o Reino Unido).
As autoridades do condado de Bournemouth, Christchurch and Poole, afirmam que alguns aspetos da vida de Baden-Powell podem ser “menos dignos de comemoração” e que, por isso, está numa lista como “potencial alvo”. Nos últimos dias, alguns manifestantes no âmbito dos protestos contra o racismo têm vandalizado estátuas no Reino Unido. A estátua de Winston Churchill, o primeiro-ministro britânico que liderou o país na II Guerra Mundial, foi pintada com frases que o acusam de ser racista.
Corrie Drew, do Partido Trabalhista no Reino Unido e antiga candidata parlamentar, afirmou ao mesmo canal que “um olhar rápido na história [de Powell] mostra que ele era muito aberto sobre seus pontos de vista contra a homossexualidade e que era um defensor muito aberto de Hitler e do fascismo e um sincero racista”.
Contudo, um olhar mais detalhado na história de Baden-Powell, que morreu ao com 81 anos em 1941, mostra que o cenário não é bem assim. O militar britânico serviu o país durante o século XIX e é acusado de ter cometido “atrocidades” durante a guerra. Porém, como conta a BBC, vários historiadores explicam que a tese defendida por Drew não é correta.
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Na base de uma das principais acusações a Baden-Powell estão documentos revelado em 2010 pelo MI5, os serviços secretos britânicos. Numa carta de 1937, antes de começar a II Grande Guerra e de serem amplamente conhecidas as atrocidades cometidas pelo partido Nazi e por Adolf Hitler, Baden-Powell descrevia que admirava a preocupação que o regime alemão na altura tinha com a educação dos mais jovens, através de movimentos jovens, como a Juventude Hitleriana.
Tim Jeal, biógrafo de Baden-Powell, lembra que o fundador dos escoteiros “condenou Hitler por ser um megalomaníaco e por criar o que chamou de “grandes concursos para hipnotizar o seu povo “. “Ele [Baden-Powell] odiava o totalitarismo, em duas ocasiões quis casar-se com mulheres judias e e tinha um médico judeu”, continua. A razão de Baden-Powell querer que o movimento dos escoteiros entrasse na Alemanha era para melhorar a tensa a relação entre os dois países na altura, reitera Jeal.
O caso já está a gerar polémica no Reino Unido, havendo já uma petição online com 10 mil assinaturas para defender a estátua de Baden-Powell. No Twitter, Robert Syms, membro do partido conservador [Tory] eleito também por este local, escreveu que é contra a remoção da estátua. Tobias Ellwood, outro político eleito por Bournemouth East, que inclui, Poole utilizou a rede social para defender Baden-Powell: “Poucas figuras históricas cumprem os valores do séc. XXI. Eliminar conexões passadas da vista não vai corrigir erros ou ajudará a aprender melhor com nosso passado”.
A estátua de Baden-Powell foi colocada em Poole por ter sido aí que o escotismo começou. A líder de Bournemouth, Christchurch and Pool, Vikki Slade, afirma que a estátua vai ser colocada no local seguro e que, por estar próxima da água, teve de ser preservada.
À BBC, um porta-voz dos escoteiros no país disse: [o movimento] “é firme no seu compromisso com a inclusão e a diversidade, e os membros refletem e desafiam continuamente a maneira como vivemos nossos valores”.
No local, um grupo de residentes da cidade fez um protesto à volta da estátua pela sua preservação no local. Em declarações, uma das manifestantes, Sharon Warne, de 53 anos, disse: “Teve um passado mau, mas foi o fundador dos escoteiros, que hoje é uma grande organização e é ridículo livrarem-se dele”.