Estátuas de Cristóvão Colombo e de líderes da Confederação dos estados esclavagistas na Guerra Civil americana foram vandalizadas em várias cidades dos Estados Unidos, durante protestos contra a morte de George Floyd.

Em Richmond, no estado da Virgínia, manifestantes derrubaram na noite de quarta-feira uma estátua do Presidente da Confederação, Jefferson Davies, situada num cruzamento da Monument Avenue.

Esta é a terceira estátua a ser vandalizada nos últimos dias na capital do estado da Virgínia.

Uma estátua do navegador italiano Cristóvão Colombo, creditado com a descoberta da América, mas acusado por vários quadrantes de estar na origem do genocídio dos índios no continente, também foi alvo da fúria dos manifestantes em Richmond, um incidente que se repetiu em várias cidades do país.

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Ali, na terça-feira, o monumento foi arrancado, incendiado e arrastado com cordas, tendo sido finalmente lançado a um lago.

Um monumento a um dos líderes da Confederação, Williams Carter Wickham, também foi arrancado do pedestal naquela localidade, em 06 de junho.

O governador da Virgínia – a região onde os primeiros colonos ingleses se estabeleceram, antes de se tornar no coração da escravatura na América – prometeu na semana passada remover outra estátua em Richmond, a do comandante do exército do sul, General Robert E. Lee, o mais rapidamente possível.

Em Portsmouth, New Hampshire, manifestantes decapitaram e desmantelaram quatro estátuas que faziam parte de um monumento de homenagem à Confederação, derrotada na Guerra de Secessão (1861-1865).

Segundo a imprensa local, os esforços para derrubar a estátua levaram horas, enquanto uma banda tocava nas ruas e os manifestantes dançavam, na presença da Polícia.

Em Miami, na Flórida, uma estátua de Cristóvão Colombo foi vandalizada com tinta vermelha e inscrições como “Black Lives Matter” (“as vidas dos negros contam”) ou “George Floyd”, antes de a polícia fazer várias detenções, de acordo com o jornal Miami Herald.

Em Boston, uma estátua de Colombo também foi decapitada.

Cristovão Colombo é uma figura polémica há anos nos Estados Unidos. O navegador genovês, que os livros de História registam como o homem que descobriu a América, é hoje frequentemente considerado uma das figuras responsáveis pelo genocídio das populações nativas do continente, sendo criticado na mesma linha dos esclavagistas e generais confederados durante a Guerra de Secessão.

Dezenas de cidades norte-americanas substituíram a celebração do “Dia de Colombo”, em outubro – convertido em feriado em 1937 – por um dia de homenagem aos “povos indígenas”.

Boston e Nova Iorque, que contam com comunidades importantes de origem italiana, continuam no entanto a prestar homenagem ao navegador.

“Tal como os negros deste país, também os nativos foram maltratados. Este movimento é poderoso e [a decapitação] é muito simbólica”, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) uma residente em Boston, comentando a destruição da estátua.

Na quarta-feira, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, apelou à retirada das estátuas das figuras da Confederação do Capitólio, numa altura em que os protestos antirracismo relançam o debate sobre o lugar a atribuir aos defensores do esclavagismo.

“Apelo mais uma vez para remover do Capitólio as 11 estátuas que representam militares e dirigentes confederados”, disse Pelosi numa mensagem na rede social Twitter. “Estas estátuas celebram o ódio, não o nosso património”, acrescentou.

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.

Desde a divulgação das imagens nas redes sociais, têm-se sucedido os protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, algumas das quais foram palco de atos de pilhagem.

Pelo menos 10 mil pessoas foram detidas desde o início dos protestos, e as autoridades impuseram recolher obrigatório em várias cidades.

[De Churchill ao padre António Vieira. Radicalização contra estátuas divide opiniões pela Europa]