Na manhã desta terça-feira, Francisco Guerreiro enviou um e-mail ao PAN a anunciar que iria continuar o mandato de eurodeputado na condição de independente, desvinculando-se do partido pelo qual foi eleito. Justificou a decisão com a colagem “à esquerda” do PAN e com algumas propostas, como a militarização, na qual não se revê. Com poucos minutos de diferença, enviava a seguir um comunicado à Agência Lusa a comunicar a decisão. Em resposta, o partido diz que os argumentos apresentados “não fazem sentido nenhum” e que o eurodeputado sempre optou pela “individualização do mandato”. A direção do PAN diz ainda que “não teve tempo” sequer para pedir ao eurodeputado que renunciasse ao mandato e deixa claro o desagrado com a decisão do único deputado que tinha a representar o partido na Europa: “Seria correto que tivesse renunciado e cedido o seu lugar numa postura de respeito”.
Eleito em maio de 2019, Francisco Guerreiro continuará agora na família dos Verdes Europeus na condição de independente e sem ter que prestar justificações ao partido pelo qual foi eleito em maio do ano passado. O porta-voz do PAN, André Silva, diz que o eurodeputado tomou a decisão de forma “unilateral” e considera que ela é “errada”.
As relações sempre foram difíceis. O partido tentou chamar à atenção e à razão para que a gestão do mandato fosse feita de forma coletiva. Sempre discordámos e esta foi uma decisão errada na medida em que defrauda a decisão dos eleitores há um ano. Havia discordância entre as estruturas do partido e a gestão de um eleito que, segundo ele, deve ser individual”, apontou André Silva frisando que esta foi “uma escolha unilateral do eurodeputado” que, diz, optou por “fazer este divórcio com o partido que o fez crescer e o elegeu”.
Embora não tenha precisado quando começou a desafinação entre o partido e o eurodeputado, André Silva repetiu que Francisco Guerreiro sempre optou pela “individualização” e que “é dentro do PAN que a defesa das causas e dos valores se fazem”. O PAN diz que recebeu o e-mail de Francisco Guerreiro, a anunciar a sua saída, “com profunda desilusão” e que este foi o culminar de um “caminho de individualização do mandato do eurodeputado que já vinha adoptando, que não se adequa e está em contra ciclo em relação aos princípios e valores do PAN”.
“Durante o primeiro ano, e após a conquista política que permitiu a eleição do eurodeputado, foram várias as tentativas para que se promovesse o debate, a operacionalização dos trabalhos políticos e a gestão de recursos para que fossem cumpridos os princípios do partido”, apontou André Silva, negando que o partido se tenha afastado dos seus princípios.
A uma das divergências apontadas pelo eurodeputado, sobre o Rendimento Básico Incondicional (RBI), o PAN responde com o Rendimento Básico de Emergência: “O debate político não se compadece com o rendimento básico incondicional, mas com o rendimento básico de emergência, para que as pessoas possam sobreviver e fazer face a esta crise”. Quanto à acusação de Francisco Guerreiro sobre a “passividade perante as ações geopolíticas da China na Europa”, André Silva diz que o partido “não se tem guardado de fazer críticas ao regime chinês”.
“O PAN não se tem guardado de fazer as suas críticas ao regime chinês, mas considera que há alturas mais adequadas, não confundindo o povo da China com as decisões do seu governo, que deve prestar contas sobre esta pandemia”, disse o porta-voz do partido.
Mas apesar das críticas à postura do eurodeputado e de recusarem as justificações dadas, o PAN notou que este é um episódio que já tem “precedentes” na história da democracia e que o PAN “não foi imune a este tipo de episódios”.