Donald Trump tinha dito que o comício em Tulsa (Oklahoma), no sábado, o primeiro na retoma da campanha presidencial, tinha recebido “um milhão de inscrições”. Mas o estádio com capacidade para 19 mil pessoas esteve longe de encher — e segundo o New York Times, pelo menos um terço dos lugares estavam vazios.
A campanha de Trump esperava uma enchente tão grande que no exterior do estádio BOK Center foi colocado um segundo palco – por onde Trump, acompanhado pelo vice-presidente, Mike Pence, passaria após o comício – para discursar perante a multidão esperada. Mas o número de participantes — dentro e fora do estádio — ficou aquém do esperado. E o evento no exterior foi mesmo cancelado.
Tim Murtaugh, porta-voz da campanha de Trump, justificou o cancelamento com os “manifestantes radicais” que se juntaram junto ao estádio, e com os media que “assustaram” os apoiantes. Mas, segundo relata o New York Times, os protestos no exterior contra Trump não só foram poucos, como de pequena dimensão e sem capacidade para bloquear a entrada ao recinto (perante o forte dispositivo policial).
Low turnout at Trump's first post-lockdown rally.
The stadium in Tulsa holds up to 19,000 people but there were a number of empty seats as Donald Trump prepared to speak.
More here: https://t.co/EcFwz7aJYa pic.twitter.com/TkvAFNQbZ7
— Sky News (@SkyNews) June 21, 2020
Trump venceu no Oklahoma em 2016, com 65,32% dos votos, mas a fraca adesão coloca em dúvida se o apoio ao atual presidente naquele estado vai manter-se — ou se a falta de apoiantes foi resultado da Covid-19 (por um lado, devido ao facto de as pessoas não quererem expor-se ao vírus ou por discordarem da política do presidente dos EUA).
O comício em Tulsa aconteceu mesmo apesar das críticas a Donald Trump, por ter ignorado os avisos de saúde pública sobre ajuntamentos (até porque muitas pessoas não usavam máscara) e pelo sítio onde escolheu retomar a campanha — Tulsa, que, em 1921, assistiu a um dos piores massacres de afro-americanos, quando 300 negros foram assassinados por grupos brancos.
Whole sections of the Tulsa stadium are almost entirely empty. Trump due to speak in an hour. The campaign claimed there were more than 1 million ticket requests. Then why is a stadium that holds 19,000 not full?? pic.twitter.com/JhJn3MyMI8
— Ben Riley-Smith (@benrileysmith) June 20, 2020
Mas, no discurso, Trump não fez qualquer referência nem ao massacre, nem ao homicídio de George Floyd. Nem à data conhecida como “Juneteenth”, comemorada no dia anterior ao do comício, pela abolição da escravatura nos EUA.
Trump optou por apelidar a Covid-19 como “Kung Flu” (auto-elogiando-se pela forma como está a lidar com a pandemia) e criticar os “radicais da extrema-esquerda”. Por outro lado, elogiou os polícias que “se magoam, não se queixam, são incríveis” enquanto tentam controlar manifestantes.
Fraca adesão? Utilizadores das redes sociais contra Trump dizem que “compraram” bilhetes
Uma teoria para a adesão abaixo do esperado, explicada pelo New York Times, é que algumas pessoas anti-Trump possam ter adquirido bilhetes (aproveitando o facto de serem gratuitos) para defraudar as expetativas da campanha do atual líder dos EUA. Segundo o jornal, vários utilizadores das redes sociais disseram ter registado centenas de milhares de bilhetes com o objetivo de fazerem “uma partida” à campanha de Trump, depois de esta ter pedido aos apoiantes para adquirirem bilhetes gratuitos.
WE'REEEE BACKKKKK!
President @realDonaldTrump will be in Tulsa, OK on June 19 for a Make America Great Again Rally!
Register for your FREE TICKETS on the "Trump 2020" App or visit the link below.
Text APP to 88022 to download ????????#TrumpRallyTulsa https://t.co/ysjEZqHUTM
— Team Trump (Text TRUMP to 88022) (@TeamTrump) June 11, 2020
Ainda assim, houve quem tivesse passado a noite à porta do estádio à espera de Donald Trump, com mensagens de apoio. Foram poucos os que usaram máscaras, segundo relata o New York Times.
O comício acabou por ficar marcado por novas frases polémicas do presidente. Trump admitiu ter pedido às autoridades de saúde para diminuírem o ritmo de despistagem da Covid-19 devido ao aumento de casos diagnosticados no país, o mais atingido no mundo pela pandemia.
Sem deixar claro se falava à sério, Donald Trump disse aos seus apoiantes que a despistagem da doença era “uma faca de dois gumes”. “Eis o lado mau: quando se faz este volume de testes, encontramos mais pessoas, mais casos”, explicou.
“Então eu disse à minha equipa para diminuir o ritmo da despistagem. Eles fazem testes e testes…”, acrescentou Trump, cuja gestão da crise sanitária nos Estados Unidos é alvo de críticas de todos os quadrantes.
Sem se identificar, um responsável da Casa Branca defendeu Trump e disse que o presidente dos EUA “estava claramente a falar em tom de brincadeira para denunciar a cobertura absurda dos media”. “Estamos a liderar no número de testes e estamos orgulhosos de ter realizado mais de 25 milhões de testes”, acrescentou a mesma fonte.