Acidentes vasculares cerebrais, demência e encefalopatia estão entre as patologias diagnosticadas em doentes graves com Covid-19 que sofreram complicações neurológicas, segundo um estudo científico britânico que analisou os dados de mais de 150 pacientes.
No estudo publicado esta quinta-feira na revista Lancet Psychiatry, analisaram-se 153 doentes internados com Covid-19 durante o mês de abril, fase exponencial da pandemia, cujos casos foram encaminhados para a investigação pelos seus médicos.
“Tem havido cada vez mais relatos de uma associação entre a infeção da covid-19 e possíveis complicações neurológicas e psiquiátricas, mas até agora só a partir de estudos com dez ou menos pacientes. A nossa é a primeira investigação nacional de complicações neurológicas associadas à covid-19, mas é importante assinalar que se centra em casos tão graves que exigiram hospitalização”, afirma o autor do estudo, Benedict Michael, da Universidade de Liverpool.
Os investigadores responsáveis pela investigação salientam que “não é possível tirar conclusões sobre a proporção total de doentes covid-19 que poderão ser afetados [neurologicamente] a partir deste estudo, cujas conclusões reclamam mais investigação”.
Outra das cientistas envolvida e a co-autora do estudo, Sarah Pett, da University College de Londres, acrescentou que este estudo é “uma fotografia” de um momento na pandemia e que é preciso “compreender as complicações cerebrais de pessoas que têm Covid-19 mas não com gravidade que justificasse internamento”. “Esses estudos ajudarão a ilustrar a frequência destas complicações, quem está mais sujeito a tê-las e como as tratar”, afirmou.
A patologia mais comum foi acidente vascular cerebral, observado em 77 pacientes, a maioria com mais de 60 anos, 57 por causa de coágulos sanguíneos, conhecidos como acidentes isquémicos, em nove dos casos por causa de hemorragias cerebrais e no caso de um paciente, devido a inflamação dos vasos sanguíneos do cérebro.
Em 39 dos pacientes estudados, cerca de metade dos quais tinham menos de 60 anos, verificou-se que sofriam de confusão mental ou mudanças de comportamento associadas a estados mentais alterados. Em sete deles, verificou-se que sofriam de encefalite, uma inflamação do cérebro. Em 23 dos doentes analisados, verificou-se que sofriam de alterações psiquiátricas — psicose, demência, depressão e ansiedade – de que não tinham antecedentes, embora os investigadores admitam que pudessem já existir antes mas sem serem diagnosticadas.