“Não há melhores, nem piores.” Ouvimos dizer tantas vezes para não desmoralizarmos ou deixarmos de lutar pelos nossos objetivos. Mas, a verdade, é que há uns melhores que outros e outros melhores que uns, tudo depende do que estejamos a avaliar. Com os rankings da escolas não é diferente: se as escolas privadas continuam a ter os melhores resultados nas provas nacionais do 9.º ano, as escolas públicas afirmam-se quando se trata de mostrar como se faz um aluno completar o terceiro ciclo sem nenhum chumbo.

O Observador, em conjunto com a Nova School of Business and Economics (Nova SBE), elaborou os rankings das escolas para o ano letivo 2018/2019 com base nos dados fornecidos pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) e o Júri Nacional de Exames (JNE). Em baixo pode encontrar 11 tabelas com os melhores e os piores resultados das escolas no ano passado. Se quiser ter uma visão mais geral dos rankings ou encontrar uma escola específica, pode ver as listas completas aqui.

Avaliar o sucesso para não premiar os chumbos

Há 19 escolas a nível nacional, públicas ou privadas, em que 25% ou mais dos seus alunos apresentam um percurso direto de sucesso superior aos dos alunos de escolas comparáveis (na tabela “progressão dos alunos”) — ou seja, alunos que têm o mesmo perfil à entrada no 7.º ano, como a nota do ciclo anterior ou o contexto sócioeconómico.

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Os percursos diretos de sucesso per se (na tabela apresentados como “promoção do sucesso escolar”) são definidos como “a percentagem de alunos que não tiveram retenções nos 7.º e 8.º anos de escolaridade e, cumulativamente, obtiveram classificação positiva nas duas provas nacionais do 9.º ano, três anos após o ingresso no 3.º ciclo”, segundo a DGEEC e JNE. Isto é: sem chumbos e com positiva nas provas. Para este ranking foram comparadas 991 escolas.

Entre as 20 escolas apresentadas na tabela, 11 são públicas, sendo que uma é de Lisboa, outra do Porto e as restantes de cidades mais pequenas. Das oito escolas de música em Portugal, sete apresentam-se entre as 50 com mais sucesso na progressão dos alunos. Sobra uma, em 275.º lugar, a Academia de Música de Santa Cecília, em Lisboa.

Entre as 10 escolas com piores percursos de sucesso, encontramos tantas escolas públicas como privadas, sendo que os dois últimos lugares estão ocupados por duas escolas privadas da área metropolitana de Lisboa. Em último lugar, o Colégio D. Filipa, na Amadora, tem menos 65% dos alunos a completar o terceiro ciclo sem chumbos e sem negativas nas provas nacionais do que as escolas com as quais se pode comparar. Por sua vez, na Escola Secundária José Cardoso Pires (pública), em Loures, em antepenúltimo lugar, nenhum dos alunos completou o terceiro ciclo sem chumbos.

Escolas privadas dominam nas notas das provas nacionais

Conjugar a avaliação interna com o percurso direto de sucesso permite avaliar o bom desempenho nas provas nacionais, sem premiar o chumbo. Se uma escola chumbar os alunos com piores notas no período de maneira a que não cheguem a fazer as provas nacionais, pode até ficar bem classificada no ranking das provas, mas perde pontos no ranking de sucesso.

Para o ranking das provas nacionais foram analisados os resultados das provas de 1.111 escolas — 968 públicas e 143 privadas. Entre elas, há 97 escolas que apresentam uma média nas provas nacionais acima de 70%, dessas, 80 são privadas.

No ranking baseado na média das provas nacionais de Português e Matemática, os 100 primeiros lugares são ocupados por 83 escolas privadas. Os externatos e colégios que se encontram nos 10 primeiros lugares apresentam médias superiores a 80% — média que nem a melhor escola pública atinge —, mas depois não conseguem ter tão bom desempenho no ranking de sucesso.

Já entre as escolas públicas, três das que estão no top 10 das médias das provas também estão no top 20 dos percursos de sucesso — e duas delas são escolas de música. As três escolas de música públicas estão aliás no top 10 do ranking das notas.

Nas listas deste ano, há sete escolas públicas que já pertenciam ao top 10 das provas no ano passado. O mesmo acontece com cinco das escolas privadas, que repetem a presença nesta lista. A maior surpresa será talvez a Academia de Música de Santa Cecília, em Lisboa, que ocupava o primeiro lugar no ranking do ano passado e este ano aparece em 36.º. O Colégio de Nossa Senhora do Alto (Faro), desceu de 7.º, em 2018, para 90.º, em 2019, e o Colégio Oriente (Loures) desceu de 9.º para 33.º.

Insucesso escolar associado ao contexto socioeconómico dos alunos

Com as escolas privadas a ocuparem os primeiros lugares com base nas notas das provas nacionais, os últimos lugares são ocupados por escolas públicas — ou não fossem estas quase sete vezes mais que as primeiras. Da lista com 1.111 escolas, 230 tiveram médias nas provas abaixo dos 50%. Destas, apenas sete eram escolas privadas.

A média mais baixa entre as escolas privadas é de 35,04%. As 10 escolas públicas com piores resultados têm todas médias mais baixas, chegando a um mínimo de 25,03%, menos 10 pontos percentuais. Em oito destas escolas públicas, mais de metade dos alunos estão incluídos na ação social escolar. As mães destes alunos, apresentam (em média) apenas frequência no terceiro ciclo de ensino.

O contexto económico dos alunos e o nível de escolaridade da mãe então entre os fatores que mais influenciam o percurso escolar dos alunos e as notas nas provas nacionais.

Melhores notas de Matemática acima do Português

Quando comparadas as médias mais altas das provas de Português e Matemática é a disciplina dos números que consegue os melhores resultados, tanto nas escolas públicas como nas privadas, com o top 10 das privadas a ter notas mais altas que o primeiro lugar das escolas públicas.

Houve 122 escolas que conseguiram uma média a Matemática superior a 70% (27 públicas) e 81 que conseguiram o mesmo para a disciplina de Português (16 públicas).

Se a Matemática conseguiu os melhores resultados, também conseguiu os piores: 427 escolas tiveram uma média na prova abaixo dos 50% (destas, apenas nove eram privadas). No caso do Português, foram 65 as escolas com médias abaixo de 50% (com apenas duas privadas).

Entre as 10 escolas públicas com melhores resultados nas provas nacionais, a maioria tem menos de 15% dos alunos com ação social escolar. Ainda assim, há casos com mais 25% dos alunos a receber este apoio, como o agrupamento a que pertence a Escola Básica Frei Bartolomeu dos Mártires (Viana do Castelo). Entre o nível de escolaridade das mães, destaca-se o facto de, em média, apresentarem frequência no ensino superior.