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Zivkovic abriu a avenida e Bruno Lage ficou num beco sem saída (a crónica do Marítimo-Benfica)

Este artigo tem mais de 3 anos

Amir evitou a vantagem do Benfica até aos 45 minutos. No limite, travou a goleada. Lage mexeu, as águias caíram e a escorregadela chegou pela velocidade de Nanú que pode gripar de vez o título (2-0).

Bruno Lage ganhou apenas dez dos últimos 30 pontos disputados no Campeonato e acabou por sair após derrota na Madeira
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Bruno Lage ganhou apenas dez dos últimos 30 pontos disputados no Campeonato e acabou por sair após derrota na Madeira

OCTAVIO PASSOS/LUSA

Bruno Lage ganhou apenas dez dos últimos 30 pontos disputados no Campeonato e acabou por sair após derrota na Madeira

OCTAVIO PASSOS/LUSA

Ainda antes do apito final de João Pinheiro, o olhar de Pizzi contava muito do que se passava no plantel do Benfica. O empate do FC Porto na Vila das Aves tinha sido aproveitado pelos encarnados com um triunfo fundamental em Vila do Conde mas de nada valeu essa benesse perante a primeira derrota de sempre na Luz com o Santa Clara, onde a equipa já não sofria quatro golos num jogo há mais de 20 anos. Pior: nunca as águias tinham estado cinco encontros consecutivos sem vencer em casa. Esse olhar vazio de Pizzi juntava-se a várias outras imagens que contavam mais do que um resultado: Ferro a passar a mão pela cabeça, Dyego Sousa com uma máscara de esforço, Vinícius com um ar incrédulo. Era um momento diferente. Uma má fase na Liga, o pior da era Bruno Lage.

Benfica perde frente ao Marítimo na Madeira por 2-0 e fica ainda mais longe do título

No dia seguinte, o dia L teve pouco de dia D. Aliás, Luís Filipe Vieira nem sequer chegou a reunir com o treinador para discutir uma possível saída datada no mais tardar para o final da temporada. Em contrapartida, houve uma parte importante para não tomar qualquer decisão (para já), além da falta de alternativas e do contexto no mínimo pouco convidativo para mexer entre Assembleias Gerais, impactos da pandemia, lançamento do obrigacionista ou eleições, em outubro – os jogadores assumiram a sua parte de culpa, não só em vários momentos que permitiram aos açorianos nova reviravolta no final mas também noutros resultados inesperados como os empates com Tondela e Portimonense. Mais: partilharam a sua crença na possibilidade de haver uma nova reviravolta na classificação. Apesar disso, o Benfica tinha duas vitórias nos últimos 12 jogos, nove a contar para o Campeonato.

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As imagens no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, e no Cristiano Ronaldo, na Madeira, apanharam sempre Vieira e Lage juntos a chefiar a comitiva mas essa imagem não valia as mil palavras do costume. O treinador que foi para a conferência de antevisão a fintar o futuro após dias e dias de manchetes com as possibilidades técnicas para os encarnados na próxima temporada tornou-se um homem mais só que acredita no processo.

“Vai ser um jogo muito importante para nós. O Marítimo tem uma excelente equipa, é um adversário complicado e temos de fazer um grande jogo”, destacou, mesmo com ausências de peso por castigo (Rúben Dias e Gabriel) e por lesão (Grimaldo e Taarabt). “Temos várias soluções para apresentar em campo”, assegurou, antes de abordar um problema mais concreto visível contra o Santa Clara: “A bola parada tem forças e fraquezas e evidenciam-se mais quando as coisas acontecem. É algo que temos trabalhado muito e há que preparar em função dos problemas que o adversário nos provoca. Temos trabalhado muito isso, mais que uma solução para defender um determinado lugar. O que se tem de fazer é esconder as fraquezas e potenciar as nossas virtudes e forças”.

Bruno Lage faz mea culpa (sem retirar as palavras da última conferência) e finta questões sobre o futuro

“A continuidade é trabalhar. Temos de ter consciência de que temos uma equipa muito competitiva, com muita gente disponível para querer ajudar. Todos querem ajudar. Nunca desisti de ninguém, nem do Adel [Taarabt], nem do Zivkovic… O Zivkovic aparece agora a dar sinais, além de perder peso teve uma reentrada muito positiva. Vê-se que está disponível, esteve praticamente um ano sem jogar e agora aparece com atitude. Sinto a equipa comigo, toda a gente disponível para ajudar. Se eu nunca desisti de ninguém, também não posso desistir de mim. O que posso prometer é trabalhar sempre da mesma forma, com dedicação e competência”, acrescentou ainda. Mais uma vez, a crença no processo. Na equipa, nos jogadores, no processo. No fundo, naquilo que antes da atual série negativa levou os encarnados a somarem 18 vitórias nos primeiros 19 encontros da presente temporada e que levou os encarnados a terem 55 pontos em 57 possíveis nas últimas 19 jornadas da última época.

No final, e numa imagem cruel do que fica dos 90 minutos, foi na aposta em Zivkovic e na incapacidade do sérvio travar uma arrancada de Nanú que começou a queda do Benfica para mais uma derrota frente a uma equipa insular que seria ainda aumentada em menos de cinco minutos (74′ e 78′). No entanto, da mesma forma como Bruno Lage falhou nas substituições, que queriam desfazer o nulo e acabaram por abrir caminho para o Marítimo surpreender, também é verdade que os primeiros 45 minutos foram os melhores desde a retoma, potenciando as forças de uma equipa remodelada com a fraquezas do adversário. Amir, por cinco ocasiões, evitou o golo dos encarnados que iam tentando de todas as formas. Depois, com o avançar do jogo, arriscou e perdeu. Mais uma vez.

Benfica de Bruno Lage sofreu seis golos nos dois últimos jogos com Santa Clara e Marítimo, tantos como em toda a primeira volta

Ficha de jogo

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Marítimo-Benfica, 2-0

29.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Marítimo, no Funchal

Árbitro: Hélder Malheiro (AF Lisboa)

Marítimo: Amir; Nanú, Zainadine, Kerkez, René Santos, Fábio China; Pelágio, Vukovic; Edgar Costa (Getterson, 68′), Correa (Joel Tagueu, 75′) e Rodrigo Pinho (Diego Moreno, 84′)

Suplentes não utilizados: Charles, Xadas, Mosquera, Jefferson Pessanha, Erivaldo e Felício

Treinador: José Gomes

Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Ferro, Jardel, Nuno Tavares; Samaris (Rafa, 58′), Weigl; Pizzi (Dyego Sousa, 73′), Chiquinho (Jota, 81′), Cervi (Zivkovic, 73′) e Carlos Vinícius (Seferovic, 58′)

Suplentes não utilizados: Svilar, Tomás Tavares, Florentino e Gonçalo Ramos

Treinador: Bruno Lage

Golos: Correa (74′) e Rodrigo Pinho (78′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a André Almeida (32′), China (46′), Kerkez (61′) e Rodrigo Pinho (64′)

Sem os lesionados Grimaldo e Taarabt nem os castigados Rúben Dias e Gabriel, Bruno Lage aproveitou para fazer uma mini revolução nas opções iniciais trocando cinco unidades em relação ao encontro com o Santa Clara: na defesa, Jardel recuperou de lesão e entrou para fazer dupla com Ferro; nos dois lugares mais posicionais do meio-campo, Samaris ocupou a vaga de Gabriel (sem que com isso cumprisse as mesmas funções ou movimentos); na frente, Chiquinho aproveitou a ausência do médio marroquino para regressar à titularidade a par de Cervi e Carlos Vinícius, que colocaram Rafa e Seferovic no banco. Muitas alterações que na teoria somavam mais segurança em posse e capacidade de choque mas que subtraíam a imprevisibilidade e a mobilidade nas ações ofensivas que o avançado internacional português consegue dar. No entanto, houve Chiquinho. Muito Chiquinho.

Logo aos três minutos, o médio que chegou esta época de volta à Luz vindo ao Moreirense surgiu no espaço entre a defesa e o guarda-redes para encostar um bom cruzamento de Nuno Tavares da esquerda mas Amir começou a abrir o livro com uma grande intervenção; pouco depois, recebendo em zona central e sem oposição a sair à bola, o médio arriscou a meia distância e o iraniano defendeu para a frente mais um lance de perigo. E ainda antes dos dez minutos iniciais houve também um livre direto de André Almeida por cima e um remate na esquerda de Cervi para mais uma intervenção de Amir. O Marítimo não existia e via apenas jogar uma equipa transfigurada não só na forma como abordou o encontro mas também na maneira como se dispunha e bem nas ações ofensivas, dando largura com os laterais e profundidade com Chiquinho no último terço, aproveitando bem os espaços entra lateral e central que os insulares deixavam em aberto e pressionando alto a condicionar a construção adversária.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Marítimo-Benfica em vídeo]

Até agora, Amir, a grande surpresa de José Gomes para o encontro com o Benfica, tinha como registo máximo num jogo da Primeira Liga oito defesas. Esta segunda-feira, com apenas 20 minutos jogados, já levava cinco, após nova intervenção impossível a um desvio na passada de Carlos Vinícius após cruzamento de Chiquinho que ganhou a profundidade nas costas da defesa insular antes da recarga de Pizzi na área para outra defesa para canto (17′). O Marítimo ainda teve um lance de perigo em que Nanú se vestiu de Maradona, fintou mais de meia equipa das águias em velocidade e o avançado Rodrigo Pinho marcou quando estava claramente adiantado em relação à defesa contrária (23′) mas, sem ter tantos remates, era o Benfica que dominava por completo o encontro perante um conjunto insular que ia tentando corrigir posições mas que continuava a deixar demasiados espaços em aberto na esquerda da defesa além de revelar uma pouco habitual falta de capacidade de sair em transições.

O intervalo chegava com o Benfica a esmagar por completo em termos estatísticos. Nos remates feitos, nos tiros enquadrados, na posse, nos cantos, nos duelos ganhos, na eficácia de passe. Em tudo menos naquilo que acaba por fazer sempre a diferença, os golos. Chiquinho, com um terço dos 24 ataques dos encarnados, era o elemento em destaque no conjunto de Bruno Lage que conseguiu explorar as debilidades defensivas dos insulares sobretudo pelo lado direito do ataque, por onde passaram metade das ações. E houve também um papel importante de Samaris, a estabilizar o corredor central, a gerir zonas de pressão e a proporcionar um Weigl a jogar mais subido e de forma mais segura para frente arriscando uns metros à frente do que é normal. Todavia, e devido a um grande Amir, o Benfica chegava pela sexta vez nos últimos sete jogos sem golos ao intervalo, abrindo a possibilidade a José Gomes de poder reorganizar a equipa em termos posicionais e ter uma outra entrada no segundo tempo.

Apesar das ligeiras melhorias no plano defensivo que ainda assim deixavam que Chiquinho e Pizzi tivessem espaço para criar oportunidades sem passe para o último toque, o Marítimo não conseguia sair em transição mas teve uma outra postura e capacidade para ter posse, sempre com Pelágio a destacar-se com e sem bola. O jogo não andava para a frente nem para trás e, de forma mais rápida do que é habitual, Bruno Lage arriscou a mais de meia de hora do fim: trocou Seferovic por Carlos Vinícius mas lançou também Rafa no lugar de Samaris, colocando Chiquinho mais como ‘8’ numa outra zona de construção perante uma equipa insular que, ao longo de 60 minutos, só tinha conseguido tocar uma vez na bola na área de Vlachodimos, um espetador sem bilhete no relvado.

À exceção de um desvio de Seferovic na área onde podia ter feito melhor, o Benfica ganhou pouco com as mexidas. Aliás, até ficou a perder tendo em conta a falta de protagonismo no corredor central. Não contente com o que se estava a passar, Lage voltou a mexer lançando Zivkovic e Dyego Sousa para os lugares de Pizzi e Cervi, voltando ao esquema habitual quando não está em vantagem de dois avançados mais fixos. Correu ainda pior e em menos de cinco minutos, quase de forma cruel perante um adversário que até parecia confortável com o empate, passou da quase vitória para a derrota certa: em duas arrancadas fantásticas de Nanú pela direita perante a passividade de Zivkovic, Nuno Tavares e Ferro, Correa (74′) e Rodrigo Pinho (78′) colocaram o Marítimo na frente por 2-0 – e só não foi pior porque Joel Tagueu, que aproveitou mais uma avenida, viu o seu golo anulado aos 90′.

Mais uma vez, o olhar de Pizzi no banco dizia tudo. Mas, desta vez, não era aquele olhar com que tinha acabado o jogo com o Santa Clara. E se aquele olhar falasse diria que a equipa pela qual marcou quase 30 golos na presente época, a melhor em termos pessoais da carreira, pode ter chegado a um fim de linha no Campeonato.

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