Mais do que nunca desde que assumiu o comando do Benfica, em janeiro de 2019, a conferência de imprensa de Bruno Lage na antecâmara da viagem dos encarnados à Madeira para jogar com o Marítimo tinha um contexto diferente de qualquer outro até agora. Ao longo de ano e meio, houve outros encontros com dados extra jogo, uns melhores e outros piores, mas nunca com a liderança no banco dos encarnados em causa e com uma frase que vinha ainda do discurso após a derrota com o Santa Clara e que nem por isso tinha deixado de ser notícia, quando o treinador questionou os jornalistas sobre quem pagava almoços, jantares e viagens pelo seu lugar.

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“Antes de responder, apenas duas considerações. A primeira é aproveitar o facto de estar aqui e felicitar um grande homem, um verdadeiro exemplo para mim, sério, honesto, trabalhador, que é o meu pai, que faz hoje anos. Estarei eternamente grato por me ter passado estes valores. Depois, e porque entendi que este era o local certo, foi em relação às minhas declarações. Lamento que tenha causado alguma confusão ou perturbação, nunca foi minha intenção ofender ninguém. Foram feitas em função de uma pergunta específica que se tem repetido. Nunca foi minha intenção, nunca tive problemas com árbitros, nem jornalistas, nem comentadores. Se ofendeu alguém, e parece que sim, peço desculpa e retrato-me pelo que se passou porque nunca foi minha intenção ofender a vossa classe, sei que querem o melhor para o futebol português como nós”, começou por dizer.

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“O jogo com o Marítimo é muito importante para nós, é um adversário muito complicado e temos de fazer um grande jogo. As opções só serão conhecidas antes do jogo mas temos muitas opções”, referiu depois, na resposta à primeira pergunta sobre o encontro na Madeira, também à luz dos castigos de Rúben Dias e Gabriel, que se juntam ainda às ausências confirmadas por lesão de outros elementos como Jardel ou Grimaldo.

Em termos desportivos, e depois de uma vitória em Vila do Conde que parecia aliviar um pouco a pressão em torno da equipa mas que teve logo de seguida um desaire com o Santa Clara que colocou a liderança, Bruno Lage passa a pior fase nos encarnados, com apenas dois triunfos nos últimos 12 jogos e vários recordes negativos atingidos (um exemplo: nunca o Benfica tinha estado cinco encontros seguidos sem ganhar na Luz, assim como não sofria quatro golos em casa desde 1997). “Há uma coisa muito clara: nunca, em ano e meio, comentei ou recordei o que tínhamos feito de bom e de positivo. Se há recorde que tenho na cabeça é este, que é negativo. Tenho perfeita consciência deste momento que atravessamos mas vamos continuar a lutar e a trabalhar, disputando este Campeonato que teve um reinício irregular para os dois primeiros e é isso que temos de fazer. Que fique muito claro uma coisa: aquilo que eu quero é o que os adeptos querem, a minha maior alegria aqui foi dar vitórias”, destacou.

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“Façam-me um favor: falem ao microfone, por causa da máscara ouve-se mal até lá em casa, assim é melhor para todos e percebo melhor”, disse de seguida Bruno Lage, antes de várias questões sobre o seu futuro no Benfica e os vários nomes que têm vindo a ser falados. “O que vai na minha cabeça é disputar o Campeonato até ao fim e vencer a Taça de Portugal. Lutar pelo Campeonato até ao fim e ganhar a Taça. Se me sinto a prazo? Não”, salientou. “Não sei como encaram a vida, a minha é encarada de forma positiva e é isso que está na minha cabeça”, acrescentou. “Proposta a Jesus? Não tenho nada a dizer sobre isso”, prosseguiu. “Ainda recentemente recebi uma mensagem de alguém que teve a carreira como o Jonas… Agradeço o que disse, também me marcou muito na minha carreira”, revelou. Ou seja, respostas curtas para o mesmo tipo de respostas, fintando uma mais do que provável saída do clube, antes de explicar também o regresso de Zivkovic à equipa, hoje com menos peso e com maior disponibilidade. “Se nunca desisti de ninguém, como o Adel [Taarabt], nunca vou desistir de mim”, referiu.

“Uma palavra também, aproveitando estar aqui, para as palavras do Sérgio Conceição esta manhã. Da mesma forma que ele não gosta de ver um colega mal tratado desta forma, até pela carreira que teve, sabe o que é esta vida, passou por essa situação e também não fiquei feliz. Aqui não há inimigos, há adversários. Um abraço para ele, não lhe desejo sorte porque a sorte dele não é a minha, mas um abraço para ele”, concluiu.