A polícia de Hong Kong dispersou esta quarta-feira com jatos de água pequenos grupos de manifestantes, que protestavam contra a adoção da nova lei de segurança nacional, segundo a agência de notícias francesa AFP.

Um camião, equipado com um canhão de água, disparou vários jatos que foram misturados com uma solução de pimenta irritante, atingindo repetidamente manifestantes e jornalistas, incluindo repórteres da AFP, que estavam reunidos em Causeway Bay, um distrito muito comercial da cidade.

Esta quarta-feira, uma grande força policial foi mobilizada pelas ruas de Hong Kong, dia em que se celebra o 23º aniversário da entrega do território, antes britânico, à China. O desfile em que a população de Hong Kong tradicionalmente participa neste dia foi, pela primeira vez, proibido pelas autoridades.

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A lei de segurança de Hong Kong, aprovada na terça-feira pela China, pune quatro tipos de crimes contra a segurança do Estado: atividade subversiva, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras. Este texto estabelece que a justiça chinesa tem jurisdição por violações “sérias” de segurança e prisão perpétua por crimes contra a segurança nacional.

Um homem encontrado na posse de uma bandeira a favor da independência de Hong Kong foi a primeira pessoa a ser detida sob a nova lei de segurança nacional, informou esta quarta-feira a polícia. Este transportava um cartaz com a palavra de ordem “independência para Hong Kong” escrita em chinês e inglês.

Ao todo já foram detidas 180 pessoas, entre as quais sete acusadas de transgressão à nova lei da segurança nacional, durante manifestações de protesto que juntaram milhares de pessoas.

Os manifestantes foram detidos “por participação em concentrações não autorizadas, perturbação da ordem pública, posse de ‘armas perigosas’, entre outras infrações”, referiu a polícia do território através da rede social Twitter. De acordo com a mesma mensagem, sete pessoas foram detidas por “alegadamente” terem violado a lei de segurança nacional.

O governo chinês disse também esta quarta-feira que a lei de segurança nacional de Hong Kong “fortalece a fórmula ‘um país, dois sistemas'”, além de garantir “prosperidade e estabilidade” na região semiautónoma.

A legislação é a segunda mais importante depois da Lei Básica [a miniconstituição da cidade], e é um marco na política do governo central em relação a Hong Kong”, apontou o vice-diretor do Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong, Zhang Xiaoming.

Zhang definiu o texto como uma “abordagem firme e flexível da situação na cidade” e considerou “normal que as pessoas em Hong Kong tenham dúvidas” sobre a lei, mas enfatizou que esta “fortalecerá claramente” o modelo de governação ‘um país, dois sistemas’, que garante a autonomia da cidade em relação à China continental.

O projeto de lei foi ratificado pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, um órgão submetido ao Partido Comunista Chinês (PCC), ignorando o Conselho Legislativo de Hong Kong.

Ativistas do movimento pró-democracia de Hong Kong consideram que a lei não respeita as liberdades garantidas à antiga colónia britânica e que a sua aprovação é o fim do princípio “um país, dois sistemas”, que rege as relações entre Hong Kong e a China continental.

A fórmula “um país, dois sistemas” foi usada em Macau e Hong Kong, após a transferência dos dois territórios para a China, por Portugal e pelo Reino Unido, respetivamente, e garante às duas regiões um elevado grau de autonomia a nível executivo, legislativo e judiciário.

Pela primeira vez os desfiles e manifestações de 1 de julho foram proibidos pelas autoridades.