“A fumaça preta ainda paira nos arredores da Gávea. A brincadeira feita pelo vice-presidente de futebol, Marcos Braz, nas redes sociais indica que segue a busca por um novo treinador para o Flamengo. Dois nomes estão em alta: o de Domènec Torrent, adjunto de Pep Guardiola, e o de Carlos Carvalhal, do Rio Ave, que está a um passo de fazer história em Portugal antes de negociar com os dirigentes rubro-negros. Antes, é preciso explicar. Carvalhal já conversou com Marcos Braz e Bruno Spindel, diretor de futebol do Flamengo, por videoconferência e, se tudo der certo, uma reunião de forma pessoal acontecerá neste domingo — mas podendo ser adiada para a próxima semana caso o cronograma mude. Uma das possibilidades da mudança de roteiro é a chance de o Rio Ave fazer história”.
O último fim de semana de Campeonato tinha três grandes decisões em aberto: o terceiro lugar, discutido agora por Sporting e Sp. Braga; a permanência, com Portimonense, V. Setúbal e Tondela na luta; e a quinta posição, entre o Rio Ave e o Famalicão com os últimos a terem um ponto de vantagem antes desta jornada. O estranho, ou pelo menos o que não se estava à espera, era que a Globo escrevesse sobre essa luta particular na Primeira Liga. Como em tanta coisa no futebol, é o efeito dominó: o Benfica foi resgatar Jorge Jesus ao Flamengo, o Flamengo gostava de poder manter um treinador português nos seus quadros, Leonardo Jardim recusou uma abordagem inicial, Carlos Carvalhal surge com um perfil que agrada aos dirigentes. Até por isso, não só o que podia fazer hoje mas também o que já fez no passado tornou-se notícia de destaque no Brasil e com amplo destaque.
“Carvalhal tem a chance de levar o clube à disputa de um torneio continental. O Rio Ave está na sexta colocação do Campeonato português e, para conseguir a vaga, precisa vencer o Boavista, fora de casa, e torcer para o Famalicão não vencer o Marítimo, também fora de seus domínios. Cabe lembrar que Carvalhal já conquistou outro recordes com esta equipa, como a maior invencibilidade da história do clube no Campeonato (nove jogos) e a maior quantidade de pontos conquistados como visitante”, acrescentou. Também o Globoesporte escreveu sobre o técnico, recordando as passagens de Nuno Espírito Santo e Pedro Martins pelos vila-condenses.
“Esta foi a melhor época em termos pontuais do Rio Ave na Liga e com alguns outros recordes na invencibilidade em nove jogos ou no maior número de pontos conquistados fora. Mas, mais do que os números, o que marcou esta época foi a qualidade de jogo, que foi subindo até atingirmos um nível de maturidade enorme. Temos um jogo ainda para disputar e aumentar esse registo histórico. Só posso fazer um saldo fantástico do que foi atingido até ao momento”, destacou o técnico na conferência de antevisão ao encontro no Bessa, acrescentando ainda que, se não fossem as lesões que lhe retiraram alguns jogos, Taremi podia estar a disputar o título de melhor marcador com uma vantagem mais confortável, em vez de “igualar” apenas Pizzi como aconteceu com o bis no Bessa.
“O Rio Ave foi sempre uma equipa que se bateu cara a cara com qualquer adversário e esperamos acabar da melhor forma. O Boavista é um adversário difícil, que merecia mais pontos do que conseguiu nos últimos jogos. É sempre difícil jogar no Bessa mas é também um estímulo. Espero um jogo disputado mas onde vamos tentar a vitória que desejamos. E quero dar os parabéns ao Daniel Ramos pelo ótimo trabalho que fez na transformação da equipa”, salientou. No final, foi Daniel Ramos que lhe deu os parabéns. E se o Famalicão falhou na Madeira frente ao Marítimo, o Rio Ave não perdoou no Bessa, vencendo o Boavista por 2-0 e terminando uma temporada a todos os níveis histórica com um quinto lugar que coloca a equipa de regresso às competições europeias.
O encontro começou da melhor forma para o Rio Ave. Pelas notícias que vinham da Madeira, com o Marítimo em vantagem logo a abrir (uma informação que não demorou a chegar ao banco dos vila-condenses), e pelas notícias que surgiam junto do totalista Kieszek, que viu Cassiano desviar pouco ao lado ao primeiro poste um livre lateral marcado na esquerda e travou depois com uma grande defesa um remate de fora da área de Gustavo Sauer. O jogo estava vivo, estava intenso, estava com oportunidades repartidas e estava a pedir um golo que não tardou a surgir: já depois de um tiro fortíssimo que passou perto do poste de Helton Leite, Taremi aproveitou uma bola prensada na defesa contrária para ficar sozinho na área e rematar sem hipóteses para o golo inaugural (16′). O Boavista teve uma reação positiva, não perdendo a oportunidade de chegar ao último terço contrário em busca do empate, mas o 1-0 iria manter-se até ao intervalo, que chegou com a informação do empate do Famalicão na Madeira que deixava na mesma os visitantes na quinta posição e em posição europeia para a próxima época.
No segundo tempo, que começou com um atraso de alguns minutos para que houvesse o mesmo arranque nos dois jogos que decidiam a última vaga europeia, o Marítimo voltou a adiantar-se no marcador frente ao Famalicão, o que deixou o antigo capitão e hoje diretor André Villas-Boas a sorrir ao olhar para o telemóvel mas sem partilhar a informação com muita gente, e o Boavista foi forçando em termos ofensivos para tentar chegar ao empate, sendo que a oportunidade mais flagrante acabou por ser desperdiçada por Taremi que, isolado por Nuno Santos, rematou para grande defesa de Helton Leite que evitou também que o iraniano entrasse mais a sério na luta pelo melhor marcador do Campeonato. Não foi aí, foi mais tarde e na sequência de um erro infantil da defesa axadrezada: Lucas Possignolo deixou a bola passar para o guarda-redes, calculou mal o lance e Taremi aumentou para 2-0 (84′), igualando Pizzi como artilheiro da competição antes de o médio entrar em campo para o dérbi.
Os ouvidos estavam todos concentrados na Madeira porque no Bessa o assunto estava tratado. Em cinco minutos, a euforia transformou-se em desilusão, os descontos trouxeram a festa exuberante: o Famalicão conseguiu dar a volta, colocou-se em vantagem, o Rio Ave ficava fora da Europa mas, ao quinto minuto de descontos, o Marítimo ainda conseguiu empatar e os vila-condenses ficaram no relvado à espera antes da confirmação do prémio que chegou em momentos impróprios para cardíacos: o 3-3 na Madeira valeu mesmo a Europa para o Rio Ave.