Espanha pode estar à beira de uma segunda onda de Covid-19, depois de os números de contágios terem duplicado da semana passada para esta que agora termina. A evolução obrigou algumas regiões a recuar no desconfinamento e levanta dúvidas nos países que até aqui não desaconselharam que os seus cidadãos viajassem para solo espanhol.

Os número avançam a um ritmo preocupante. Na semana entre 9 e 16 de julho, o país registou um total de 5.128 novos casos. Porém, na semana seguinte, de 16 a 23 deste mês, o número de novos contágios fixou-se nos 10.220. Esta informação foi divulgada no briefing semanal das autoridades espanholas e deixou claro aquilo que os valores conhecidos a conta-gotas para cada uma das 17 autonomias espanholas já sugeria: Espanha pode estar à beira de uma segunda onda.

O caso mais preocupante será o da Catalunha, que ainda este domingo identificou 886 novos casos positivos de Covid-19 —  elevando para 90.613 os casos naquela comunidade autónoma onde vivem cerca de 7,6 milhões de pessoas. Na última semana, a Catalunha deu conta de 7.737 novos casos. 

“Pode tratar-se de uma segunda onda”, admitiu María José Sierra, do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias do Ministério da Saúde, esta sexta-feira. “Obviamente que estamos com uma curva em ascensão. Se os maiores surtos forem controlados de forma rápida, podemos ter uma situação mais contida.”

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María José Sierra referiu ainda que “50% dos casos são assintomáticos” e reconheceu que, além dos surtos identificados, há transmissão comunitária em três sítios: em Saragoça, na comunidade de Aragão; além de Barcelona e Lleida, ambas na Catalunha.

Para já, a mensagem do governo de Pedro Sánchez é a de que a situação é estável. Ao ABC, fontes do governo dizem que “a situação está sob controlo”. Porém, perante os números anunciados ao longo desta semana que passou, vários países europeus começara a repensar as regras de viagem dos seus cidadãos para Espanha.

Países europeus fecham-se a Espanha

A subida súbita de casos em Espanha (que durante o pico da pandemia na Europa chegou a ser, a par da Itália, o epicentro de Covid-19 no continente) levou à tomada de medidas imediatas por parte de alguns países que, até agora, não colocavam nenhuma restrição aos seus cidadãos no que tocava a viagens ao país.

A imagem de uma Espanha segura começou a ruir na sexta-feira, quando o primeiro-ministro de França, Jean Castex pediu aos seus cidadãos que não viajassem para a Catalunha — comunidade à qual, mais tarde, as autoridades francesas viriam a acrescentar a de Aragão. “Recomendamos vivamente aos franceses que evitem deslocar [à Catalunha] enquanto a situação sanitária não melhorar”, disse Jean Castex.

Depois de França, também a Bélgica anunciou que estavam proibidas as viagens dos seus cidadão a duas cidades (a catalã Lleida e aragonesa Huesca), além de desaconselhar as viagens a cinco comunidades: Aragão, Catalunha, Estremadura, La Rioja e País Basco. Nestes últimos cinco casos, quem chegar à Bélgica vindo destes destinos terá de fazer quarentena. A Noruega também viria a tomar a mesma medida, mas aplicada a todo o país — e a partir daqui vai pedir a todos os que cheguem vindos de Espanha que façam uma quarentena de 10 dias.

O maior golpe, porém, foi dado a partir de Londres. Este sábado, perante a subida dos números em Espanha, o governo britânico decidiu desaconselhar as viagens àquele país — atualizando assim, de forma imprevista, a “lista vermelha” que divulgou na sexta-feira, que será renovada uma vez por semana e da qual Portugal ainda não conseguiu sair.

A medida foi tão imprevista que apanhou desprevenido o próprio ministro dos Transportes do Reino Unido, Grant Shapps, que tem a cargo a elaboração e o anúncio da lista vermelha em causa. Depois de ter anunciado a continuidade de Portugal nessa lista na sexta-feira, Grant Shapps fez as malas para, na manhã de sábado, iniciar as suas férias em família em Espanha.

Lá chegado, e com o consentimento do ministro, o governo britânico decidiu atualizar extemporaneamente a lista, obrigando assim o Shapps e a sua família a fazerem uma quarentena de 14 dias à chegada, sob pena de ser multado em mil libras (1.097 euros).

A ministra dos Negócios Estrangeiros de Espanha, Arrancha González Laya, procurou defender a situação no seu país dizendo este domingo que os surtos identificados “estão controlados”.

“Espanha é um país seguro. Tal como os outros países europeus, Espanha tem surtos. Isto não é invulgar. O mais importante é que Espanha está a fazer um grande esforço para controlar estes surtos”, disse a ministra. “Isto não é um jogo diplomático, é uma resposta que tem de ter como objetivo uma resposta sanitária segundo os dados epidemiológicos.”